No último volume contendo mais páginas, a nave Sidonia está cercada por naves Mass Union. Com a maior parte das tropas próximas à estrela Lem, somente alguns pilotos restaram. E Tanikaze se junta à frota principal para um épico combate. Mas, Kanata ressurge para complicar as coisas.
Sinopse:
A nave Sidonia consegue escapar por pouco do ataque dos Gaunas e do cientista Ochiai, que voltou como uma Quimera. Porém, a Segunda Tropa de Ataque sofreu sérios danos causados pela Nave Mass Union, e Tsumugi, envolvida nesse conflito, fica fora de combate. Para piorar, uma tropa de Naves Mass Union avança em direção à Sidonia e à Primeira Tropa de Ataque. Nagate deixa sua nave natal sob a proteção de Kunato, e com o Guardião Modelo 20, Yukimori, ele parte! O momento da batalha final é agora!!
Muitos spoilers!! Esse é um balanço final da série!
Vou me permitir discutir pontos sobre a série como um todo e não vou me preocupar muito com spoilers aqui. Vai ser uma postagem para compartilhar minha experiência com o todo. Recomendo que você acompanhe essa postagem apenas se você leu. Não pretendo dar spoilers gigantes, mas algumas coisas podem sair aqui.
Nesse volume final, vemos a guerra total entre a Sidonia e os gaunas, com o aparecimento súbito do Kanata no meio do combate. Temos duas frentes: na Sidonia, Nagate desperta e a capitã Kobayashi o envia para a linha de frente junto com a nova unidade Tsukikaze. Isso mesmo a Sidonia se vendo cercada por Mass Unions que aparecem subitamente em sua frente. Fica a cargo do Kunato atual (o Norio) deter essa nova ameaça. Já Nagate se encontra com o primeiro esquadrão que está sem saída diante de uma horda infindável de gaunas. No que já era uma situação desesperadora se torna ainda pior quando Ochiai surge na quimera Kanata e parte para absorver as unidades de conversão que são a única esperança de derrotar a Mass Union gigante. Shinatose está junto da unidade de reconhecimento para tentar encontrar o núcleo principal da Mass Union gigante e o tempo parece estar chegando ao fim porque a nave gigante começa a se movimentar.
Antes de falar de alguns temas deste último volume vou repassar a série como um todo. Artisticamente gostei de o quanto o Nihei gosta de algumas ideias bem interessantes. Ele é ótimo para pensar designs de seres biomecânicos. Não tem o menor medo de abandonar uma abordagem mais retilínea por formas mais assimétricas. No esquema de quadrinização ele é bem diferente dos mangakas normais. Ele aposta bastante nas páginas duplas para dar aquele efeito mais dramático nas cenas. Quadros esticados também. Na construção de cenários ele também apresentou alguns designs bem arrojados. Sidonia realmente parecia uma enorme nave-lar para os humanos. Com direito a casas, espaços de trabalho, de lazer, e até caminhos secretos. A própria nave foi um personagem ao longo dos volumes, tanto que o momento mais dramático de toda a série envolveu a destruição da própria nave e a ameaça de seu desaparecimento. O design de personagens era bem sóbrio e tirando aqueles que eram andróides ou quimeras, não tinha nada que fosse absurdo ou bizarro. A série era uma boa ficção científica mais pesada e não negava essa identidade.
No que diz respeito à ação, o autor conseguia entregar ótimas cenas. Sempre ficava atraído por como ele tinha uma boa noção de tridimensionalidade. Desenhar cenas aéreas ou espaciais é algo complexo porque é preciso pensar em três eixos. Se o autor não tiver uma boa noção de espacialidade, todo o trabalho que ele teve de montar uma situação específica deixa de ter efeito para o leitor, pois a movimentação de personagens e objetos deixa de ser verossímil. Agora preciso me queixar de o quanto o estilo no lápis dele me incomodou. Se fosse algo preciso ou belo, como Jiro Taniguchi faz, eu não me incomodaria. Mas o lápis do Nihei parece estranho e fora de compasso. Imagine você ter um lindo design de cenário por desenhar e não dar profundidade a isso. Me soa um desperdício de oportunidade. Mesmo nessa edição, temos um momento bastante dramático com a tripulação do Sidonia ameaçada de destruição iminente e as pessoas correndo para lá e para cá em cenários que parecem apenas mal desenhados. Sei que alguns leitores curtiram esse efeito do autor, mas para mim só pareceu preguiça mesmo.
