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A velha história se abateu sobre Anna: ela se apaixonou por um amante proibido pela sua família e decide fugir junto com ele. Seu amado combina encontrá-la em um mosteiro onde ela pode se refugiar de sua família. Mas, seus planos fracassam quando ela descobre a pouca virtude de seu amado e é colocada nas mãos de uma terrível abadessa.

Ah, a sina dos amores nunca realizados. Este pequeno conto talvez seja um dos mais antigos a utilizarem a imagem de uma freira como símbolo de uma maldição a afetar aqueles que a fizeram mal. Apesar de que este conto vai se debruçar mais em uma imagem de virtude com um tom bastante moralista no final. Horsley nos mostra uma narrativa bem aterrorizante para a época e não poupa nada em suas linhas. A protagonista sofre terríveis aflições, o que pode ter feito o conto ter sido um dos mais pungentes à época. É uma narrativa curtinha, mas que me surpreendeu bastante na maneira como o autor vai empilhando os fatos um após o outro.


Estamos diante de Anna, uma infeliz e iludida jovem que se apaixona pelo homem errado. Sua família já havia planejado seu casamento com um nobre de uma família próxima a eles, mas Anna foi enredada por um jovem galanteador que lhe fez promessas impossíveis de amor eterno. Mal sabia ela que o homem era apenas um deflorador de mulheres. Em seus encontros às escondidas, a jovem Anna perdeu sua virtude e agora não desejava nada senão fugir da opressão de seus pais que não querem entender os sentimentos profundos de seu coração. Após planejarem sua fuga secreta, Anna sai em disparada para o mosteiro de Santa Catarina onde inventa uma história sobre pais agressores para a abadessa, uma rigorosa mulher que a acolhe, mas com várias dúvidas acerca de sua conduta. Os dias se passam e nada de seu amado aparecer nas portas do mosteiro e quando o barão, seu pai, aparece com seus homens à porta do mosteiro, a abadessa se irrita com a jovem tola e a obriga a se tornar uma freira para escapar das garras de seu pai. Mal sabe a abadessa que um estrago foi feito. E Anna poderá viver mais do que o simples pavor de ser repreendida por seu pai.


Como disse, essa história me surpreendeu mais do que eu esperava nos tons de terror que Horsley emprega em suas linhas. Vamos pensar que ele submete uma jovem garota, grávida e que acaba de se tornar uma freira a torturas incessantes e diárias. Não há pena aqui e a jovem vê seu futuro indo por água abaixo com o desespero do que ela fez e precisou aceitar. O leitor se conscientiza de que, ao entrar no mosteiro, a vida de Anna foi para o espaço. Na minha visão, esse é um conto cautelar, até porque assume um caráter moralista em que ele culpa Anna por todos os horrores que lhe foram submetidos. Quase como um "se ela não tivesse desobedecido os pais, teria sido feliz". Isso fica bem claro. O horror é um horror social, de ser repreendida pelos seus pares e causar transtorno aos seus familiares. A escrita de Horsley é bem precisa e, assim como vamos ver em outros contos góticos, é uma daquelas narrativas cujo narrador soube dessa história por outros meios. Ou recebeu uma carta; ou encontrou um diário; ou alguém lhe contou. A ideia é dar um ar de veracidade ao que está sendo posto na história. A Freira Sangrenta do Mosteiro de Santa Catarina é uma rápida história com um final surpreendente.










Ficha Técnica:


Nome: A Freira Sangrenta do Mosteiro de Santa Catarina

Autor: T.I. Horsley Curtis

Compõe a coleção Raridades do Conto Gótico vol. 4

Editora: Sebo Clepsidra

Tradutor: Carlos Primati

Ano de Publicação: 2021


Avaliação:


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Raquel possui uma condição peculiar: ela é capaz de experimentar sonhos lúcidos que possuem uma materialidade impressionante. Enquanto ela cresce precisando se acostumar com isso, seu irmão faz parte de uma empresa que busca desenvolver uma tecnologia capaz de criar um mundo virtual em que as pessoas possam interagir de uma forma bastante realista.


