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O monge Herman tenta ser um homem pio em seu claustro. Mas sua paixão por Marcellina quase põe tudo a perder. É então que ele se torna responsável pelo claustro e de uma relíquia mágica que possui um estranho vinho vermelho. O padre avisa que a única recomendação que ele faz é não abrir a rolha do vinho. Só que o conde Rosenberg está obcecado com a tal relíquia que diz ser poderosa.


A Garrafa de Santo Antão é uma narrativa que vai brincar com o sentimento de tentação e de luxúria. É preciso lembrar que nos encontramos em uma sociedade bastante pudica e pouco liberal com seus instintos carnais. Pensar em um homem perseguindo uma mulher atrás de seu corpo para satisfazer seus desejos sexuais é um daqueles pecados quase inexpiáveis dentro desse contexto. E a narrativa do terror serve para externar esses medos e brincar com a imaginação do leitor. E esse texto leva isso a um outro patamar ao usar o sagrado como escada para se chegar ao terror máximo: um homem da batina que não se importa em pecar. A história é bastante ousada para o período em que foi concebida e a justificativa do líquido que libera os instintos primitivos quase me faz pensar na fórmula científica usada pelo dr. Jekyll. Quando ele toma esse líquido, ele perde seus pudores. No caso do Hyde, o que aflora nele é um sentimento violento e bárbaro; no caso do monge Herman o que libera é o despudor e a capacidade de enganar os seus iguais. Ambas são características não permitidas pela sociedade, portanto os personagens são tratados como aberrações ou anormais. O curioso é que em ambos os casos, os personagens ficam apenas temporariamente nesse estado e quando saem dele, se veem arrependidos e apelam para os seus sentimentos religiosos mais profundos.


A narrativa se passa na Saxônia onde nos deparamos com o monge Herman, alguém que dá o melhor de si para atuar em sua diocese. Durante o seu período anterior à assunção do claustro por ele, Herman passou por um momento bem constrangedor. Ele é alguém muito devotado a Santa Marcellina, uma piedosa santa que com suas bençãos ilumina o coração dos homens. Só que a santa se parece muito com uma jovem dama que frequenta o claustro e também tem o nome de Marcellina. Em um momento de fraqueza em seus sentimentos religiosos, Herman dá um beijo nos lábios de Marcellina que fica assustada com o ato do monge. Após esse fato, Herman tenta se redimir pelo que fez e passa a administrar o convento. Uma das recomendações que lhe foram dadas é para que tomasse cuidado com um líquido que é uma espécie de artefato do local. Um vinho que possui a benção de Santo Antão, mas que parece esconder um mistério grande nele. Não se pode abrir esse frasco por nada neste mundo, caso contrário coisas malignas podem acontecer. É então que Herman recebe a visita do conde Rosenberg que exige poder pôr as mãos no tal frasco. À força, Rosenberg toma o líquido das mãos de Herman, abre o frasco e bebe do estranho líquido avermelhado em seu interior. O que acontecerá agora?


Além do tema da redenção e do pecado, temos a presença do duplo aqui. Mas, não um duplo de outra pessoa, mas um homem capaz de se tornar outro por um curto espaço de tempo. É a justificativa que a narrativa usa para dizer que não é Herman quem está cometendo os pecados, mas outro indivíduo que se apossou de seu corpo. É uma forma de manter a sacralidade do manto religioso, embora o leitor saiba claramente que é o próprio Herman quem está no comando das coisas. A narrativa vai e vem nessa situação em que o monge se coloca, que fica cada vez mais problemática. Pouco a pouco, Herman vai cometendo todos os pecados possíveis e caindo cada vez mais na tentação do espírito maligno que está ao seu redor. Quando estamos nos encaminhando para o final, a expiação dos pecados é praticamente impossível porque Herman percebe o que fez e o que resta de piedade em seu coração age para tentar atrapalhar os planos daquele que o tentou. É uma boa história com alguns momentos bem diferentes do que estamos acostumados a ver em narrativas góticas.










