Nesta segunda parte de nossa resenha sobre essa coletânea, temos algumas histórias incríveis como O Nariz, de Gogol e A Vênus de Ille, de Prosper Merimee. Confiram!

Nesta segunda parte de nossa resenha, falamos dos seguintes contos:
7 - "A Mão Encantada" (de Gerard Narval) - 1832
8 - "O Jovem Goodman Brown" (de Nathaniel Hawthorne) - 1835
9 - "O Nariz" (de Nikolai V. Gógol) - 1835
10 - "A Morte Amorosa" (de Theophile Gautier) - 1836
11 - "A Vênus de Ille" (de Prosper Merimée) - 1837
12 - "O Fantasma e o Consertador de Ossos" (de Joseph Sheridan Le Fanu) - 1838
7 - "A Mão Encantada"
Autor: Gerard Narval" Avaliação:

Publicado originalmente em 1832
Traduzido por Rosa Freire D'Aguiar
Os duelos fazem parte da tradição romântica clássica. Toda vez que eu lembro de um duelo, remeto imediatamente a D'Artagnan desafiando os três mosqueteiros, na célebre história de Alexandre Dumas. Narval cria uma história muito espirituosa com um personagem pouco capacitado para fazer uma luta decente. Mas, ele certamente vive algumas situações bem bizarras e engraçadas. Ou seja, o autor subverte o tema do duelo entre dois cavaleiros com um protagonista que tenta obter alguma vantagem e acaba se dando mal. O leitor acaba ficando com pena do personagem porque ele nem é uma pessoa mal intencionada, apenas se meteu em uma bela enrascada.
Eustache Bouteroue é um aprendiz de alfaiate que tem uma vida comum. No começo Narval fala um pouco da difícil vida de aprendiz nas mãos de mestre Godinot, um burguês miserável que parece uma versão bizarra do tio Patinhas. Godinot explora Eustache a torto e a direito até o dia em que o protagonista consegue finalmente se libertar do mestre alfaiate. Ele se casa com uma bela mulher e vive uma vida comum e medíocre como casado. Sua mulher, uma pessoa de fino trato e de bons modos, recebe um primo em sua casa que é qualquer coisa menos educado. Se metendo em todo tipo de situações vexatórias, Eustache chega a desconfiar da relação entre sua mulher e este homem. Um dia, este primo volta bêbado de uma de suas festas ao lado de seus amigos e falta com o respeito ao protagonista. Cansado dos abusos do indivíduo, ele acaba se metendo em um duelo com o primo. Só tem um problema: Eustache não sabe manejar uma espada. Ele vai procurar um cigano para tentar encontrar algum meio mágico para lhe dar algum tipo de vantagem. Bem... aí é que as coisas vão ficar realmente estranhas.
Narval é um belo de um narrador. Tirando o fato de que algumas coisas são completamente irrelevantes para a história, mas ajudam a apresentar o caráter do protagonista. Ele faz todo um prólogo apresentando a vida de Eustache como aprendiz apenas para demonstrar o quanto o personagem é passivo em relação às coisas que acontecem com ele e com as pessoas ao seu redor. O começo é uma bela crítica à burguesia francesa. A apresentação de homens que apenas desejam explorar os mais pobres e consideram as outras pessoas seus capachos. Mestre Godinot é pintado com aquela imagem típica do negociante maldoso: baixinho, calvo, olhar malandro e um nariz grande e quadrado. É quase um estereótipo desse tipo de personagem. Mesmo assim, Narval consegue dar muita personalidade a um personagem que não vai ser aproveitado na história. Por que???
A narrativa é muito bem humorada. Ela é contada por um narrador que quase sempre quebra a parede e não se preocupa nem um pouco com uma sequência meio lógica dos acontecimentos. E é isso que faz da história tão genial. O narrador comenta sobre o que se passa e apresenta algumas cenas dignas de um filme de comédia. Tem uma cena com o magistrado que eu me lembro de ter caído na gargalhada. Parece algo saído de Os Três Patetas. Ou no final com os acontecimentos bizarros em cima do patíbulo. O pobre protagonista é muito inocente e acaba caindo na armadilha do cigano. Só faltou explicar qual o motivo para o cigano aprontar aquela para o protagonista.
De qualquer forma, A Mão Encantada é uma das melhores histórias que eu li nesta coletânea. Só deixo um aviso: Ítalo Calvino dá um spoiler gigantesco na apresentação do conto. Ele conta o final!!!! Minha recomendação é pular uma página e partir direto para a narrativa. Narval entrega uma história de muita qualidade para os leitores, repleto de críticas sagazes sobre a sociedade francesa do século XIX ao mesmo tempo em que apresenta algo absurdo.
8 - "O Jovem Goodman Brown"
Autor: Nathaniel Hawthorne Avaliação:

Publicado originalmente em 1835
Traduzido por Ricardo Lísias
Não existem pessoas inocentes nesse mundo. Essa é uma premissa da qual Nathaniel Hawthorne faz questão de lembrar em suas histórias. Assim é com A Filha de Rappaccini, e assim é com O Jovem Goodman Brown. Aqui somos colocados no papel deste personagem, que acredita que sua esposa é uma mulher casta e religiosa e vai se descobrir sendo levado a um lugar onde estranhos rituais são realizados. Pessoas que ele acreditava serem de alta confiança e honestidade revelam ser devassos malditos. Toda a sua imagem da humanidade cai por terra e é esse o tema principal tratado pelo autor.
Este parece ser um conto ingênuo, mas precisamos lembrar que vivemos em uma sociedade cuja religiosidade não faz parte do cotidiano. Como Nietzche diria em suas obras, Deus está morto. Para o mundo de Hawthorne, a fé e o respeito às normas religiosas ainda fazem parte do lugar social das pessoas. Isso apesar de estarmos em um século em que o movimento iluminista ganha muita força e causa o questionamento da fé diante da razão. E isso acaba se revelando na própria postura das pessoas em relação ao seu respeito em relação à fé. Hawthorne nos coloca diante de pessoas hipócritas que apenas mantém uma aparência de religiosidade, quando na verdade realizam todos os hábitos pecaminosos que assim desejam. Curiosamente esse é um espelho do que passamos nos dias de hoje com algumas religiões. Usamos uma máscara quando estamos diante de frequentadores de uma religião, e outro quando estamos no universo privado.
Outro elemento presente na trama de Hawthorne é a confiança ou a quebra de expectativa da parte do personagem. Goodman Brown vai aos poucos ficando sem chão à medida em que pessoas das quais ele tinha expectativas acabam se revelando completamente diferentes. Quando a narrativa chega em seus momentos derradeiros, o protagonista já não sabe mais reconhecer a sua realidade. Isso porque todas as suas premissas caíram por terra e ele não tem mais aquela familiaridade que ele tinha no dia anterior. A narrativa de Hawthorne vai fazendo essa evolução progressiva e consegue criar uma tensão no leitor. O autor não apressa a narrativa e vai colocando ponto atrás de ponto até que acontece a virada narrativa no final.
Mesmo o elemento fantástico sendo bem sutil, Hawthorne consegue ser bem sucedido ao criar no leitor a dúvida se os fatos ocorridos antes realmente aconteceram ou foram fruto da mente fértil do protagonista. É uma narrativa que provoca também uma reflexão sobre que tipo de sociedade vivemos e o quanto somos hipócritas ao empregar máscaras sociais para esconder o que realmente sentimos.

9 - "O Nariz"
Autor: Nikolai V. Gógol Avaliação:

Publicado originalmente em 1835
Traduzido por Arlete Cavaliere
O tema de membros sendo separados dos corpos volta à tona em O Nariz. E assim como a narrativa de Narval, O Nariz é um conto estranho e curioso que nos coloca diante de mais críticas sociais. Fico pensando em o quanto o gênero satírico é o ideal para realizarmos este tipo de comentário, seja colocando em xeque algum grupo social ou apenas tecendo críticas sobre o governo. No caso, aqui lidamos com o segundo exemplo. Gógol nos coloca diante de um personagem que acaba precisando enfrentar todos os problemas da sociedade russa do período para tentar resolver o seu dilema.
O major Kovaliov é mais um dos vários personagens em uma sociedade russa cujo título pode ser obtido por qualquer motivo, bastando ter dinheiro para adquiri-lo. Ele costuma visitar o barbeiro Ilya algumas vezes por semana para aparar a sua barba. O barbeiro é um homem meio sujo que não costuma limpar suas mãos entre o atendimento de clientes. Suas mãos fedem e alguns deles reclamam disso. Infelizmente Ilya mantém seu hábito até porque fazer a barba é o seu ganha pão. Outro de seus hábitos é o de segurar o nariz de seus clientes para poder aparar a barba abaixo do queixo. Hábito esse mantido apesar do desgosto deles que precisam lidar com o cheiro das mãos de Ilya. Um dia enquanto atendia Kovaliov, aparentemente o barbeiro parece ter arrancado o nariz do major. Ele volta com o nariz em suas mãos para seu total desespero. Por sorte, o major ainda não percebeu, e Ilya sai correndo para se livrar da prova de seu crime. Por outro lado, Kovaliov acorda no dia seguinte com uma tábua reta no lugar de seu nariz. O personagem sai aturdido pela cidade procurando o seu nariz, que aparentemente resolveu dar uma voltinha.
Esta história tem alguns momentos absolutamente bizarros. Talvez nada supera a cena de Kovaliov discutindo acaloradamente com o seu... nariz. Gógol apresenta o nariz do major quase que como uma pessoa, tendo a capacidade de agir por si só. Apesar de ele apenas estar no rosto de outra pessoa. Essa personalização do órgão cria umas cenas bizarras como o major correndo desesperadamente acima da ponte. Ou posteriormente quando Kovaliov tenta reimplantar o nariz de volta e acontece uma cena que eu não quero nem contar para não estragar a surpresa. Esse bom humor de Gógol se relaciona também com uma aparente auto-análise do personagem que se vê precisando reavaliar a maneira como enxerga a si mesmo.
Ao mesmo tempo a burocracia é profundamente criticada pelo autor. No começo temos a fala sobre a absoluta inutilidade de determinados cargos ocupados por pessoas como Kovaliov. Ele apresenta vários exemplos de o quanto alguns deles podem ser apenas adquiridos pelo preço certo ou de como algumas pessoas são completamente despreparadas para assumir determinadas funções. No caso dos militares, há a crítica adicional de que algumas dessas pessoas acabam morrendo logo, devido às guerras empreendidas pelo país. Em outro momento, vemos a individualidade das pessoas que cercam Kovaliov. Nenhum deles se prontifica a ajudá-lo, tomando-o por sua aparência e preferindo manter uma certa distância dele. Ou seja, Gógol comenta que a Rússia do século XIX é uma sociedade de aparências onde as pessoas são julgados ou por seu dinheiro, ou por sua aparência ou até pelo cargo que ocupa. Vemos o quanto Kovaliov se ressente da impossibilidade de frequentar as festas da nobreza e o quanto os seus planos para o casamento com uma mulher de boa família foram prejudicados pela falta de seu nariz. Chega até a pensar que o ocorrido tenha sido perpetrado por alguém querendo prejudicar a sua ascensão social.
O Nariz aparentemente é um conto com situações bizarras e engraçadas, mas se analisarmos a fundo o que o autor nos apresenta vamos ver a riqueza de detalhes sobre um país em um princípio de modernização e industrialização. Com uma escrita segura e precisa, Gógol nos faz questionar sobre a futilidade de como enxergamos a nós mesmos e qual é o nosso papel em nosso meio social. Afinal, um nariz pode fazer a diferença entre um bom casamento e o completo ostracismo.
10 - "A Morte Amorosa"
Autor: Theophile Gautier Avaliação:

Publicado originalmente em 1836
Traduzido por Rosa Freire D'Aguiar
Aqui temos uma história de vampiros. Estava demorando para aparecer uma. Sabemos que durante o século XIX histórias sobre estes seres acabaram se tornando muito comuns. Isso porque a figura do vampiro era empregado para mostrar a depravação do homem. O vampiro é uma criatura sobrenatural que mostra o nosso lado sedutor e macabro ao mesmo tempo. Ao desrespeitar as regras da religião, o vampiro libera todos os desejos carnais de um indivíduo atacando precisamente em sua libido e ampliando-a. No conto de Gautier vamos ver algumas características que vão ser utilizadas por Bram Stoker mais tarde e popularizar esta criatura.
Romuald é um padre de uma diocese e tem sua vida completamente afetada quando encontra em sua missa com a bela Clarimond. Ah, Clarimond de pele pálida, toque gélido e olhos como lascas de cristal que lancetaram seu coração. Desde esse encontro, nasce uma obsessão e uma paixão que cegam as virtudes do padre. Ele persegue e é perseguido pela figura dessa fêmea que não abandona mais a sua vida e os seus sonhos. Romuald chega a mudar de paróquia apenas para ficar mais próximo de sua amada. Mas, os boatos que giram em torno de sua figura são escabrosos com ela hospedando orgias que duram diversos dias. O bispo Serapión alerta Romuald de estar junto de uma figura tão mal falada, já que estes boatos podem esconder algo de real. Mesmo assim, o amor do padre pela jovem meretriz é inefável. Mas, Clarimond pode ter segredos obscuros e estarrecedores.
Neste conto, Gautier trabalha a luta entre o sagrado e o profano. Romuald tem sua virtude questionada quando ele se apaixona por uma bela mulher. Aliás, o conto tem alguns momentos de extrema sensualidade se pensarmos que sua narração é feita em primeira pessoa. Ou seja, é o próprio padre quem conta como ele foi enfeitiçado por esta bela e maldita criatura. Ele descreve as curvas de seu corpo e o quanto ele deseja afogar seu ser em toda a extensão de Clarimond. Inicialmente, o padre é relutante, mas os encantos da mulher vão obscurecendo a sua razão. Quando ele se dá conta, ele está enredado por sua sedução e não é mais capaz de escapar por si só. Há de se analisar aqui o quanto a mulher é colocada como um ser pecaminoso e capaz de fazer os homens ignorarem a razão. Estamos falando de uma outra época, mas é preciso pontuar isso.
Gostei bastante da narrativa de Gautier, apesar de em alguns momentos ela parecer um pouco cansativa. Por ser um conto com características tipicamente românticas, ele acaba se estendendo em longas descrições que podem incomodar um pouco. Além do que o protagonista sofre por amor, então vários momentos são de suas lamentações por não poder estar ao lado de Clarimond. Por outro lado, é um conto que mostra um pouco de como o mito do vampiro foi tomando forma pouco a pouco até chegar ao Drácula, de Bram Stoker, que aproveita vários clichês e temas trabalhados por autores como Gautier e Le Fanu.

11 - "A Vênus de Ille"
Autor: Prosper Merimée Avaliação:

Publicado originalmente em 1837
Traduzido por Rosa Freire D'Aguiar
A Vênus é sempre representada como a deusa do amor, aquela que apadrinha os amantes. Mas, ela também pode ser uma megera ciumenta. Prosper Merimée nos coloca diante de uma Vênus que pode ser mortal. Isso em uma narrativa que trata um pouco da vaidade dos homens e o quanto eles adoram ídolos que não mais existem.
Na narrativa somos colocados na pele de um homem que está indo visitar a mansão de um antiquário local, Monsieur Peyrehorade. Um antiquário com suas manias de colecionador e seu enorme amor por uma estátua de bronze de Vênus que ele mantém em seu jardim. Quando nosso protagonista chega, o velho passa horas e horas descrevendo detalhes de sua pesquisa e seus insights sobre a imagem para ele. É engraçado o quanto o protagonista já está acostumado com esse tipo de pessoa e acaba apenas deixando o velho comentar sobre sua paixão. A estadia dele se prolonga e ele acaba se envolvendo nos preparativos para o casamento de Monsieur Alphonse e sua noiva, a Mademoiselle de Puygarrig. Esta é uma moça de ares esbeltos, recatada, mas absolutamente comum. Entretanto, Alphonse está pensando na riqueza que vai obter a partir do casamento, então está tudo bem. Bem... isso até um jogo de pela que acontece no dia seguinte, e Alphonse, para mostrar que é um ótimo jogador, deixa o seu anel de noivado no dedo da Vênus para poder jogar melhor. Bem... isso vai produzir uma situação bem estranha na história.
Dá para nós falarmos de vários temas da narrativa. Antes de mais nada, a escrita de Merimée é bem tranquila de se acompanhar, além de a tradução estar excelente. A gente vai sendo envolvido pela narrativa e percebendo as manias da família no campo, o casamento e a presença estranha da estátua. Os personagens são um pouco como caricaturas de tipos sociais da época. Monsieur Peyrehorade é o típico velho nobre, dono de muitas terras e com hábitos excêntricos. Sua paixão pela Antiguidade Greco-Romana se manifesta através de uma paixão pelo legado e pelos mistérios dos deuses antigos. Já Monsieur Alphonse é o típico herdeiro rico que tem uma vida fácil e sossegada. Quer demonstrar sua superioridade em relação a outras pessoas a todo custo mesmo que para isso precise humilhar os outros. Não tem grandes objetivos na vida. Percebam o quanto Merimée consegue construir bem esses estereótipos ao mesmo tempo em que dá individualidade a cada um deles.
Outro tema bacana é o da vaidade. Vênus representa o amor, mas ao mesmo tempo é associada à vaidade e à beleza externa. A estátua colocada por Merimée na história tem um olhar malicioso, mesmo para uma estátua. Ela desperta o encanto apenas no velho senhor que tem uma relação estranha com sua posse. Mas, essa vaidade também está presente na forma domo Monsieur Peyrehorade fala de suas pesquisas e de seus feitos. Ele chega até mesmo a questionar a expertise do protagonista, desafiando suas conclusões com afirmações próprias. Já o rapaz tem a vaidade do jovem, daquele que deseja continuar sendo um homem de posses, mas sem se esforçar muito. É para isso que ele quer um casamento que dê a ele tranquilidade. Mesmo que a mulher nem seja o elemento mais interessante da relação.
A Vênus de Ille é um ótimo conto que mostra as habilidades narrativas do grande Prosper Merimée (um autor que merece e muito a sua atenção). Ao mesmo tempo ele tece críticas em relação às manias dos antiquários e colecionistas do século XIX com suas obsessões pelo passado greco-romano. Também conhecemos uma imagem de Vênus bem diferente daquela deusa do amor com a qual estamos acostumados. Afinal, o amor pode ser lindo, mas também pode ser fatal.
12 - "O Fantasma e o Consertador de Ossos"
Autor: Joseph Sheridan Le Fanu Avaliação:

Publicado originalmente em 1838
Traduzido por Cyana Leahy
Existe uma lenda irlandesa que diz que a última pessoa a ser enterrada em um cemitério precisa buscar água para os mortos mais velhos, que estariam queimando no purgatório. Quando havia um enterro simultâneo de dois cadáveres, havia uma corrida para obter a primazia no enterro. Ao mesmo tempo Le Fanu nos coloca em contato com o universo do sobrenatural, algo tão importante para os irlandeses e que constitui parte de seu folclore.
Na narrativa, encontradas nos pertences de um reverendo irlandês, temos a narrativa oral de uma passagem da vida de Terry Neil, um consertador de ossos. Um homem com um forte contato com o sobrenatural, responsável por consertar os ossos dos mortos para que eles possam se mover adequadamente no outro mundo. Terry é convocado para cuidar de uma casa que possui um estranho retrato na sala. Este retrato é de um antepassado que morreu há alguns anos e dizem assombrar a casa. O motivo disso ninguém sabe ao certo. Terry e seu companheiro Larry estão cuidando das últimas horas do dia, mas nosso protagonista sabe que as coisas não vão dar certo. Terá ele razão?
Este é um conto simples sobre fantasmas, mas que me remeteu diretamente ao respeito de nós vivos com aqueles que já faleceram. Muitas vezes imaginamos que o sobrenatural está longe de nossas vidas, mas digo que estamos muito enganados. Respeitar e compreender aquilo que está além de nós também é uma forma de reflexão sobre nós mesmos e nosso papel no universo. O que Terry acaba precisando fazer é apenas entender as necessidades de alguém que já passou por este mundo. Por mais medo que ele tenha, para que tudo se resolva ele vai precisar superar isso para que ele dê uma vida melhor ao próximo. Uma bela mensagem de um conto curtinho.
Vale também mencionar que a história é uma representação direta de uma história oral. Ou seja, Le Fanu explorou até os tiques da forma como uma pessoa fala. Toda aquela informalidade, carregada de sentimentos e impressões. Gostei de como isto foi feito e é mais um ponto para um autor que eu gostei de conhecer.

Ficha Técnica:
Nome: Contos Fantásticos do Século XIX
Organizado por Ítalo Calvino
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Fantasia
Tradutor: ver em cada conto
Número de Páginas: 520
Ano de Publicação: 2004
Outras partes da resenha:
Link de compra:
*Material enviado em parceria com a editora Companhia das Letras
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