Sinopse:


Raquel é uma moça comum, de uma pequena cidade, que começa a experimentar sonhos bastante vívidos e significativamente interativos. Procura por ajuda médica em uma cidade maior, onde seu irmão Miguel trabalha em uma firma que desenvolve tecnologias de informática, que pertence a Rodrigo, um gênio da computação e dos negócios. Suas vidas acabarão por se entrelaçar de uma forma absolutamente inimaginável. Esta é uma história dinâmica, que se alterna entre os mundos real e virtual, com desfechos surpreendentes e implicações futuras. Pode ser enquadrada como ficção científica, embora apresente muitos conceitos que já são reais ou que estão em vias de o ser.






O conceito de sonhos lúcidos sempre permeou as nossas imaginações. Aqueles de nós que são capazes de interagir com mundos fantásticos enquanto estão se recuperando de um dia de trabalho. Lugares onde as fronteiras do possível e do impossível se dobram diante de um algo incognoscível. Vários psicólogos e neurologistas já buscaram explicações ou entender o que provoca isso em nossas mentes. Ao mesmo tempo caminhamos para um futuro onde interagir com um segundo mundo virtual se torna cada vez mais possível. Graças aos MMORPGs, aos universos das redes sociais e até ao desenvolvimento de tecnologias de realidade virtual vem se tornado corriqueiros. Ricardo Figueiredo mescla essas duas ideias em uma narrativa provocadora que brinca com conceitos e se situa em alguma classificação cinza entre a realidade e a ficção científica.


Começamos a história com Raquel que aparece em uma cena curiosa. Ela está perdida em um lugar desolado que, quando ela caminha rumo a algum lugar habitado, descobre estar em alguma espécie de templo ou claustro. Uma imagem fica fixa em sua cabeça: um homem fazendo gestos nas mãos como se guiasse peixes dentro de um aquário. E a partir deste estranho capítulo inicial que conhecemos a condição estranha de Raquel que tem esses sonhos estranhos a qualquer momento do dia. Um fenômeno que pode acontecer sem aviso, repentinamente. Seu irmão Miguel sabe da situação de Raquel, mas cai sempre naquela ideia pré-concebida de que isso pode ser uma doença ou apenas stress relacionado a alguma situação de sua vida. Anos mais tarde vemos Miguel trabalhando na empresa de Rodrigo, um empresário da tecnologia bem sucedido cujo novo projeto pode revolucionar tudo o que conhecemos sobre as interações no mundo digital. Um projeto guardado a sete chaves, mas cujo desenvolvimento tem esbarrado em alguns obstáculos inesperados. Como a vida de Raquel e Rodrigo vão se cruzar? e como isso pode mudar o mundo como o conhecemos?


Essa é uma daquelas resenhas que eu gosto de fazer. Não por ser necessariamente de um livro revolucionário, que vai mudar toda a realidade de como pensamos ficção ou algo do gênero. Mas é onde consigo ser realmente útil e levar algo não apenas aos leitores como ao próprio escritor. Antes de mais nada gostei da ideia básica por trás da história. Sonhos lúcidos e realidade virtual tem tudo a ver (até me perdoem se eu estiver usando uma nomenclatura fora de moda para realidade virtual). E a maneira como o autor conecta essas duas ideias é diferente. Nada que já não tenha sido pensado antes, mas sempre é a maneira como o autor aborda suas ideias que as tornam criativas. No tocante ao aspecto escrito, a narrativa pula entre dois pontos de vista: o de Raquel e o de Rodrigo, com alguns momentos pegando Miguel como observador. Ou seja, é uma narrativa em terceira pessoa com a visão acoplada nos ombros de um personagem. Os elementos de enredo vão sendo descobertos junto dos personagens. Em vários momentos ficamos confusos com algum desdobramento, mas isso é natural porque a ideia é que o enredo seja construído de forma paulatina. E o autor emprega o expediente de dar uma rasteira vez ou outra para que nossas certezas sejam bagunçadas por algum novo elemento inserido na trama.