Ficha Técnica:


Nome: A Garrafa de Santo Antão ou O Vinho do Diabo

Autor: Anônimo

Compõe a Coleção Raridades do Conto Gótico vol. 5

Editora: Sebo Clepsidra

Tradutor: Carlos Primati

Número de Páginas: 48

Ano de Publicação: 2021


Avaliação:

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Essa é uma coletânea que mostra um outro lado do famoso criador de Sherlock Holmes, sir Arthur Conan Doyle. Histórias que vão se debruçar sobre assassinatos, desaparecimentos e esquemas que deixarão o leitor bastante intrigado em suas páginas.


Sinopse:


DO CRIADOR DO ICÔNICO SHERLOCK HOLMES.Arthur Conan Doyle é a mente por trás de personagens icônicos da literatura. É sinônimo de histórias de detetive. É dono de seu próprio estilo, impresso no imaginário do leitor. Mas e se, mesmo depois de dois séculos, pudéssemos redescobrir esse grande clássico com outras facetas?“Histórias de horror e mistério” é uma coletânea de 12 contos curtos e de leitura hipnotizante, graças à escrita de Doyle. Nessas histórias, que vão do horror nas alturas a um trem misteriosamente desaparecido, passando por técnicas de tortura com água do século 17 e um gato brasileiro sedento de sangue, o autor mostra que também brilha fora do gênero que o consagrou e que é capaz de ir muito além de Sherlock Holmes, trocando influências com outros grandes nomes, como Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft.Embarque na leitura dessas ecléticas e cativantes peças, há muito tempo escondidas e permeadas pelo desconforto reprimido, que unem o estilo elegante e preciso de Doyle a seu melhor momento criativo.






Esta é uma coletânea original de histórias de Arthur Conan Doyle. Não é dito quem foi o organizador, mas o pessoal da Escotilha separou seis contos de horror e seis contos de mistério que mostram um lado diferente do autor. É bastante positivo vermos o quanto Conan Doyle era um escritor versátil e não apenas sabia escrever sobre Sherlock Holmes. O próprio autor se queixava disso e procurou variar sua escrita ao longo de sua carreira. A minha edição é diferente da que está à venda na Amazon porque veio na época em que foi criado o Clube Escotilha, uma caixinha surpresa montada pela editora que enviava livros surpresa para os leitores. Era uma caixa inteiramente voltada para literatura de gênero e embora tenha publicado mais clássicos, me ressinto de não termos nada parecido mais com isso (as que tem não são direcionadas a scifi, fantasia e terror). A capa tem uns detalhes em roxo e verde que lembra bastante a capa da edição cósmica da coletânea do H.P. Lovecraft publicada pela DarkSide. A tradução da Maria Luisa X. de A. Borges está muito boa e para um texto clássico, ele está bem simples de ser lido. A edição conta também com uma apresentação bacana do Oscar Nestarez, um baita autor de terror e estudioso do gênero.


Em um aspecto geral podemos falar de duas facetas do autor. Na parte de terror, fica bem clara a inspiração que ele tem dos contos de Edgar Allan Poe. A gente percebe algumas características dos contos poeanos presentes na história: a apreensão, a situação insólita, uma busca pela resolução e uma conclusão que pode ou não ser boa (normalmente não é). Nos contos temos uma história de fantasmas, temos desaparecimentos e criaturas bizarras, representando o mundo desconhecido que o homem apenas começava a ter familiaridade. Mesmo buscando emular o estilo de Poe, Conan Doyle não tem o mesmo talento do famoso escritor de terror. Certas horas o leitor se dá conta de que ele força algumas situações para causar apreensão, algo que Poe fazia com mais naturalidade. Em outras, Conan Doyle opta por fazer escolhas narrativas com as quais ele é mais familiarizado, destoando do estilo que ele tinha escrito até então. Não chega a estragar a fluidez da história, mas você percebe que algo não está no lugar. Vou tentar dar dois exemplos.


