Resenha: "Projeto Manhattan vol. 2" de Jonathan Hickman e Nick Pitarra
- Paulo Vinicius
- 1 de jan. de 2017
- 5 min de leitura
E a conspiração continua. Um pouco de Guerra Fria, um pouco de revolta, muito de traição. Esses são os ingredientes desse incrível e explosivo segundo volume da aclamada série escrita por Jonathan Hickman e desenhada por Nick Pitarra.

Sinopse:
No segundo volume dessa aclamada série, o PROJETO MANHATTAN conta uma história alternativa a partir do final da Segunda Guerra Mundial, quando o governo americano reuniu os maiores cientistas da época para a criação da bomba atômica. Daí, as coisas mudam drasticamente... E se uma arma nuclear fosse a menor das horríveis criações que todos aqueles cientistas conceberam? O que aconteceria se aquele estranho grupo de supergênios, soldados e ex-nazistas fosse um bando de malucos degenerados? O que seria do mundo? Você verá versões de pessoas que existiram na nossa História atuando de maneiras que jamais imaginou antes e irá descobrir que tudo não passou de fachada para se colocar em prática muitas outras ideias esotéricas de ficção científica, como teletransporte, viagens dimensionais, robôs samurais kamikazes etc. Uma história repleta de ação, intriga, horror e que nos inspira um forte temor de que, às vezes, a Ciência pode ser algo muito, muito ruim.
Se o autor situou a sua história durante a Guerra Fria e cita o Projeto Manhattan nada mais justo do que começar a adentrar nos pormenores do conflito entre a ex-URSS e EUA. E o autor surpreende dando um toque único à narrativa. Esse foi um volume ainda mais fritador de cérebro do que o primeiro. E ele nos chama para ir junto nessa jornada.
Após o ultimato dado pelos alienígenas, os membros do Projeto Manhattan entendem que eles não são capazes de levar seus planos sozinhos. Para isso eles vão precisar de novos aliados. E vocês não fazem ideia de onde eles irão encontrar esses novos aliados. Truman percebe que o Projeto Manhattan vem se tornando cada vez mais independente não seguindo mais aquilo que o governo americano deseja. Para resolver o problema só existe uma saída: eliminar todos os membros do Projeto Manhattan. Truman irá reunir todos os membros do conselho secreto que controla o mundo para decidir o que fazer e como atacar. Vai se iniciar uma guerra entre os interesses americanos e os interesses do projeto. Enquanto isso no lado soviético, vemos o que aconteceu com os fugitivos do regime nazista que não foram capturados pelos americanos. Eles são levados para a Cidade das Estrelas, o ápice da ciência soviética e lá veremos como eles criarão o seu próprio projeto científico. E um dos membros do Projeto Manhattan entrará em guerra consigo mesmo. E isso pode deixar o projeto no caos total.
Esse volume é repleto de informações e destaques por todos os lados. Por isso eu achei a arte também um pouco confusa. Isso porque Pitarra precisa mudar seu foco a todo momento. Apesar de que as edições que se passam na URSS e o capítulo sobre Oppenheimer são lindos. Alguns capítulos eu não gostei como a sequência da reunião entre os projetos lá no meio do volume. Muitos quadros de fala em que a história acaba passando de forma truncada. São simplesmente cabeças falando com outras cabeças. Eu acho que esse trecho poderia ter ficado melhor de outra maneira. Acaba sendo expositivo demais. Entretanto o visual da Cidade das Estrelas é absurdo. Adorei como Pitarra imaginou um projeto soviético. Não é simplesmente copiar o modelo americano do Projeto Manhattan dentro de um laboratório. Ele criou algo completamente original e diferente. O visual dos prédios remete muito a Moscou da década de 1960. Ou pelo menos como nós imaginamos que possa ter sido a cidade. O capítulo da reunião do conselho secreto também é muito legal. A estranha orgia proporcionada pelos membros do conselho é bizarro e intrigante ao mesmo tempo. De onde eles tiraram as ideias para todas as imagens daquele quadro? Caraca... e o visual de cada um ficou muito bom. O luchador, o homem gordo, o Truman com aquele visual asteca. Pitarra caprichou nas inspirações para os modelos. E parece até que o Hickman e o Pitarra estão na mesma sintonia. Meu destaque vai para o capítulo que se passa na mente do Oppenheimer. Ali eu percebi muitas inspirações de psicologia para espalhar as cores e as representações visuais da psiquê do indivíduo.

