Hoje é o aniversário de uma das editoras que mais crescem no Brasil. Venham conosco descobrir por que você deve prestar atenção e adquirir os livros desta editora.
Em meados de 2015, no meio de uma efervescência de publicações, uma nova editora surge. Ela apresentava algumas divulgações sobre um livro de fantasia divertido e curioso que envolvia caçar livros. Os protagonistas pertenciam a uma espécie de biblioteca mágica cujas portas saíam em todo tipo de mundo. A Biblioteca Invisível era o título de estreia da editora que acabou conquistando o coração de muitos leitores desde então. Mas, qual era a proposta? A editora seria voltada para uma literatura geral? Seria uma editora de gênero? Naquela época não sabíamos qual era a proposta, mas quando os próximos títulos saíram, certamente começamos a ficar de olho: uma autora norueguesa, um título sobre um detetive e seu pequeno elefante em Bombaim, uma obra com traços pós-apocalípticos e que fala de abuso. Pouco a pouco a editora foi conquistando seu espaço.
Queria usar a postagem de hoje muito para quem não conhece a editora ou tem dúvidas sobre se deve ou não dar uma oportunidade aos títulos dela. Apresento quatro motivos para vocês, um para cada ano de existência da Morro Branco.
1 - A Identidade da Editora
Estabelecer uma identidade e um projeto que diferencie uma editora de todas as outras é algo bem complicado. Exige trabalho, cuidado no momento de fazer o scouting de livros a serem publicados, ser coerente nas escolhas. Sabemos, por exemplo, que a DarkSide Books é uma editora voltada para a publicação de livros de terror com projetos gráficos elaborados; sabemos que a Aleph é uma editora voltada à publicação de ficção científica e se liga bastante à cultura pop. São editoras que estabeleceram seus projetos e seus objetivos. Após quatro anos somos capazes de dizer exatamente qual é a identidade da Morro Branco. Ela é uma editora que vai apostar em autores inéditos, às vezes que sequer são do eixo EUA - Inglaterra e aposta em títulos com temáticas sobre representatividade e diversidade.
Isso é sensacional. Somos capazes de dizer o direcionamento das escolhas da editora. Tem muitas novas editoras das quais não sabemos qual é o direcionamento. Isso porque a necessidade de colocar um produto "vendável" no mercado acabou sendo mais importante do que a coerência. E nesse ponto não temos do que reclamar da Morro Branco.
2 - O catálogo de títulos
Se você é um fã de ficção de gênero, deveria prestar atenção ao catálogo da editora. Ele possui desde títulos YA, passando por clássicos de ficção científica até chegar a ficções muito reflexivas como Bem-Vindos ao Paraíso, da Nicole Dennis-Benn. O catálogo é um dos mais suculentos de alguns anos para cá de todas as editoras. Tem para todos os gostos. A editora tem sido responsável até por apresentar alguns autores clássicos que nunca tiveram uma oportunidade justa de brilhar ao sol em terras tupiniquins. Por exemplo, Octávia E. Butler que já se tornou um símbolo da editora. Mas, este ano veremos mais um autor clássico do gênero que vai chegar por aqui e tenho certeza que vai encantar a todos. Já falo dele mais abaixo.
3 - Mediar o encontro entre academia e a ficção de gênero
Com o lançamento de livros como Kindred, A Quinta Estação, A Curva do Sonho, Tudo o que Você Deixou para Trás e muitos outros a editora conseguiu fazer um link entre universidade e ficção de gênero. Observar livros como Kindred e retirarmos dali discussões pertinentes para a nossa sociedade nos dias de hoje. Podermos comentar abertamente sobre preconceito e escravidão nos baseando em uma ficção científica. Entendermos o aquecimento global e os danos à natureza a partir da escrita especulativa (não tão especulativa assim) da N.K. Jemisin e da Maja Lunde. Por muito tempo, livros de fantasia e ficção científica foram (e ainda são) vistos como uma reles literatura de entretenimento. Isso quando existe um imenso universo de discussões. Ficção científica não é apenas futurologia; ela fala de problemas muito reais e especula no que isso pode se transformar no futuro. Fantasia também pode ser usada para trabalhar temas sociais: vejam o preconceito que sofrem os orogenes apenas porque são diferentes dos outros.
A editora conseguiu uma façanha ainda maior nessa área: conseguiu emplacar dois títulos no PNLD Literário 2018, de forma a que alunos do Ensino Fundamental II e Médio possam ter contato com seus livros. As escolhas foram Kindred (que foi escolhido para a escola onde eu leciono) e Tudo o que Deixamos para Trás. É um feito digno de nota de uma editora nova no mercado. Ano que vem eu tenho certeza que a editora deve conseguir emplacar mais dois ou três títulos.
4 - O contato com o leitor
A editora seguiu muito bem o exemplo de iniciativas como as da Aleph e da DarkSide e estreitou o seu contato com os leitores. Sempre com um conteúdo bacana, sorteios e, principalmente, sendo atencioso com todos. O que deveria ser algo comum em outras editoras, nós acabamos precisando ressaltar como diferencial. O comportamento da Morro Branco frente àquele que adquire seus livros é um espelho do que deveria ser algo geral. Mas, eu parabenizo a editora por esse esforço.