OBS: Não vou comentar sobre O Gato Brasileiro porque já temos uma resenha feita dele aqui no site.


É legal começar pelo começo e Horror nas Alturas é um bom exemplo de como nem sempre as coisas funcionam como se deve. Nós acompanhamos uma série de relatos de pilotos de aeroplano que estavam tentando alcançar altitudes muito elevadas, ultrapassando os limites impostos pelos seus equipamentos. Até que um deles parece ter se deparado com alguma coisa terrível e que então outros que fazem o mesmo caminho também se deparam. A ideia de Conan Doyle foi criar uma narrativa com base em relatos episódicos desses pilotos que narram o que vivenciaram durante os momentos em que estavam no ar. A trama toda tem como faísca a morte de um piloto muito talentoso que abala todos os demais. A trama segue em um crescendo em que vamos vendo que os relatos vão se tornando cada vez mais aterrorizantes. Cada piloto queria fazer mais e melhor do que o anterior e isso parece ter despertado alguma força desconhecida. O autor trabalha bastante com o local misterioso, um mote bastante visto em livros de terror do início do século XX em que a humanidade ainda explorava os cantões desconhecidos do planeta. Aliás, O Gato Brasileiro é uma mera variante disso, substituindo o local por uma criatura. Só que a narrativa é meio desconjuntada porque ela se propõe ser epistolar, mas é cursiva. Então, o narrador vai mudando de relatos no meio dos parágrafos, o que provoca uma bela de uma confusão mental no leitor. Ora, ele comenta sobre o que um dos pilotos viu e no instante seguinte estamos em outro, sem uma transição suave. Em vários momentos me perdi e precisei voltar um ou dois parágrafos, o que torna a leitura bastante truncada.



O senso de pavor ou apreensão toma boa parte da narrativa, mas o autor precisa se ligar qual é o timing e a forma corretas para causar aquele terror. Poe sabia fazer isso de formas simples, seja apresentando subitamente uma situação bizarra ou causando susto no personagem. Conan Doyle não consegue fazer isso porque ele cria uns negócios tão fora da caixa que me peguei tentando imaginar o que ele criou ali. Foi algo mais anticlimático do que apavorante. Não me entendam mal, a narrativa não é ruim e possui bons momentos de crescendo, que é algo que parece que os autores de terror de hoje se esqueceram, e ela vai procurando atingir um patamar de estranheza. Só que ela fica nisso e acaba sendo apenas mais uma história. O Gato Brasileiro é até mais eficiente para provocar o pânico.


O que Horror nas Alturas não foi capaz de fazer, O caso de Lady Sannox atingiu com louvor. Para mim, é o melhor dos seis contos de horror e esse sim tem a cara de um conto do Poe. Aqui tem tudo: vingança, gore, estranheza. O narrador começa fazendo uma fofoca sobre o notório caso de adultério entre lady Sannox e o nosso protagonista Douglas Stone. Fala sobre como a situação correu a boca miúda e fez com que o senhor da casa se saísse humilhado e tendo perdido status na sociedade inglesa. A história dá então uma volta e nos coloca na residência de Douglas, que é um médico respeitado. Ele está se preparando para ir a um de seus tórridos encontros com sua amante quando um cliente bate desesperadamente na sua casa em um horário inapropriado. Depois de muito convencimento (e muitas moedas na bolsa de Douglas), o médico aceita ir ver a esposa do senhor que parece estar com uma estranha paralisia provocada por um veneno que pode matá-la a qualquer momento. Esse é o encaminhamento da história que possui momentos bastante inesperados. Conan Doyle nos envolve e consegue enrolar o leitor de uma tal maneira que quando ele faz a virada narrativa no final, nos deu uma belíssima rasteira. A arte de um bom conto de terror está em dar um falso senso de segurança ao leitor. Quando tiramos o tapete que esconde a armadilha, estamos tão confiantes que caímos nela sorrindo. Para mim, esse conto tem ritmo, tem fluidez e tem o timing exato para a revelação fatal.


