Paulo Vinicius

Resenha: "Dylan Dog Nova Série vol. 7" de Gigi Simeoni e Giorgio Pontrelli

Uma atleta dos saltos ornamentais desaparecida. Uma mulher envenenada por ácido enquanto jantava com sua amiga. Uma máquina de lavar explosiva que mata um pobre infeliz. O que esses crimes tem em comum? Certamente não são crimes normais e Rani vai buscar a ajuda de Dylan para resolver esse mistério.

Sinopse:

Uma menina desaparecida, uma pessoa morta ingerindo ácido do qual não restam traços, e outra gravemente queimada de modo incompreensível. Três casos não resolvidos, sem explicação lógica. O que eles têm a ver com um antigo pingente feito de ródio, um metal extremamente raro, mais valioso que platina e resistente aos ácidos? Como se não bastasse, dentro do pingente há um minúsculo cristal de enxofre… o cheiro de satanismo é forte. Dylan não tem outra opção senão recorrer à ajuda de um grande perito na arte da alquimia.

Essa foi uma excelente edição para quem curte uma trama investigativa. Gigi Simeoni se revelou um dos roteiristas que mais curti nessa nova fase do personagem. O autor brinca o tempo todo com nossas percepções desviando o nosso foco de um lugar para outro, sempre dando dicas sobre a solução do mistério, mas brincando com para onde estamos olhando. O mais curioso é como ele fez para ligar as três mortes aparentemente desconexas, mas que possuem um elemento comum. E algo que parece o acaso, mas que tem uma sequência lógica de ideias. Uma verdadeira aula de narrativa de mistério para aqueles que querem se aprofundar mais nos clichês do gênero.

Três casos: uma atleta do salto ornamental desaparecida, uma mulher envenenada em um jantar com ácido e um homem vítima de uma máquina de lavar que lançou ácido como se fosse uma mangueira. Aparentemente desconexos, mas que possuem a água como elemento em comum. Rani desconfia que eles possuem algo em comum, mas não sabe dizer o que é. A estranheza dos casos levanta suspeitas pela Scotland Yard, mas o inspetor Carpenter não consegue resolver o caso. O fato de a atleta ser famosa atrai a atenção da mídia e deixa o inspetor ocupado. Rani vai precisar da ajuda de alguém acostumado a lidar com casos estranhos: Dylan Dog. A cada passo que eles dão na investigação mais e mais mistérios vão se revelando: um pingente alquímico, um dono de antiquários misterioso e um cientista do século XIX que desejava usar água como uma arma química. O sabor da água pode não ser tão agradável quanto parece.

Giorgio Pontrelli possui uma arte bem estilizada, concentrando-se no design corporal dos personagens e em suas expressões. Confesso que é um estilo de arte que não me agrada e em alguns momentos os traços parecem simples e desfocados demais. Em algumas cenas, Pontrelli não desenha rostos, sejam dos personagens em cena ou dos secundários ao fundo. Isso causa um estranhamento no leitor. A arte não é ruim, só me parece fora do lugar. O que gostei na abordagem de Pontrelli foi na maneira em que ele dá uma atenção toda especial ao modelo corporal dos personagens. Vejam o quadro ao lado e como é belo o salto da atleta. É o padrão mesmo do salto e do mergulho atléticos. Em outros momentos, Pontrelli nos mostra os personagens e suas reações emocionais às cenas. Seja Rani com um olhar oblíquo, ou Dylan sempre reflexivo, ou até mesmo Groucho com suas expressões corporais jocosas. O leitor é capaz de dizer que sentimento está se passando com os personagens através do seu gestual.

Essa é uma edição que desenvolve um pouco mais a personagem da Rani. Ela tinha sido apresentada antes, mas os autores trabalharam o tema do conflito entre Carpenter e Dylan. Mas, desde a primeira edição em que ela apareceu, Rani sempre me pareceu misteriosa, inteligente e sedutora. E é exatamente isso mesmo. Além dessas características, Rani é uma detetive que deseja fazer a justiça. Ela deseja resolver os casos e mostrar que a Scotland Yard sabe cuidar dos seus. Diferentemente de Carpenter que vê Dylan como um charlatão e um golpista, Rani percebe no old boy um senso de justiça semelhante ao seu. E ela sabe que Dylan tem uma abordagem menos convencional do que a empregada pelos investigadores. E sua forma, apesar de meio desastrada, produz resultados. Então ela tem menos reservas em aceitar teorias estranhas. Apesar de reticente com os desdobramentos da investigação, Rani consegue enxergar os fatos e aceitá-los mesmo que venham de formas mágicas ou fantasiosas. Rani sabe que alguém está matando pessoas e que ela precisa detê-los. Mesmo que ela precise depender de Dylan para isso.

A abordagem usada por Gigi é assustadora. Pensamos sempre que a água é a fonte da vida. Mas e se a água se torna o nosso pior inimigo. E se tudo que tiver respeito a água pudesse se torna algo possível de nos matar? É a partir dessa premissa que o autor vai buscar na alquimia a possibilidade de isso acontecer. E curiosamente toda vez que pensamos em alquimia, imaginamos a transmutação de metais (o famoso pedra em ouro), mas a alquimia também se propõe a alterar as propriedades de elementos. E é a partir daí que o autor desenvolve o seu tema. Os mistérios se concentram em como as coisas aconteceram. E em que sequência elas se deram. Isso porque as vítimas eram desconexas demais em um primeiro momento. Somente a partir do trabalho de detetive efetuado por Rani e Dylan é que eles conseguem chegar na solução. E isso levando em conta o método não convencional de assassinato e como ele se deu. Também fica aqui o meu elogio aos momentos finais da história que são bem tensos e a gente fica com o coração na mão. O final é totalmente surpreendente.

Mais uma edição muito boa assinada por um dos roteiristas do old boy que mais me agradam no momento. A arte ficou aquém do que foi apresentado nas últimas edições, mas isso se deu mais por causa do estilo do artista. Uma edição que se concentrou em desenvolver a personalidade da detetive Rani que vai se transformando em uma personagem cada vez mais interessante. Foi divertido ver os passos investigativos dos dois personagens, e olhem que eu nem sou tão fã assim do gênero de mistério. No mais, a série mantém um bom ritmo de histórias e vale demais a pena. Me manda mais Dylan Dog!!!