Nos aspectos editoriais, preciso destacar um ponto importante: autores, não pulem as etapas editoriais. Como alguém que compartilha suas impressões sobre livros há quase dez anos, entendo o quanto investir em leitor beta, revisão, copidesque pode encarecer o sonho de publicar um livro. Só que são etapas essenciais para um livro. E O Aquário na Janela tem muitos problemas editoriais. A quantidade de erros presentes no livro me assustou bastante. De erros ortográficos a esquecimentos de pontuação. E isso quebra a concentração na leitura. Atrapalha muito. Quando são poucos, eles acabam passando e é muito mais aquele trabalho de catar piolho; mas isso não é o caso aqui. Não conheço a editora que publicou o livro, mas isto também pesa na conta da editora que permite que um trabalho seja publicado dessa forma. É deixar o autor à revelia das críticas. Não proteger aquele que está sendo publicado dentro do selo editorial.


Quando o texto se foca nos aspectos mais gerais da trama e adota um tom mais narrativo, o encadeamento de palavras é muito bom. Isso oferece uma fluidez ao que está sendo lido. É possível ler o livro em uma tarde porque os capítulos são curtos e a trama progride bem rápido. Em um texto, não costumo gostar de materiais que se fundamentam mais em diálogos de uma linha. Isso me incomoda porque é uma tentativa do autor de reproduzir uma conversa real. O autor norte-americano Jeff Vandermeer em seu livro Wonderbook aponta que esse hábito é bastante comum em alguns autores e nunca funciona como o desejado. Isso se dá porque em uma conversa entre duas pessoas, as conversas não se dão uma frase após a outra. Falamos por cima do outro, divagamos, mudamos de assunto com facilidade, usamos o gestual para nos comunicarmos. Uma dica que sempre dou é que, se é possível trocar uma fala por uma descrição de fala, isso contribui muito mais para a fluidez e a compreensão. Melhor do que você dizer:


"Pedro, você vai no médico?"

"Sim, eu vou."


É usar dessa forma:


"Seu amigo pergunta se ele pretende ir ao médico e Pedro confirma afirmativamente, para alívio dele."


Novamente, isso é uma preferência minha e vários autores que curto também defendem essa ideia. De certa forma isso pode poluir o seu texto e impedir que você trate de outros temas que são mais relevantes para o aprofundamento do enredo.


A narrativa vai sendo apresentada bem aos poucos para os leitores e somos deixados em uma cortina de mistério por boa parte da narrativa. O que é possível perceber, sem dar spoiler, é que o autor nos coloca em um techno thriller onde um dos protagonistas precisa resolver um problema em seu projeto e acaba se deparando com uma situação inesperada e que abre sua mente para outras possibilidades. O que acabei não entendendo foi a opção do autor em dividir o livro em mais de uma parte. Para mim, ele poderia ter fechado a sua ideia em um livro só ao invés de buscar uma série, duologia ou trilogia. O livro é pequeno e não há a necessidade de expandir além disso. Existe uma economia literária hoje em que algo só é validado se tiver mais de um livro, o que não é verdade. Acho que provoca o efeito contrário no leitor, afastando-o. O efeito do gancho e da curiosidade só vai acontecer se o livro fechar em uma situação bastante climática que nos deixa roendo as unhas e imaginando o que pode acontecer a seguir. Tal não é o caso. O autor até busca criar um momento tenso nos dois capítulos finais, mas isso não se converte em um gancho efetivo. O final é quase como uma abertura de caminhos para a trama em um momento até mais sereno com a tensão estando presente na falha no projeto. Mas, isso em nada significou para os dois protagonistas que mais tomaram uma decisão do que aconteceu algo marcante com eles. Livros one-shot são mais eficientes em ficção científica do que séries. Um autor com uma pegada semelhante de enredo ao de O Aquário na Janela é Cory Doctorow que quase sempre mescla temas atuais com ficção especulativa. E a grossa maioria de seus livros são volumes únicos.


