Depois de anos enrolando a Scotland Yard para conseguir atuar, Dylan precisa encarar o substituto do inspetor Bloch, Tyron Carpenter que trouxe um mandato de busca e leva o old boy como prisioneiro por uso ilegal de insígnias, abuso de boa fé entre outras acusações. Mas, ao ser levado para a delegacia, uma série de protestos contra más condições de trabalho se transformam em um caos que envolve toda a Londres. E existe algo mais por trás de tanta violência...
Sinopse:
Depois que Bloch se aposenta, novos eventos alteram a estrutura da Scotland Yard e a vida do Investigador do Pesadelo. Entra em cena o inspetor Carpenter e, por ordem dele, Dylan deve devolver, de forma definitiva, a antiga identidade funcional de policial. Como se não bastasse, DyD é levado algemado à Central de Polícia enquanto, nas ruas de Londres, explode a revolta, violenta e mortal!
Feitas as despedidas ao inspetor Bloch, é hora de Dylan Dog enfrentar sua nova realidade. E este segundo volume consegue entregar isso de uma forma bem adequada. Aqui sim conseguimos ver o quanto o protagonista vai precisar se adaptar a todo um contexto que não lhe é favorável. Ao mesmo tempo o quadrinho consegue manter sempre um pé na realidade tratando de temas bastante atuais e que são aproveitadas pelos roteiristas ao lado de um sobrenatural a ser investigado por Dylan. Esse volume aqui tem mais cara de início de trajetória do que o anterior, sem contar com a arte que está maravilhosa. Casertano entrega cenas de brilhar os olhos.
Começamos com Dylan Dog terminando uma boa noite ao lado de uma sedutora mulher para em seguida termos a chegada da Scotland Yard e seu novo inspetor, Tyron Carpenter, o substituto de Bloch. Com um estilo mais duro, Carpenter admirava o trabalho de seu antecessor, só não compreendendo o porquê de Bloch gostar tanto de Dylan. Para ele, o investigador não passa de um estorvo e de alguém que age à margem da lei. Ele chega com um mandato de busca e encontra uma velha insígnia policial do personagem, que não havia devolvido e a usava durante suas investigações. Carpenter leva Dylan preso, mas no momento em que eles estão chegando à delegacia, um manifestante chamado Malloy estava sendo trazido também por incentivar quebra-quebras ao se manifestar contra más condições de trabalho. Os outros membros do grupo manifestante se movem para cercar a delegacia e exigir a libertação de Malloy, mas o que era uma manifestação pacífica logo se torna extremamente violento com pedras arremessadas e pessoas chegando com armas de fogo. Os ânimos na delegacia se tornam mais acalorados e os policiais iniciam uma batalha campal contra os manifestantes, causando inúmeras mortes. Dylan, agora preso, começa a desconfiar que algo maligno está por trás disso, mas ele agora não tem aliados e está dentro de uma cela. Como ele poderá sair dessa?
O roteiro de Gigi Simeoni está no ponto certo. Essa é uma daquelas histórias que te enganam e você imagina que não vai ter nada de espetacular ou fora do normal. Tudo parece ser um ato de violência ocorrido por conta de insatisfações populares. Algo que acontece até aqui no Brasil quando polícia e manifestantes se estranham por alguma razão qualquer; seja excesso de violência policial ou grupos de black blocks que começam a causar o caos. Mas, pouco a pouco o leitor vai vendo que algo está errado. As reações são bastante desproporcionais em relação ao que está acontecendo. E o único que parece se dar conta disso é o protagonista. Mas, nesse ambiente hostil que se torna a boa e velha Scotland Yard, Dylan não tem mais aquela liberdade e acesso total que o inspetor Bloch lhe garantia. Resta apenas usar sua astúcia para tentar descobrir o que realmente está acontecendo. Adorei essa mistura de história de terror com crítica social feita de uma forma harmônica e instigante.