A segunda parte do livro contém seis contos de mistério e aí é um terreno familiar para o autor. Ele faz aquilo que sabe fazer bem e consegue criar histórias intrigantes. Só que gostaria que Conan Doyle tivesse arriscado um pouco mais porque na maior parte das vezes ele emprega um esquema formulaico demais e que não empolga. É como ler Agatha Christie: depois que você leu vinte romances dela, o vigésimo-primeiro precisa ser algo muito diferente ou me sinto entediado com aquilo. Os seis contos tem a mesma estrutura: apresentam um caso insólito, as buscas são iniciadas (com voltas, reviravoltas, descobertas, becos sem saída e súbitas revelações) até que ao final alguém conta todo o mistério detalhadamente, seja através de uma confissão ou de uma carta. Conan Doyle é ótimo em criar mistérios absurdos como o do trem desaparecido, mas os personagens são tão inócuos que sequer me lembro quem são. Tem o fulano da polícia, o ciclano detetive e o beltrano inspetor.


O trem especial perdido mostra um pouco da habilidade do autor em criar mistérios intrincados. Um trem especial contendo um passageiro importante desaparece subitamente. O inspetor inicia uma caçada ao tal do trem, buscando ver aonde ele poderia ter descarrilhado, em que estações passou e onde se encontra os passageiros. Conan Doyle nos coloca no drama das horas iniciais do desaparecimento em que todos fazem o máximo para encontrar o tal do trem. Mas, pouco a pouco as buscas vão ficando infrutíferas e a frustração vai se tornando evidente na expressão dos personagens. Cada nova descoberta leva a outro beco sem saída que vai tornando o caso inexplicável. E é o que ele é até que algo muda as coisas. Para mim, essa história é mais frustrante do que legal, porque não basta a gente só tornar as coisas impossíveis, é preciso dar um mínimo de esperança para que o leitor ache que o caso é passível de ser descoberto. O que acontece ao final é um tipo de deus ex machina disfarçado na forma de humildade e busca por redenção.


Já O Médico Negro é uma variante dos casos de mistério apresentados na coletânea. Se trata de uma narrativa de tribunal onde durante um julgamento um indivíduo tenta se livrar da condenação. Conan Doyle nos apresenta um médico negro que ganha ares de respeitabilidade em sua comunidade até o dia em que aparece morto. Todas as provas parecem indicar que a última pessoa que o visitou pode ter sido o responsável por seu assassinato e o fato de ele ser um marido ciumento que imagina que sua esposa possa estar tendo um caso com o médico piora tudo. Aqui, Conan Doyle brinca com as pistas, fornecendo um novelo para que o leitor possa desemaranhar. Os casos de mistério mais legais, para mim, são aqueles onde todos os fatos estão ali em nossa cara, bastando que façamos as conexões. Inserir dados inéditos desconhecidos pelo leitor me parece mais um golpe baixo do que apelar para a atenção do mesmo. Gostei da resolução do caso e o autor me enrola o suficiente para que me satisfaça ao final, mas meio que me senti enganado.


Essa é uma boa coletânea que apresenta outro lado de um autor que conhecemos. Vale pelos contos presentes (tem alguns bem legais mesmo) e por ser um ótimo material de estudos. Principalmente pelo fato de Conan Doyle ser inspirado e inspirar outros autores contemporâneos seus naquele contexto. O material está bem legal e vale a pena o leitor dar uma chance para ele. Penso também que quem não conhece Conan Doyle pode tentar começar por aqui já que várias de suas principais características e estilo narrativo estão presentes nos doze contos que compõem esta coletânea. Uma boa aposta da Escotilha.