Costumo imaginar a mim mesmo como um leitor orientado a tramas que trabalham personagens e seus problemas e expectativas. Até curto uma boa construção de mundo, mas são os personagens que dão vida a uma história. A trama do livro é muito orientada para a história em si. Embora o autor toque em alguns dilemas dos personagens, estes acabam bastante superficiais. O leitor precisa se apegar aos personagens ou a trama precisa ser tão bem construída que acabamos por não se importar tanto com os personagens, bastando eles serem modelos estereotípicos (apesar de isso poder configurar uma bela de uma crítica). Aqui, o autor se concentrou demais na narrativa e nas discussões tecnológicas sobre seu desenvolvimento. Alguns capítulos são bem pesados nesse sentido, o que pode agradar aos que curtem esse debate. Por exemplo, algo que me desagradou bastante foi o salto temporal brusco que a narrativa sofre logo no começo do livro. Não ficamos sabendo como Raquel fez para se acostumar com o seu problema. Ele fica de lado e a personagem só aparece um pouco mais à frente, próxima do momento em que ela e Rodrigo se encontram. Apesar de o autor mostrar um pouco da vida solitária de Rodrigo, ela parece estranha quando subitamente ele se apaixona pela protagonista. Tudo apressado demais para que a história pudesse ser acelerada. Era possível pisar no freio e trabalhar o relacionamento dos dois ao mesmo tempo em que os dilemas da pesquisa de Rodrigo vão surgindo e precisando ser dribladas com pesquisa e raciocínio. Isso poderia ter dado uma riqueza maior ao livro.


No fim das contas, o livro me apresentou mais um autor bacana ao qual vou ficar atento aos seus próximos lançamentos. Gostaria depois de saber como a história vai terminar porque senti boas ideias sendo apresentadas aqui. Mas, sugiro ao autor fazer uma revisão atenta ao material para apresentar algo bacana para seus leitores e repensar algumas de suas escolhas narrativas. O livro certamente tem boas ideias em um assunto que sempre desperta nossa curiosidade.











Ficha Técnica:


Nome: O Aquário na Janela

Autor: Ricardo Figueiredo

Editora: Primeiro Capítulo

Número de Páginas: 129

Ano de Publicação: 2024


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*Material recebido em parceria com o autor

















Uma vila não tão pacata da Escócia é visitada por Dylan Dog que é contratado para investigar um desaparecimento, que se torna um assassinato assim que ele chega ao local. Mas, Port Frost esconde segredos misteriosos que poderão levar nosso protagonista ao inferno.


Sinopse:


Fiona pede a Dylan Dog que investigue o homicídio da sua amiga Molly, em Port Frost. Molly era criticada pelos moradores do local por seu comportamento por demais desenvolto e desinibido. Ao chegar ao povoado irlandês, no litoral, sobre o qual paira uma antiga lenda, o Investigador do Pesadelo se dá conta do alucinante clima de ódio que logo desembocará num evento catastrófico. Uma trama que leva Dylan e Fiona a confrontar as razões do Mal que se aninha nas profundezas do coração dos homens.






Uma bela história que trata do tema do mal que se esconde no coração dos homens. Sempre procuramos entender o que leva uma pessoa a cometer atos malignos. Será uma maldição, uma tendência, um instinto primitivo? Algumas pessoas que consideramos incapazes de realizar determinadas ações podem nos surpreender subitamente em um átimo de fúria. O mal pode estar travestido de inúmeras formas e mesmo o mero sentimento de esperança pode ser uma armadilha daquilo que nos quer tirar do caminho do bem. Ratigher faz um exame minucioso nos levando a uma pequena cidade escocesa que parece afetada por alguma coisa que altera o coração das pessoas. Ou será mesmo? Em um local onde aqueles que não se sentem parte dali acabam sendo rechaçados e ostracizados pelos outros. Essa é uma daquelas edições marcantes das histórias do investigador do pesadelo onde o pesadelo é bem real mesmo.