Já a arte de Giampiero Casertano mostra o quanto o quadrinho italiano é poderoso. Com um traço bem realista e detalhado, ele consegue entregar uma Londres próxima daquilo que conhecemos. Sem falar na sua habilidade em lidar com múltiplos personagens. Temos toda uma variedade de tipos de personagens, representando o lado cosmopolita da cidade. A escolha por um inspetor negro e uma detetive muçulmana é bastante acertado da parte do roteiro e o artista entrega ambos com traços destacados e individuais. Por exemplo, o queixo quadrado e a face severa de Carpenter não esconde a sua personalidade ativa e de um líder nato dentro de uma instituição como a Scotland Yard. Por outro lado, a detetive Raina Rakim tem um ar mais misterioso e ladino justificado em seus olhos expressivos e seu corpo mais esguio. Já cenas como a do quadro acima mostram o domínio que Casertano tem da construção de cena, mesmo quando tem muitos elementos nela. A gente consegue visualizar até mesmo as faixas dos manifestantes e o que está escrito. Me tornei fã do artista rapidamente.
Cada vez mais se tornam comuns as manifestações contra as más condições de trabalho. Estamos chegando a um capitalismo mais e mais selvagem que desenvolveu novas maneiras de explorar os trabalhadores. Criar regimes desumanos que cortam direitos e impõem deveres. O tipo de manifestação que acontece no meio de Londres o leitor já deve ter visto em sua cidade ou nos veículos de imprensa. Por exemplo, hoje discutimos a uberização das relações de trabalho onde é o próprio trabalhador que "faz a sua jornada de trabalho". Só que escondido no meio dessa suposta liberdade existem rankings e metas a serem batidas. E o trabalhador se vê em uma armadilha da qual ele mesmo não consegue escapar. Gigi Simeoni faz uma boa associação entre os manifestos que aconteceram no século XIX que deram origem aos movimentos sindicais e os dias de hoje. O que realmente mudou? Os regimes de trabalho na Londres de outrora eram desprovidos de uma fiscalização; hoje para poderem alcançar o lucro que desejam, os donos dos meios de produção encontraram novas formas de exploração e de alienação. Malloy representa as dores de diversos trabalhadores, do passado e do presente, que sofreram diante dos mandos e desmandos de empresários.
Ao precisar lidar com um cenário não familiar, Dylan vai estabelecer um começo de relação com os novos personagens da Scotland Yard. Pelo que deu para perceber nessa edição, a detetive Raina vai ser a sua porta de entrada. Embora ela é aquele tipo de personagem que parece ser uma raposa. Ela faz bem o seu trabalho como detetive, mas não parece enxergar o mundo em preto e branco. Infelizmente ao lidar com Dylan Dog, momentos em que suas crenças vão ser questionadas serão bem comuns. Aqui temos aquele momento típico de uma personagem que ainda duvida do que está acontecendo e sai em busca de explicações lógicas para o estranho e o bizarro que representam a vida do protagonista. Já do lado de Carpenter existe uma legítima animosidade entre eles, fruto de uma admiração do inspetor por Bloch. Carpenter é um homem que segue as regras e não entende a necessidade da existência de alguém que as dobra como Dylan.
Achei essa segunda edição melhor do que a primeira porque simplesmente é o começo das coisas. Se a anterior era uma passada de bastão, aqui o leitor comum pode curtir numa boa as histórias do personagem que tem uma renovada na pegada de suas histórias. Mesmo sendo um old boy, os problemas que ele precisa resolver são bem novos. O roteiro está impecável e a arte é nota 10. Casertano me impressionou com sua arte realista e seu foco em grandes sequências. Temos um bom equilíbrio entre diálogos bastante afiados e uma arte estilosa e fina. Quero ver mais dessas confusões e histórias focadas em um terror contemporâneo. E sei que estou no lugar certo.
Ficha Técnica:
Nome: Dylan Dog Nova Série vol. 2 - Londres está em chamas!
Autor: Gigi Simeoni
Artista: Giampiero Casertano
Editora: Mythos
Tradutor: Julio Schneider
Número de Páginas: 98
Ano de Publicação: 2019
Outros Volumes:
Volume 1 Volume 8
Volume 3
Volume 4
Volume 5
Volume 6
Volume 7
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