Ficha Técnica:


Nome: Histórias de Horror e Mistério

Autor: Arthur Conan Doyle

Editora: Escotilha

Tradutora: Maria Luiza X. de A. Borges

Número de Páginas: 256

Ano de Publicação: 2019


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Harry August é o fruto de uma relação proibida entre um nobre do interior da Inglaterra e sua empregada. Mas, mais do que isso: ele faz parte de um pequeno grupo seleto de seres humanos cujas vidas se repetem indefinidamente.


Sinopse:


Certas histórias não podem ser contadas em uma única vida. Harry está no leito de morte. Outra vez. Não importa o que faça ou que decisões tome: toda vez que ele morre, volta para onde começou; uma criança com a memória de todo o conhecimento de uma vida vivida diversas vezes. Nada nunca muda... até agora.


Ele está perto da décima primeira morte quando uma garotinha de 7 anos se aproxima da cama: “Quase perdi você, doutor August. Eu preciso enviar uma mensagem de volta no tempo. O mundo está acabando, como sempre. Mas o fim está chegando cada vez mais rápido. Então, agora é com você.”


As primeiras quinze vidas de Harry August conta a história do que Harry faz em seguida, do que fez antes, e do que faz para tentar salvar um passado inalterável e mudar um futuro inaceitável.






Um dos grandes clichês das histórias de viagem no tempo é o da possibilidade ou não de alterar fatos históricos. O quanto gostaríamos de fazer isso e se somos as pessoas ideais para tomarmos esse tipo de decisão. No romance apresentado por Claire North, a autora busca responder essa pergunta através de um personagem capaz de repetir sua vida inúmeras vezes. Sempre carregando consigo as experiências de vidas passadas, ele passa a ter um conhecimento inestimável. Mas, será que devemos mexer naquilo que já aconteceu ou apenas desejamos ter poderes divinos para alterar aquilo que quisermos? Um romance que apresenta um dilema moral e vai colocar o leitor para refletir o quanto nossas vidas são cíclicas e as escolhas que fazemos apenas formam as fundações de nossas existências.


Sendo filho de uma relação extraconjugal entre um nobre rural inglês e sua empregada no começo do século XX, Harry August foi criado pelos seus familiares para ser homem humilde. Tendo buscado rumo em sua vida, Harry descobre que toda vez que ele morre, ele passa por toda a sua vida novamente. Em um ininterrupto ciclo de vida e morte. Ao longo de suas várias vidas, Harry erra e acerta muitas e muitas vezes se tornando uma pessoa com experiência de gerações. O que parecia ser uma vida monótona, logo se torna movimentada quando ele descobre fazer parte de um grupo de outras pessoas que também passam pelas mesmas experiências. Harry se vê em uma encruzilhada quando uma das pessoas com quem ele tem contato tem um audacioso plano para mudar o mundo. Como Harry irá lidar com essa questão e o quanto de sua vida cíclica poderá ser modificada para sempre?


Esta é uma história com um estilo de escrita bem peculiar. Harry parece estar fazendo um relato para nós de suas vidas anteriores. Ele narra as emoções e pensamentos que teve ao longo de muitas vidas onde o leitor vai conhecendo suas vivências e dissabores. A narrativa tem um cunho voltado para a contação de histórias mesmo, com um ritmo predominantemente narrativo. Em vários momentos o personagem perpassa um fluxo de pensamentos interminável e a história nem sempre segue uma linearidade certa. E quanto mais vamos experimentando as vidas do personagem, Harry vai e vem em suas vidas para mostrar alguns pedaços dela. Seja para ajudar a responder um questionamento de uma passagem ou para mostrar como ele lida com certas situações. A montagem de capítulos segue o estilo do gênero Young Adult, com cenas pequenas de poucas páginas alternando momentos rápidos de sua vida. A narrativa parece que ganha velocidade com essa escolha, mas já alerto que isso não é o caso. A autora tem uma mão pesada nos parágrafos narrativos e os capítulos que parecem pequenos se tornam bem maiores do que imaginamos. Na minha visão, ficou elas por elas e a autora conseguiu dar basicamente um ritmo normal às suas histórias apenas usando um artifício que no fundo não funcionou do jeito que ela imaginava.