A narrativa começa com Fiona indo procurar Dylan Dog em Craven Road para contratá-lo. Sua amiga Megan desapareceu misteriosamente em Port Frost. Megan era sua melhor amiga e alguém que queria sair dali de qualquer forma. Uma linda mulher que atraía os olhares dos homens e acabou sendo alvo de suas luxúrias. Fiona acredita que alguém com quem Megan se envolveu pode ser o responsável por seu desaparecimento. A princípio, Dylan não deseja aceitar o caso porque entende que isso não é um caso para alguém que lida com o sobrenatural. Mas, sabemos como o Old Boy tem um fraco para mulheres atraentes, certo? Ao chegar em Port Frost, eles se deparam com o enterro de Megan que foi encontrada morta, vítima de algum ataque enfurecido de alguém. À medida em que Dylan permanece na aldeia, ele percebe que existe uma hostilidade inerente em seus moradores, algo que parece tomar suas consciências momentaneamente. Um velho marinheiro alerta Dylan de que ele tem que ir embora logo! Quem terá matado Megan e o que está provocando a ira dessas pessoas?


"Como se pode dizer algo sensato diante de um sol que se apaga? A noite é escura e vazia, e tudo o que podemos fazer pra ficar melhor é conversar, esperando que o som da nossa voz nos faça sentir menos sós."

A arte dessa edição está belíssima. Alessando Baggi tem uma noção de espaço que é um negócio incrível. Apesar de ele empregar uma quadrinização padrão, parece que suas cenas crescem. Tudo parece mais amplo. Mesmo assim, ele ainda nos entrega alguns quadros maravilhosos como o da escadaria dos gigantes, um acidente natural presente em Port Frost ou nos demais quadros mais para a segunda metade da história. Seu trabalho em preto e branco também está perfeito, com o leitor podendo conferir isso logo nas páginas iniciais em que ele desenha uma boia afundando no oceano. Percebam os detalhes de silhueta, de sombras e o jogo de luzes para empregar o branco no cenário. Seu design de personagens é acima da média e nos quadros em que aparecem múltiplos personagens, conseguimos perceber como ele não emprega o mesmo modelo de personagem. Os cenários de fundo são bem preenchidos, vide o escritório de Dylan com vários artefatos e livros ao fundo ou o simples quarto de Fiona com várias decorações (sem falar na bagunça insana da casa).

O roteiro de Ratigher é bastante filosófico no que diz respeito à natureza do mal. É uma daquelas histórias do Dylan que o leitor só compreende por inteiro em uma segunda leitura. Aliás, o personagem nesta edição tem um bom contraste na forma de Fiona. Enquanto Dylan é mais experiente no sentido de que ele já teve mais encontros com o mal, o que o tornou alguém mais fleumático e reflexivo nesse assunto, Fiona tem uma visão reta e direta, do confronto e enfrentamento. Só que essa abordagem nem sempre é a melhor porque ela acaba nos levando a ações impulsivas que podem nos colocar mais facilmente na mira do mal. O que nos parece certo em um primeiro momento precisa ser entendido em seu contexto para que não cometamos enganos. Gosto de pensar que Ratigher nos entregou uma história que possui inúmeras camadas interpretativas e cujas respostas não são as mais simples possíveis. As escolhas que Dylan faz são as corretas em determinadas ocasiões, e mesmo seus chutes são precisos. Escolhas que talvez não fizéssemos. Iríamos adotar a abordagem de Fiona e nos arrepender depois.


A propósito, Fiona não é uma personagem de fácil compreensão. Pensamos que ela é apenas uma amiga preocupada com o desaparecimento de sua companheira, mas pouco a pouco percebemos que ela possui sentimentos conflitantes. Como o flerte inicial dela com Dylan, uma tentativa de entender se ela possui o mesmo sex appeal de sua amiga. Por sinal, uma cena extremamente sensual criada por Baggi. Voltando a ela, Fiona é uma mulher real: com suas qualidades e defeitos. Ela não é um estereótipo criado apenas para tocar a trama. Tem um momento onde ela fere a mão em que a gente é levado por um caminho até que a narrativa nos mostra que não é bem assim. Ou seja, Fiona é uma personagem não confiável, no sentido daquilo que, em literatura, chamamos de narrador não confiável. Não se pode confiar integralmente naquilo que ela está contando. Em uma segunda leitura, percebi o quanto Fiona não contou para Dylan. É nessas ausências que a narrativa ganha muito mais corpo.

