Depois dos eventos da última edição, inicia-se uma batalha pela posse de Akira em meio a uma Neo Tokyo que acaba sendo vítima de destruição e explosões por toda a parte. A sacerdotisa Miyako começa a sua movimentação e o Coronel toma medidas drásticas para garantir o seu comando.
Sinopse:
Kaneda e Kei conseguem escapar da base secreta subterrânea, levando com eles um misterioso garoto com o número 28 na palma da mão. Mal sabiam eles que esse indivíduo era AKIRA, o maior segredo da nação, que tinha despertado!! A disputa pela posse do garoto agora ocorre em três frentes: de um lado, a guerrilha comandada por Nezu; do outro, o Exército sob as ordens do Coronel; e por último, a seita da sacerdotiza Miyako. Quem o tiver em mãos obterá um grande poder ou…?! O aguardado terceiro volume de AKIRA já está disponível!
Essa terceira edição eleva o ritmo das anteriores e a leva a um outro nível. Otomo consegue nos deixar sem respirar ao longo de todo esse volume. Em uma enorme sequência de situações acontecendo simultaneamente até o final explosivo. O elenco envolvido demonstra ter diferentes motivações e quando eles se chocam a gente tem a cidade inteira pagando o preço. Quando falamos de um mangá com história e ação, Akira tem que vir nas nossas mentes. Impossível não colocar em um top 10. Aqui a gente não tem somente enormes sequências explosivas, mas um pano de fundo que faz com que tudo o que acontece seja coerente, faça sentido. Sem falar na arte que está espetacular. Acho que esse é um dos volumes mais fortes nesse sentido até o momento e a tendência é só melhorar.
Os fatos se sucedem imediatamente após o final do volume anterior quando raios de energia vindos do satélite Sol atingem a Terra de forma a destruir Akira e Tetsuo. Mas, Akira acaba conseguindo escapar junto com Kaneda, Kei e Chiyoko. O grupo agora busca algum lugar seguro onde consigam deixar Akira. Primeiro eles se escondem no abrigo de Chiyoko, mas Kei sabe que eles precisam entrar em contato com Nezu que estava auxiliando a guerrilha. Infelizmente sem Ryu, Nezu se tornou a única saída possível. Um novo grupo interessado em Akira surge na forma da sacerdotisa Miyako. Na edição passada vimos que ela faz parte também dos experimentos numerados, sendo a número 18. Miyako quer Akira para si e através de seus poderes ela sabe que ele ainda está vivo. Como Nezu se revela ser uma pessoa pouco confiável, Miyako envia três garotas com poderes no paradeiro do jovem. E o Coronel vê seus poderes sendo retirados pelo governo que o culpa pelos efeitos colaterais destrutivos que ocorreram em Neo Tokyo. Mas, o Coronel insiste que Akira ainda está vivo, mas o grupo político retira seus poderes. E é aí que o Coronel tomará medidas drásticas que podem colocá-lo de volta na caça a Akira.
Este volume é um verdadeiro caldeirão de acontecimentos. Vou começar comentando sobre Kaneda que está em um ponto alto nesta edição. Mesmo sendo um cara bem maluco, ele consegue um protagonismo maior e suas ações impulsivas é o que acaba guiando Kei e Chiyoko em frente. Ele não se intimida em enfrentar guerrilheiros armados, em pegar um tanque de guerra no meio da cidade, mas também acaba quase sendo envenenado. Estava sentindo falta dessa energia do Kaneda nos volume anteriores. A gente via que ele era o chefe da gangue de motoqueiros do qual Tetsuo fazia parte, mas a gente ainda não sentia por que ele era o líder do grupo. Kaneda estava muito reativo, passivo mesmo. Agora não. Ele está dando as cartas do seu jeito. Apesar de que tem horas que a gente fica enfurecido com ele pelo nível de falta de noção que ele tem.
O segundo personagem mais ativo neste terceiro volume é Nezu. As suas táticas ambíguas e a sua falta de lealdade acabam colocando em ação tudo o que acontece de errado aqui. Ele é o grande catalisador. Seja por que ele é um enviado de Miyako, ou por que emprega os guerrilheiros na captura de Akira ou até porque faz parte do partido cívico-religioso, ou seja está envolvido com as decisões da cidade. Mas, ser todas essas coisas ao mesmo tempo implica em um cuidado e diplomacia que em uma situação de crise se torna impossível de fazer. E o castelo de cartas que são os planos bem realizados de Nezu começam a cair um por um. Pouco a pouco ele vai perdendo todo o controle da situação, até que ele mesmo se torna um foragido e não tem mais nenhum aliado. Alguém que parecia ter o controle de tudo se vê em uma situação desesperadora. Aliás, como catalisador dos desastres, ele será o responsável direto pelo que acontecerá no final deste volume.