Por ser um relato pessoal, boa parte da história se passa na caminhada de Harry ao longo de suas vidas. Por sorte, Harry é um personagem interessante e que não é exatamente aquele protagonista virtuoso. Em vários momentos ele toma decisões bastante questionáveis e não tem medo de andar por uma linha mais cinza de pensamentos e ações. Até porque sua própria existência é uma constante inquestionável e sua visão sobre a passagem do tempo vai se tornando mais borrada à medida em que suas vidas se passam. Se o leitor pensa que com isso há um senso de garantia de vida para ele, isso muda a partir da segunda metade da história quando alguns fatos se sucedem e a existência do personagem começa a ficar ameaçada. Se no começo, Harry é um personagem bem blasé, mais para a frente quando aparece um antagonista na história, isto faz com que ele precise se movimentar. É o antagonista que faz a história se movimentar, obrigando Harry a tomar agência de sua própria vida.



Se disse que a narrativa se foca muito no Harry, isso automaticamente me produz um defeito grave no livro. A falta de personagens mais aprofundados fora o protagonista e seu antagonista. North faz com que a gente pense que o personagem se importa com um determinado personagem inicial na trama, mas a autora não nos dá motivos para isso. A relação entre os personagens é mal abordada, parecendo um grão de areia em um imenso deserto. Outros personagens vem e vão e até existem alguns momentos bem sensíveis como o com Akinleye mais para o final da história, mas é tão sutil que não causa o impacto necessário. Isso é um pouco do que penso sobre a histórias: parece que as coisas passam como um soprar do vento. Nada gruda na história, se cola nele para gerar algo mais duradouro. Mesmo para mim que gosto de histórias que se focam em personagens, o que North faz é tão longe do ideal para mim que me incomoda. E isso porque a história não é ruim ou chata. Ela só está ali.


Como leitor de ficção científica, o ponto que me incomodou foi o aspecto da viagem no tempo. Porque, de certa forma, é o que a narrativa é. De diferentes formas, a narrativa de North me fez pensar em A Mulher do Viajante no Tempo, da Audrey Niffenegger. A ideia básica é mostrar uma pessoa capaz de viver determinados acontecimentos de sua vida diversas vezes. Os esquemas são diferentes e o resultado final é outro na obra de Niffenegger. Ela foi capaz de fazer algo que North não conseguiu: produzir uma narrativa de viagem no tempo cujas restrições eram bem lógicas e mesmo a gente questionando alguma coisa aqui e ali, a narrativa era muito bem conduzida. Já aqui não. Existem muitas conveniências na trama e na conexão com outros personagens. Cada vez que a autora se propunha a explicar alguma coisa, as coisas só pioravam. Algumas coisas eram fantásticas demais para acontecerem, principalmente quando o antagonista está movendo suas peças. Se torna algo difícil de aceitar, mesmo eu estando com a minha suspensão de descrença lá em cima. Tem algumas vezes que ela emprega alguns (no plural mesmo) deus ex machina que incomodam o leitor mais atento. Aliás... diga-se de passagem que o personagem ter memória eidética é uma baita de uma vantagem.


A boa e velha questão de interferir no passado volta à discussão e temos personagens que estão em lados diametralmente opostos. A posição de Harry vai se tornando mais fácil de entender porque ele é um indivíduo que tratou das questões do divino logo no começo de sua longa existência. Ele sanou suas dúvidas através do contato com a filosofia oriental cujo caminho para a iluminação segue por um trajeto mais longo do que o nosso. O antagonista é o típico indivíduo que se imagina capaz de fazer justiça. Através de um alto senso moral, ele sente que sua habilidade de julgar os acontecimentos pode guiá-lo na forma como a humanidade deveria enxergar sua existência. É óbvio que esse típico personagem moralista não vai pelo caminho certo porque as coisas não são maniqueístas como ele imagina ser. Esse é o conflito básico entre os personagens.


