Uma mãe aparece prestes a dar a luz em um monastério de Kimpus. Mesmo relutantes, os monges acabam ajudando a mãe e o pequeno garoto acaba sendo deixado aos cuidados do beberrão Dodd. Sendo educado com fúria e violência, trancado junto dos cachorros, Mastim vai conhecer o pior lado do homem. Até que ele conhece um dhäeni na floresta...

Sinopse:
Assim começa a lenda do Mastim Demônio
Para o irmão Belic o primeiro ano do reinado de Arteen II não foi apenas marcado pelo fim da guerra que libertou os escravos, nem pelo frio, fome ou a onda de homens desesperados usando de violência para sobreviver. Quando se lembra daquele inverno que varreu a aldeia, tudo o que lhe vem à mente é o choro desesperado de uma criança que havia acabado de vencer a morte. Belic nunca se esqueceu daquele dia, nem daquela criança e sua jornada brutal. Todos os anos, quando o festival das máscaras chega a sua aldeia, Belic se prepara para contar a história de Mastim, o garoto cão, o bastardo de Krul, o mercenário sanguinário que um dia seria conhecido como Jhomm, mas que antes disso era mais animal do que homem. Essa é a única história que as pessoas se importam em ouvir, trágica e cruel, como só a verdade pode ser.
A lenda do Mastim Demônio é uma noveleta no universo sombrio da série Chamas do Império, uma fantasia para quem tem estômago para lidar com a magia do desconhecido e o que há de pior nas intrigas e políticas humanas.
A obscura vida do jovem Mastim
Tive a oportunidade de conhecer a escrita de Diego Guerra através de O Gigante da Guerra (link da resenha). Então já sabia um pouco do que esperar ao me deparar com esta pequena novella. Para quem curte dark fantasy, com aquela pegada mais suja e sombria o Diego é a sua escolha perfeita. E quem conhece o autor pessoalmente fica bobo de o quanto ele é uma pessoa gentil. Mas, em seus romances ele consegue captar a escuridão das pessoas. Seus personagens são odiosos, infames, malditos. Dodd, o criador de cães, representa o lado violento dos indivíduos. Apesar de ser uma novella, garanto a vocês que a narrativa tem muito conteúdo, o suficiente para boas horas de discussão.
Basicamente temos três personagens importantes: Mastim, o irmão Belic (o narrador) e Dodd. Alguns personagens secundários são a jovem Liliah e o abade Allain. A narração é feita em primeira pessoa como se fosse um relato futuro de Belic sobre os acontecimentos de seu passado envolvendo Mastim. Percebemos que Belic sofre por ter sido lento e inerte em suas decisões. Ele sente que poderia ter feito mais pelo jovem menino se tivesse simplesmente sido ativo. Carrega em suas costas o fardo da culpa pelas mortes que vieram pelas mãos de alguém que não lembra nem de longe o jovem e inocente bebê nascido na porta do monastério. Como já mencionei, Dodd representa aquilo que há de pior no ser humano. Um guardador de cães, responsável por algumas tarefas necessárias nas terras do monastério e cuja filha é a inocência em pessoa, mas maltratada pelo pai. Cuidar de Mastim para ele se tornou uma responsabilidade que ele não gostaria e em nenhum momento o bêbado encarou o menino sequer como uma pessoa. Apenas atirou-o aos cães e deixou que se tornasse um selvagem.
O que vai vir a ser o futuro Jhomm é fruto dos abusos que ele sofre ao longo de toda a sua vida. O absurdo de sua realidade se liga ao fato de ele nunca ter tido a oportunidade de ser alguém. O contato com o dhäeni ficou um pouco mal contado e envolto em uma névoa de dúvidas. Não sei se na história principal (O Teatro da Ira), Diego conta um pouco mais sobre esse contato. Aqui fica estranho e eu chego quase a encarar como um deus ex machina, não no sentido de solucionar algo, mas de fazer a história caminhar. Só não é porque a maneira como Diego insere a criatura na história funciona quase como uma segunda persona para Mastim... é quase como se o dhäeni fosse uma massa de fúria e revolta presa no interior de seu coração e se revelasse para que ele saísse daquele estado. O final da história é de partir o coração, e o autor tem o dom de fazer isso conosco. Em O Gigante da Guerra lembro que fiquei com uma ressaca literária terrível por alguns dias remoendo o que aconteceu com os protagonistas. Aqui nem tanto, mas é o suficiente para ser aquele final com um gosto azedo na boca.
Minha única crítica fica em relação à escolha do tipo de narrativa. Acho que a narrativa em primeira pessoa contada pelo Belic não funcionou tão bem assim. Digo isso porque muitas vezes o personagem parece tão estranho à história que está contando que não consigo imaginar como ele ficou sabendo de tantas coisas a respeito do personagem. Alguns dos momentos de angústia de Mastim são muito mais sensoriais do que factuais... mesmo se Jhomm estivesse contando isso a Belic ele não conseguiria contar com a precisão sensorial necessária. Certos sentimentos são difíceis de serem postos em palavras. Na minha opinião, a narrativa teria se beneficiado mais de uma narração a partir das impressões do próprio Mastim. E isso se encaixaria perfeitamente com o estilo sombrio do autor. Revelar toda a sua ira pelo mundo... essa narração poderia ter sido um momento de reflexão na vida do personagem durante uma campanha ou até ele mesmo fazendo um diário. Ou até mesmo uma narração simples em terceira pessoa.
No mais, se você não conhece ainda a escrita do Diego Guerra, A Lenda do Mastim Demônio é uma ótima porta de entrada. Menos impactante que O Gigante da Guerra, é capaz de trazer novos leitores para curtir aquilo que o autor faz. Mais do que isso, nos deixa com vontade de seguirmos em direção à série principal e continuar a ver as aventuras de Jhomm que deve estar presente de alguma forma neste livro. Esta vai ser a minha próxima parada, sem dúvida alguma.


Ficha Técnica:
Nome: A Lenda do Mastim Demônio
Autor: Diego Guerra
Série: Chamas do Império vol. 0,5
Editora: Draco
Gênero: Fantasia
Número de Páginas: 72
Ano de Publicação: 2019
Outros Volumes:
O Teatro da Ira (vol. 1)
Link de compra:
*Material enviado em parceria com o autor
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