Vou continuar a falar deste capítulo aqui porque acho importante relacionar desenho e roteiro. Houve a necessidade ali de que os dois andassem em conjunto. A disputa entre ego e superego ali é o que move a história. Eu fiquei refletindo depois que o ato do Robert de devorar o seu gêmeo pode ser entendido à luz da psicologia. Isso porque Hickman criou a ideia dos gêmeos Oppenheimer para criar um novo personagem inescrupuloso que não vê obstáculos morais para cumprir seus objetivos. Mas, percebam uma coisa: nenhuma das pessoas que se envolvem com Oppenheimer neste primeiro e segundo volumes o chamam pelo primeiro nome. E se a ideia dos gêmeos for mais um elemento da imaginação do personagem. Porque ele pode ser mais uma coisa criada pela mente dele para justificar uma outra personalidade. Pode não haver gêmeo nenhum. Aliás, Robert pode até ter forjado a identificação. Eu me lembro só de um quadro em que o major menciona o irmão de Robert. Mas também pode ser imaginação do personagem. Para mim este foi o capítulo que mais me surpreendeu.
A ideia da Guerra Fria aparece bem mais claramente neste volume. Enquanto que no primeiro o autor deixa para apresentar os personagens, nesse ele escolhe escalar o conflito. Não vou entrar em muitos detalhes para não dar spoilers. Basta saber que tudo o que acontece neste volume evolui um pouco da discussão do primeiro. A ciência não pode medir objetivos para alcançar o seu fim. Mesmo que para tal ela incorra em uma desobediência civil. E é isso o que acontece. Junte cientistas malucos em um mesmo canto e dê poder suficiente a eles e isso é o que pode acontecer, na visão de Hickman. A aliança que eles formam depois é mais uma maneira de ignorar os governos. Eles seguem com a ideia de que os meios não importam. E isso é praticamente um mote da série. O chefe do outro programa até tenta argumentar contra, mas percebemos que ele vai sendo convencido à medida em que as vantagens de entrar em contato com elementos além da imaginação dele vão sendo postos à mesa. Chega a ser natural a traição deles em relação ao seu governo.

Impossível não comentar sobre o lado soviético comentado no início do volume. Genial a abordagem de Hickman de como a URSS persegue os EUA durante a Guerra Fria. E vemos que a abordagem soviética se baseia na corrida espacial. A maneira como eles se relacionam com os cientistas capturados durante a Segunda Guerra é uma analogia à maneira que os americanos também fizeram. Será que foi tão diferente assim? Para mim, os cientistas alemães foram tratados da mesma maneira: como se tivessem sido marcados. A ascensão do general Ustinov demonstra o desespero dos soviéticos por resultados. Eles queriam a todo custo serem os primeiros a chegar ao espaço. Depois a piada que Hickman fez ao nos apresentar a quase ingenuidade de Yuri Gagarin, tentando frisar que ele foi o primeiro a chegar ao espaço foi genial.
Este segundo volume foi repleto de novas informações e deixou o leitor salivando para ler o próximo volume. Em qualidade de roteiro este estava melhor do que o primeiro. Mas, fiquei um pouco decepcionado com algumas opções visuais escolhidas pelo desenhista. Elas acabaram prejudicando um pouco a qualidade deste volume. O primeiro capítulo e o último foram os melhores porque me pareceu que desenhista e roteirista entraram em uma mesma sintonia.


Ficha Técnica:
Nome: Manhattan Projects vol. 2 Autor: Jonathan Hickman Artista: Nick Pitarra Editora: Devir Gênero: Ficção Científica
Número de Páginas: 150
Tradutor: Não Informado Ano de Publicação: 2016
Outros Volumes:
Projeto Manhattan vol. 4
Projeto Manhattan vol. 5
Projeto Manhattan vol. 6
Link de compra:

コメント