O desenvolvimento de personagens também foi um ponto a ser bastante elogiado. É óbvio, por exemplo, acompanhar a jornada do herói feita pelo Nagate. Nesses últimos volumes, o personagem deixou a sua casca de lado tornando-se um personagem bastante confiável. A ponto de ele se tornar um membro do conselho decisório e ter voz ativa. Ele e Tsumugi passaram a ser um diferencial para a tripulação. O mesmo pode ser dito em relação à sua vida amorosa. Mesmo o autor optando por dar ares de dúvida e deixar no ar com quem o Nagate iria ficar, ficou claro nas últimas edições (apesar de eu só entender agora em retrospecto) que o personagem tenderia para a escolha menos provável. Sim, ele optou pela Tsumugi. Em alguns momentos ficamos com a expectativa de que ele e a Shinatose iriam engatar um namoro, mas aquele momento a sós lá no volume 13 selou tudo. O Nagate que chega nesse volume é o capitão de todo um coletivo de guardiões e nas mãos dele está o destino da humanidade. Não é uma situação acidental, mas algo que passou vários volumes fermentando. Posso discutir a motivação final dele contra o Kanata, mas vou deixar para discutir isso mais abaixo.
Se o arco do Nagate foi interessante, para mim a Shinatose foi o ponto alto de Sidonia. Ela tem um arco muito interessante. Ela é uma personagem queer, cuja sexualidade não é bem definida no começo. Tanto que ela se refere a si mesma e os outros a ela com neutralidade. Posso dizer ela numa boa agora, e me desculpem por não usar o elu antes, porque a Shinatose acabou optando por ser feminina. Ela vai se tornando mais feminina e ajusta seu corpo para isso. Passa a usar roupas menos neutras e revela o seu interesse amoroso pelo Nagate. Aliás, ela se declara de fato. A personagem acabou por demorar demais para revelar seus sentimentos, mas isso não foi uma forçação de barra do autor. É mais porque a personagem não tinha certeza sequer sobre si mesma, quem dirá se envolver com outra pessoa. Assim que ela passou a se aceitar, e se descobriu feminina, ela passou a ter mais coragem para assumir o que estava em seu coração. Mas, nem tudo são flores, já que quando você se declara, isso não significa um sim automático. E a Shinatose levou um fora, mas entendeu as coisas numa boa. O que achei legal foi que o autor mostra para os leitores que é possível sim ter uma amizade saudável com um ex-interesse amoroso. E Nagate se preocupa verdadeiramente com a Shinatose. E achei o final dela maravilhoso porque era algo que também estava fermentando no fundo. Quando surge, achei super natural.
Vou usar o arco da Tsumugi para fazer a ponte para a discussão sobre o enredo proposto por Nihei. No meio da série vemos uma quimera surgir a partir da Hoshijiro-gauna. E grave bem isso. A Hoshijiro que foi copiada pelos gaunas dá origem à Benisuzume que é inteiramente gauna e à Tsumugi, pois parte da placenta foi empregada para dar origem a ela. Lembrem-se que tínhamos uma versão bizarra da Hoshijiro nas indústrias Toua. Tsumugi aparece como um experimento bizarro do Ochiai em sua busca pelo novo tipo de ser humano. Na visão dele, e na de Kanata posteriormente, Sidonia precisava ser destruída para que desse origem a uma nova espécie de ser humano, fruto da mescla de gaunas e homens. As quimeras seriam esse caminho. O que ele não contava é que a Tsumugi se tornaria humana demais. O contato que ela teve com Nagate, Shinatose e a Yuhata serviu para fazê-la aprender a conviver com outras pessoas. Ela poderia ter se transformado em um ser muito diferente caso as circunstâncias fossem diferentes. A diferença dela no volume anterior para quando ela nasceu era gigantesca; não à toa Ochiai perde o interesse nela. A Tsumugi desses volumes finais estão preocupada em como ela poderia se tornar alguém que pudesse estar ao lado do Nagate. Tem uma conveniência que acontece no final que me incomodou, mas isso é fruto do caminho escolhido pelo autor para o seu enredo.
