Um caso estranho de uma senhora cujo marido morto é visto agindo normalmente em casa por Bloch e Jenkins se torna ainda pior quando um taxidermista de corpos humanos surge. Dylan Dog vai rever uma velha inimiga que está disposta a tudo para conseguir sua vingança.
Sinopse:
Dois clientes muito especiais se apresentam à porta do Investigador do Pesadelo: são o inspetor Bloch e o leal Jenkins, que pretendem recorrer a Dylan para esclarecer o misterioso ressurgimento de um homem recém-falecido em Wickedford. Nesse ínterim, em Londres, o inspetor Carpenter está às voltas com o caso dos manequins: mortos que, privados das vísceras, voltam a caminhar entre os vivos. Por trás disso tudo, uma velha conhecida: Nora Cuthbert.
Estou muito surpreso com a versatilidade da Paola Barbato. Por mais que às vezes ela não acerte necessariamente com a narrativa, o leitor sempre é presenteado com uma história acima da média. Seja uma investigação a la Agatha Christie, uma narrativa de ação, um terror psicológico. Essa história é bizarra e se trata nada mais, nada menos do que o terror splatter. Daqueles com corpos e vísceras espalhados por toda parte, mas cujo tom é de um humor negro tenebroso. Me fez pensar em filmes malucos como Todo Mundo em Pânico, mas com um tom mais sério. E a narrativa é de alto nível, me proporcionando uma experiência de leitura deliciosa. Devorava as páginas e mergulhava nos quadros de Brindisi que entregou um trabalho incrível (grande novidade para um artista de mão cheia como Brindisi). Depois de duas edições que não curti tanto, essa aqui é uma agradável surpresa pelo estilo de história que Barbato entrega. Para mim, a autora é uma das grandes bússolas dessa nova fase do Dylan.
A Morta não Esquece traz de volta personagens da primeira história dessa nova fase (em Dylan Dog Nova Série vol. 1). Nora Cuthbert, a mulher que não pode morrer está de volta e quer fazer Dylan sofrer por ter frustrado seus planos. Tudo começa com Bloch e Jenkins contratando Dylan para investigar sua vizinha Edwina. O marido dela morreu há algum tempo e a pobre mulher tentava voltar à sua vida normal. Um dia, quando Jenkins cuidava do jardim ao lado ele enxerga Merle, o marido de Edwina, dentro da casa. Como pode um homem morto aparecer vivo na casa de sua esposa? Enquanto isso, o inspetor Carpenter e Rania estão investigando a morte dos Cuthroats, um grupo criminoso irlandês cujos membros da família tem aparecido como cadáveres que sofreram taxidermia. Alguma família inimiga pode estar atacando os Cuthroats para assumir seus negócios. Mal sabe Carpenter de que uma velha inimiga de Dylan está de volta e disposta a qualquer coisa para destruir Dylan: Nora Cuthroat.
Essa edição repete a mesma equipe do primeiro volume. Isso foi inteligente porque dessa forma, Brindisi repete o mesmo design de personagens daquela edição e mantém uma certa homogeneidade. A arte dele é repleta de detalhes com preocupações com o cenário, com o posicionamento dos personagens. Essa edição exigiu um pouco mais dele porque as cenas que tinham mais gore eram bem bizarras com Nora aprontando todas como uma cirurgiã louca e corpos pregados por toda a parte. Gostei também de como Brindisi acompanha bem o roteiro que começa bem calmo e sossegado com uma nova ida a Wickedford e suas casinhas que parecem saídas de um filme sobre o subúrbio americano e chega a uma comédia splatter com corpos e órgãos pendurados e dois personagens que parecem zumbis. Faço ideia de como foi fazer o design do corpo de Gus, cortado toda hora pela raiva da Nora. Outro ponto que sempre me chama a atenção em sua arte é em como os designs de corpos dele são diferentes entre si. Não existem repetições ou modelos iguais de personagem.