Falando na narrativa ela tem um quê de Edgar Allan Poe. Ao explorar o coração das pessoas, Ratigher faz com que a gente observe o local onde a história se passa com mais atenção. Os olhares nervosos, as ações que acontecem no fundo das cenas. Mesmo alguma situação colocada ao fundo, ou em um quadro que parece ter sido inserido ali por acaso tem importância para o desenrolar da narrativa. Há uma progressão na essência do mal que permeia Port Frost. O que começa como um olhar torto, um comentário fofocado com o vizinho, se transforma em uma hostilidade aparente que redunda em uma briga de bar, em uma pichação maldosa na parede ou em uma criança agredindo outra sem uma razão aparente. Até Fiona tem seus sentimentos exacerbados já que ela deseja que Dylan permaneça no local para tentar descobrir o que de fato aconteceu com sua amiga. É uma progressão mesmo e Ratigher vai mantendo a atenção do leitor nesse crescendo. Nesse sentido, a narrativa é muito bem pensada à medida em que as preocupações vão se alterando com o passar do tempo. Começa como uma investigação de assassinato, depois vai para uma coleta de informações para entender se Dylan é necessário ali e ao final já é uma questão de sobrevivência mesmo.


O elemento sobrenatural é bem introduzido por Ratigher. E, como em qualquer história que vai versar sobre o espírito humano, o mal não chega a ser palpável. Não é algo sólido, que pode ser derrotado. É como contar sobre a história da caixa de Pandora. A gente não pode dar um soco na Pandora por tentar abrir a caixa. Aproveita-se uma lenda local, que é baseada na vida real (a lenda por trás da escadaria de gigantes realmente existe, só não com aquela conotação no final) e o autor criou em cima disso. A maneira como ele expõe a maneira como um fenômeno natural afeta a consciência das pessoas é sensacional porque quando as coisas começam de fato a acontecer, o terror que sentimos é bem maior. Isso acontece com o leitor que realmente se engajou com o que lhe foi entregue desde o começo da história. O fantasioso se torna verossímil e a nossa descrença é suspensa por alguns momentos. Por esse motivo, o clímax se torna tão impactante, porque é uma consequência de tudo o que foi construído ao longo da narrativa.


Parece brincadeira que eu diga isso quase sempre, mas essa edição é mais uma daquelas melhores histórias do personagem. Impactante, surpreendente e com um ótimo aproveitamento de roteiro. Não conhecia o trabalho do Ratigher e já me tornei fã de carteirinha. Sem mencionar na arte de Alessandro Baggi. Parece covardia que a Sergio Bonelli tenha tantos artistas virtuosos assim. Tem uma arte de página inteira do Dylan que é um negócio assustador ao mesmo tempo em que é belo. Só posso aplaudir mais uma edição que me faz pensar o quanto fiz bem em começar a acompanhar as histórias do Dylan. Sempre tem alguma coisa legal ou inovadora em suas histórias.












Ficha Técnica:


Nome: Dylan Dog Nova Série vol. 13 - No Coração do Mal

Autor: Ratigher

Artista: Alessandro Baggi

Editora: Mythos

Tradutor: Julio Schneider

Número de Páginas: 100

Ano de Publicação: 2020


Outros Volumes:

Vol. 1 Vol. 6 Vol. 11

Vol. 2 Vol. 7 Vol. 12

Vol. 4 Vol. 9

Vol. 5 Vol. 10








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Conversa aberta. Uma mensagem lida. Pular para o conteúdo Como usar o Gmail com leitores de tela 2 de 18 Fwd: Parceria publicitária no ficcoeshumanas.com.br Caixa de entrada Ficções Humanas Anexossex., 14 de out. 13:41 (há 5 dias) para mim Traduzir mensagem Desativar para: inglês ---------- Forwarded message --------- De: Pedro Serrão Date: sex, 14 de out de 2022 13:03 Subject: Re: Parceria publicitária no ficcoeshumanas.com.br To: Ficções Humanas Olá Paulo Tudo bem? Segue em anexo o código do anúncio para colocar no portal. API Link para seguir a campanha: https://api.clevernt.com/0113f75c-4bd9-11ed-a592-cabfa2a5a2de/ Para implementar a publicidade basta seguir os seguintes passos: 1. copie o código que envio em anexo 2. edite o seu footer 3. procure por 4. cole o código antes do último no final da sua page source. 4. Guarde e verifique a publicidade a funcionar :) Se o website for feito em wordpress, estas são as etapas alternativas: 1. Open dashboard 2. Appearence 3. Editor 4. Theme Footer (footer.php) 5. Search for 6. Paste code before 7. save Pode-me avisar assim que estiver online para eu ver se funciona correctamente? Obrigado! Pedro Serrão escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:42: Combinado! Forte abraço! Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:41: Tranquilo. Fico no aguardo aqui até porque tenho que repassar para a designer do site poder inserir o que você pediu. Mas, a gente bateu ideias aqui e concordamos. Em qui, 13 de out de 2022 13:38, Pedro Serrão escreveu: Tudo bem! Vou agora pedir o código e aprovação nas marcas. Assim que tiver envio para você com os passos a seguir, ok? Obrigado! Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:36: Boa tarde, Pedro Vimos os dois modelos que você mandou e o do cubo parece ser bem legal. Não é tão invasivo e chega até a ter um visual bacana. Acho que a gente pode trabalhar com ele. O que você acha? Em qui, 13 de out de 2022 13:18, Pedro Serrão escreveu: Opa Paulo Obrigado pela rápida resposta! Eu tenho um Interstitial que penso que é o que está falando (por favor desligue o adblock para conseguir ver): https://demopublish.com/interstitial/ https://demopublish.com/mobilepreview/m_interstitial.html Também temos outros formatos disponíveis em: https://overads.com/#adformats Com qual dos formatos pensaria ser possível avançar? Posso pagar o mesmo que ofereci anteriormente seja qual for o formato No aguardo, Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:15: Boa tarde, Pedro Gostei bastante da proposta e estava consultando a designer do site para ver a viabilidade do anúncio e como ele se encaixa dentro do público alvo. Para não ficar algo estranho dentro do design, o que você acha de o anúncio ser uma janela pop up logo que o visitante abrir o site? O servidor onde o site fica oferece uma espécie de tela de boas vindas. A gente pode testar para ver se fica bom. Atenciosamente Paulo Vinicius Em qui, 13 de out de 2022 12:39, Pedro Serrão escreveu: Olá Paulo Tudo bem? Obrigado pela resposta! O meu nome é Pedro Serrão e trabalho na Overads. Trabalhamos com diversas marcas de apostas desportivas por todo o mundo. Neste momento estamos a anunciar no Brasil a Betano e a bet365. O nosso principal formato aparece sempre no topo da página, mas pode ser fechado de imediato pelo usuário. Este é o formato que pretendo colocar nos seus websites (por favor desligue o adblock para conseguir visualizar o anúncio) : https://demopublish.com/pushdown/ Também pode ver aqui uma campanha de um parceiro meu a decorrer. 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Vou conversar com os demais membros do site a respeito e te dou uma resposta com esses detalhes em mãos e conversamos melhor. Atenciosamente Paulo Vinicius (editor do Ficções Humanas) Em qui, 13 de out de 2022 11:50, Pedro Serrão escreveu: Bom dia Tudo bem? O meu nome é Pedro Serrão, trabalho na Overads e estou interessado em anunciar no vosso site. Pago as campanhas em adiantado. Podemos falar um pouco? Aqui ou no zap? 00351 91 684 10 16 Obrigado! -- Pedro Serrão Media Buyer CLEVER ADVERTISING PARTNER contact +351 916 841 016 Let's talk! OverAds Certification -- Pedro Serrão Media Buyer CLEVER ADVERTISING PARTNER contact +351 916 841 016 Let's talk! OverAds Certification -- Pedro Serrão Media Buyer CLEVER ADVERTISING PARTNER contact +351 916 841 016 Let's talk! OverAds Certification -- Pedro Serrão Media Buyer CLEVER ADVERTISING PARTNER contact +351 916 841 016 Let's talk! 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