E aí eu encaminho para o ponto do enredo. E o Nihei consegue entregar uma boa história, mas ele faz escolhas seguras demais. Ele inova em muita coisa ao longo das edições com toda a discussão sobre imortalidade, sobre gênero, sobre amor entre pessoas de espécies diferentes. No entanto, esse volume final me decepcionou pelo fato de ele ter preferido apostar em algumas soluções que apenas nos entregaram uma boa história. Não me entendam mal, Sidonia é melhor do que muitos mangás pretensamente scifi que vi por aí. Mas, queria algo épico. Tem um personagem que ele mata e depois ressuscita porque queria algo bonitinho acontecendo que me incomodou bastante. Não havia a necessidade de trazer de volta. Bastava que o personagem caído servisse de inspiração ou trouxesse boas lembranças para quem ele deixou para trás. Por outro lado, ele consegue fechar todas as pontas soltas deixadas para trás e introduz novos elementos para que a gente possa imaginar algum tipo de continuação.
Para mim, o problema maior do enredo não foram as pontas soltas, mas o que não foi dito. Ou a motivação final pelo qual alguns personagens lutaram. Por exemplo, Nihei nunca chegou a contar quem verdadeiramente são os gaunas. Então ficou só naquela de que eram alienígenas que estavam ali impedindo os seres humanos de colonizar outro planeta. É só isso? Teve um momento no volume 12 que parece que os gaunas estavam ganhando formas de se comunicar com os seres humanos e daí veríamos dois lados diferentes da disputa. Achei que fosse isso. Mas, isso nunca mais foi retomado com Nihei se voltando mais para o despertar do Ochiai e o enredo amoroso entre Nagate e Tsumugi. Outro ponto que me desagradou foi o motivo pelo qual Nagate combate o Ochiai no final. Não há nenhuma discussão filosófica ou moral sobre a coisa. Nagate quer matar o Ochiai porque ele é um cavaleiro de Sidonia. Ok, mas o que isso significa exatamente? Que ele é um defensor da nave? Da humanidade? Daqueles que ele ama? Não ficou claro. Me pareceu uma frase de efeito tola apenas.
Sidonia é uma daquelas séries que guardo no coração porque ela se comunica com o fã de ficção científica que vive dentro de mim. É uma história com bons pontos, que consegue trazer algumas inovações de enredo. Nihei não é bobo e esconde várias temáticas marcantes no meio da confusão tecnológica que ele cria. Só de colocar uma sugestão de relacionamento sério entre a Yuhata e a Shinatose, no período em que ele escreveu, já foi bastante corajoso. E a ideia do romance não era ser um fan service gratuito, mas algo sério e com implicações. Algumas decisões de enredo me incomodaram, mas a série cumpriu bem o seu papel, o de divertir o leitor. A arte é bem legal e quem curte robôs gigantes, criaturas bizarras e situações malucas vai ter um prato cheio. Nihei não teme criar algumas das criaturas mais bizarras que já vi nos últimos anos. No mais, recomendo que todos leiam essa série e vão de coração aberto para esses personagens. Vivam a vida em Sidonia junto com eles. Sofram com eles. Se alegrem com eles. E ao final de tudo, fiquem felizes por suas jornadas.
Ficha Técnica:
Nome: Knights of Sidonia vol. 15
Autor: Tsutomu Nihei
Editora: JBC
Tradutor; Denis Kei Kimura
Número de Páginas: 190
Ano de Publicação: 2018
Outros Volumes:
Vols. 9 e 10
Vols. 11 e 12
Vols. 13 e 14
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