No tocante a lidar com parcerias com influenciadores digitais, não tenho do que reclamar. Sei que sou suspeito para falar a respeito, mas queria deixar o coração um pouquinho de lado e falar de forma pragmática. A relação com os parceiros é muito boa. Sempre temos contato com nossos social media (esse ano estamos sendo mimados pela simpática Julianne Vituri) e sempre que temos alguma dúvida ou sugestão, eles param para nos escutar. Mesmo que seja algo que não seja possível para a editora, toda a opinião é considerada. Às vezes chegamos a participar até do processo de escolha de capas, ou alguma divulgação divertida. O resultado é que o edital de seleção de parceiros da editora é sempre um dos mais concorridos todos os anos. Eu sei que em algum momento eu não vou conseguir continuar como parceiro, mas é uma das coisas que eu fico mais ansioso todos os anos, e roendo as unhas para continuar a ser. E, mais importante do que tudo: poder compartilhar o projeto da editora. Ser parceiro não é apenas ler os livros que a editora manda e postar uma resenha. Na basta ser um simples "resenheiro". É absorver as ideias, as propostas, tentar o novo e inédito.
Isso significa que a editora é perfeita? Claro que não. Não existe perfeição nesse mundo. Temos leitores que já foram bem claros em suas críticas e cito algumas:
--> A falta de literatura nacional
Todos tem pedido isso em todas as editoras. A gente percebe essa ânsia em conhecer o que é nosso. Mas, é preciso entender que para publicar um autor brasileiro não basta só colocar o livro na livraria. É preciso trabalhar o autor, com uma pesada campanha de marketing que faça as pessoas entenderem por que devem gastar o seu dinheiro para ler aquele desconhecido. Mesmo editoras como a Companhia das Letras tem dificuldade nesse processo. Um autor estrangeiro muitas vezes conta com a sua bagagem e importância vindas de fora do país. Na maior parte das vezes ele já tem uma base de fãs à espera de um título específico. Já um brasileiro não tem essa bagagem e seu título é inédito mesmo. Não acredito que nesse momento a editora (mesmo com a sua ótima máquina de divulgação) consiga dar o espaço necessário que uma obra inédita precisa para poder deslanchar no mercado. Mais alguns anos de maturação vão ser necessários, mas não duvido nada que no futuro a editora possa acabar nos surpreendendo.
--> E-books
A editora ainda não lança seus títulos em formato digital (apesar de que teremos novidades nesse sentido em breve). O que muitas vezes o público não entende é que produzir um ebook não é tão simples quanto parece. Não basta só transformar um arquivo em pdf e jogar em uma plataforma digital. Há todo um trabalho de diagramação, codificação, correção de erros, atualizações. Não esqueçam também da necessidade de se pagar programadores, tradutores, revisores e até mesmo plataformas que enviem esses arquivos a lugares como a Amazon e a Saraiva. Por esse motivo que o ebook acaba ficando tão caro quanto um livro físico. Faltam subsídios do governo ou algum tipo de incentivo para reduzir os custos de publicação de um ebook. Para uma editora como a Morro Branco, acaba não justificando o custo. É diferente do caso de editoras que surgiram com a proposta de publicação apenas no digital.
--> Livros em capa dura
Esse eu vou pisar no chão. Não há necessidade de publicar tudo o que existe em capa dura. Sinceramente não entendo essa relação do leitor brasileiro com a capa dura, envernizada, em 3d, holográfica... Gourmetização da literatura total. Livros são para serem lidos e não alisados. Ou sequer são objetos decorativos. Acho legal um projeto diferenciado, mas generalizar isso é uma bobagem sem limites. Para mim, o formato que a Morro Branco tem trazido é o melhor dos dois mundos. Tem alguns projetos em capa dura, e outros bem diferentões como o da Curva do Sonho com sua pintura que brilha no escuro.
Chego ao final dessa postagem apenas para convidar os leitores a apostarem no diferente. A editora é aquela que possui os títulos mais diferentes e importantes dos últimos tempos. E tem se dedicado a oferecer aquilo que há de melhor para o leitor brasileiro. Duvidam? Os últimos anúncios da editora para 2020 foram bombásticos. Fora as séries que eles já possuem no catálogo. Então venham conosco conhecer o rico material dessa editora que já se tornou uma das nossas queridinhas.
Algumas resenhas que fizemos de livros da Morro Branco:
Tags: #aniversariomorrobranco #editoramorrobranco #mercadoeditorial #octaviaebutler #genevievecogman, #nkjemisin , #seananmcguire
Eu sinceramente não vejo a necessidade de livros em capa dura. Quando eles são uma opção voltada para um público que ama aquela história, okay. Mas, quando ele se torna a única opção viável, aí a coisa muda completamente de figura.
E realmente a DarkSide que acabou trazendo esse afã por livros melhor trabalhados nesse sentido. Tem o seu lado positivo e tem o seu lado negativo.
Agradeço pelos comentários!
A questão da capa dura acredito que se deva por influência da Darkside, que sempre traz projetos nesse sentido. O público começou a ver que livros capa dura são possíveis e muitas vezes por um preço bem acessível (tem capas duras da DS que custam 60,00. Tem Brochuras da Suma que custam 80,00 então aí já tu vê um enorme contraste.)
Mas principalmente, creio quer isso também seja porque no país o hábito da leitura é algo mais "limitado". Assim, quem lê quer se diferenciar, mostrar que tem aquele poder que muitos outros não tem. Sei lá, penso que possa ser isso um dos motivos.
ótimo texto, parabéns * -*