Essa é uma edição que ressalta um dos pontos que mais me agradaram nessa fase nova das histórias do Dylan: um senso de continuidade, de consequência. Sei que a característica principal das histórias da Sergio Bonelli é a possibilidade de pegar qualquer edição e ler numa boa. Sem a necessidade de ler nada anteriormente. Mas, dispensar completamente a continuidade não é algo bom porque isso faz com que diversas possibilidades sejam perdidas. Aqui, embora existam personagens que apareceram anteriormente, é possível curtir numa boa sem a necessidade de pegar a edição anterior. Porém, quem leu e viu quando os personagens surgiram ganha uma camasa extra de compreensão da história. Dessa forma, a narrativa recompensa aquele que já era familiarizado e quem está chegando agora. Atende a ambos os lados. Dá para ver nas edições dessa nova série que há uma progressão, um desenvolvimento de personagem, alguma coisa sendo assada no fundo.
Essa é uma história de vendetta. Nora está obcecada com Dylan por ter transformado-a em algum tipo de zumbi. Ter tentado enganar a morte lhe rendeu a real possibilidade de não morrer, mas isso não atendeu às ambições dela. Ao contrário, isso mexeu com a sanidade dela, tornando-a desapegada de senso moral e de respeito aos padrões de vida em sociedade. Nora caça todos os membros de sua família apenas pelo prazer de matá-los com suas próprias mãos. Mas, não basta só isso: é preciso humilhá-los, transformá-los em paródias de si mesmos. Por isso, a ideia da taxidermia. Infelizmente a perseguição de Nora vai colocar os aliados de Dylan em apuros. Barbato não fica tímida de bagunçar a vida do personagem quando acha que deve. Basta lembrar da nona edição em que ela bagunça completamente a cabeça do protagonista. Agora, ela faz questão de fazer o personagem sentir medo real, ao colocar pessoas como Bloch, Groucho e Connie (a nova namorada de Dylan) na mira de Nora. E vocês imaginem uma personagem imortal com tendências a usar uma motosserra ou um bisturi para brincar com o corpo de pessoas incautas.
Barbato brinca com o tom da narrativa. Existe todo um humor negro permeando cada ponto dessa história. Mas, ela começa como uma investigação maluca proposta por Jenkins e Bloch. Dylan imagina que os dois estão mais para stalkers do que para pessoas com um caso de verdade. O começo da história nos coloca novamente em Wickedford onde Barbato procura construir um cenário pacato para o absurdo insólito proposto pelos dois ex-investigadores. Dylan leva a coisa toda na brincadeira, uma forma de seu velho amigo manter sua sanidade. Mas, o caso vai ganhando contornos cada vez mais estranhos e toma uma curva bizarra quando acontece algo diretamente a Dylan. É então que Nora brota na história como um furacão. A partir daí vemos que o tom da narrativa de Barbato passa do humor para o terror. E mesmo assim ela ainda torna Nora em uma sádica bizarra. Sem mencionar a especialista em taxidermia que surge mais para a frente e que tem uma quedinha por um certo personagem. Barbato mantém um tom tenso na história, mas com um certo grau de estranheza "engraçada" no meio de tudo. E ela faz isso com equilíbrio, sem exagerar demais para um lado ou para o outro.
Uma bela edição de Dylan que me divertiu horrores. Sim, vai parecer estranho eu dizer isso ainda mais em uma história que recorre a maluquices como esquartejamentos, humanos pendurados como em um açougue, cenas de corpos em taxidermia e biscoitinhos com zero açúcar. A ligação entre Dylan e Bloch também é bem explorada e deixa o personagem desesperado em um determinado momento. Mas, como Dylan fará para parar uma mulher que não pode ser morta? Somente lendo essa edição vocês irão descobrir.
Ficha Técnica:
Nome: Dylan Dog Nova Série vol. 12 - A Morta não Esquece
Autora: Paola Barbato
Artista: Bruno Brindisi
Editora: Mythos
Tradutor: Julio Schneider
Número de Páginas: 100
Ano de Publicação: 2020
Outros Volumes:
Vol. 4 Vol. 9
Vol. 5 Vol. 10
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