A narrativa é boa, e produz alguns momentos bem legais, mas peca bastante em outros. A primeira metade da história é perfeita para mim. Imaginava que North iria ficar mais na existência de Harry e seus conflitos morais. Ela toma um rumo de história de ação e espionagem na metade para a frente que me decepcionou. Se o livro continuasse a ser só um livro de ficção comum, como foi o livro de Niffenegger, ele teria sido mais eficiente em agradar o leitor. Talvez eu tenha esperado um livro diferente, e isso tirou parte do meu prazer na leitura do mesmo. Enfim, recomendo o livro, com algumas ressalvas aqui e ali no que diz respeito ao desenvolvimento de personagens e ao abuso de conveniências.











Ficha Técnica:


Nome: As Primeiras Quinze Vidas de Harry August

Autora: Claire North

Editora: Bertrand Brasil

Tradutor: Ângelo Lessa

Número de Páginas: 448

Ano de Publicação: 2017


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Conversa aberta. Uma mensagem lida. Pular para o conteúdo Como usar o Gmail com leitores de tela 2 de 18 Fwd: Parceria publicitária no ficcoeshumanas.com.br Caixa de entrada Ficções Humanas Anexossex., 14 de out. 13:41 (há 5 dias) para mim Traduzir mensagem Desativar para: inglês ---------- Forwarded message --------- De: Pedro Serrão Date: sex, 14 de out de 2022 13:03 Subject: Re: Parceria publicitária no ficcoeshumanas.com.br To: Ficções Humanas Olá Paulo Tudo bem? Segue em anexo o código do anúncio para colocar no portal. API Link para seguir a campanha: https://api.clevernt.com/0113f75c-4bd9-11ed-a592-cabfa2a5a2de/ Para implementar a publicidade basta seguir os seguintes passos: 1. copie o código que envio em anexo 2. edite o seu footer 3. procure por 4. cole o código antes do último no final da sua page source. 4. Guarde e verifique a publicidade a funcionar :) Se o website for feito em wordpress, estas são as etapas alternativas: 1. Open dashboard 2. Appearence 3. Editor 4. 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Em qui, 13 de out de 2022 13:18, Pedro Serrão escreveu: Opa Paulo Obrigado pela rápida resposta! Eu tenho um Interstitial que penso que é o que está falando (por favor desligue o adblock para conseguir ver): https://demopublish.com/interstitial/ https://demopublish.com/mobilepreview/m_interstitial.html Também temos outros formatos disponíveis em: https://overads.com/#adformats Com qual dos formatos pensaria ser possível avançar? Posso pagar o mesmo que ofereci anteriormente seja qual for o formato No aguardo, Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:15: Boa tarde, Pedro Gostei bastante da proposta e estava consultando a designer do site para ver a viabilidade do anúncio e como ele se encaixa dentro do público alvo. Para não ficar algo estranho dentro do design, o que você acha de o anúncio ser uma janela pop up logo que o visitante abrir o site? O servidor onde o site fica oferece uma espécie de tela de boas vindas. A gente pode testar para ver se fica bom. Atenciosamente Paulo Vinicius Em qui, 13 de out de 2022 12:39, Pedro Serrão escreveu: Olá Paulo Tudo bem? Obrigado pela resposta! O meu nome é Pedro Serrão e trabalho na Overads. Trabalhamos com diversas marcas de apostas desportivas por todo o mundo. Neste momento estamos a anunciar no Brasil a Betano e a bet365. O nosso principal formato aparece sempre no topo da página, mas pode ser fechado de imediato pelo usuário. Este é o formato que pretendo colocar nos seus websites (por favor desligue o adblock para conseguir visualizar o anúncio) : https://demopublish.com/pushdown/ Também pode ver aqui uma campanha de um parceiro meu a decorrer. 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