Já o Coronel também tem um papel bastante importante. Após ver seus planos terem funcionado apenas pela metade, ele percebe que Akira ainda está à solta. E é necessário fazer alguma coisa para evitar um desastre ainda maior. Mas, o meio político apenas quer ver o assunto ser varrido para debaixo do tapete. A crença deles é que o disparo de Sol foi o suficiente para acabar com as ameaças em potencial e agora se tornou necessário buscar culpados por tudo aquilo que aconteceu. E o estilo violento do Coronel se tornou complicado de ser mantido entre eles, então na visão do conselho, afastá-lo do comando é uma justificativa até honrosa. Mas, nosso militar tem outros planos. Ele reúne pessoas de sua confiança e prepara um golpe de Estado no qual ele consiga levar a cabo os seus objetivos. Ao sitiar a cidade, ele tira as rotas de fuga de Akira e consegue reduzir o alcance da busca. Sem falar nos robôs automatizados que são espalhados por toda a cidade com a função de vigiar a todos, criar um toque de recolher e buscar os fugitivos. Coronel inicia um lento processo de eliminar seus adversários, que ele considera traidores.
Miyako é o elemento novo neste volume. Até o presente momento a entendíamos apenas como uma personagem de segundo plano, no comando de algum tipo de seita religiosa. Mas, agora sabemos que ela é um dos indivíduos numerados, a número 18. Dos bastidores ela quer o contato com Akira, só não sabemos o motivo disso ainda. Pelo que foi possível entender no volume passado, ela empregava Nezu como seus olhos e ouvidos no meio político. Como ela possui um poder de ler mentes, sabia que a ratazana não podia ser confiada completamente. Mesmo no atual estado de coisas, ela envia Nezu como uma forma de distração e usa outras meninas com poderes extras para seguir atrás de Akira. Fica a dúvida se ela deseja estar com Akira ou destruí-lo. Por conta de seu próprio caráter mais reservado, fica difícil entender o que ela quer de verdade. Ao final desse volume, veremos que ela estará em outro patamar frente aos acontecimentos e talvez seja a única alternativa de alguns grupos.
A arte deste terceiro volume está maravilhosa. As linhas retas de Otomo produzem alguns cenários sensacionais. Basta a gente pensar que os momentos finais deste volume exigem muito do autor. Que ele seja capaz de passar para o leitor a gravidade daquilo que está acontecendo. E se preocupar com detalhamento em uma cidade sendo destruída por tantos conflitos é mais difícil do que parece. Até porque dar detalhes de um prédio sendo destruído é bem diferente de construir uma edificação nova por inteiro. É preciso pensar em como a estrutura dos objetos se deteriora a partir de uma explosão. Como um prédio desaba, de que maneira os encanamentos são afetados. A gente tem uma sequência de quase trinta páginas no final com pouquíssimos diálogos, algo que vai cobrar bastante do desenhista. Se Otomo não tivesse um traço tão seguro, talvez o resultado tivesse sido complicado. Sem falar no grau de detalhamento que ele faz por todo este volume. Tem uma splash page (que eu não trouxe para não dar spoiler) que é algo a ser emoldurado. Provavelmente uma imagem clássica da história dos quadrinhos.
Ainda falando da arte, Otomo está afiadíssimo com o emprego das linhas cinéticas. Como temos várias sequências de ação, fiquei preocupado de o autor não conseguir mostrar coerência nos movimentos dos personagens e criar situações desajeitadas. Nada disso. Quando ele precisa mostrar uma cena com poderes, os personagens se movem de acordo com os seus tiques e hábitos. Quando é uma cena comum com tiroteios ou fugas impossíveis, tudo segue uma física que faz sentido. A dificuldade que Kaneda tem em manobrar um tanque por uma cidade faz total sentido com a forma com a qual o veículo é capaz de se mover. Até o jeito como o tanque destrói casas durante sua passagem está correto.
Este terceiro volume avançou várias tramas e nos colocou em um momento explosivo da história. A batalha pela posse de Akira carregou Neo Tokyo em uma espiral de destruição nunca antes vista. Além do fato de finalmente ser revelado a público o fato de o personagem ter sido o responsável pela grande explosão na antiga Tokyo. Já não era mais possível esconder informações. Seguindo os personagens do começo ao fim, ficamos quase sem fôlego ao final do volume e querendo pegar o próximo em seguida. Porque tudo está acontecendo rápido demais e esse mangá se revela dinâmico à beça. Recomendar é pouco para essa história.
Ficha Técnica:
Nome: Akira vol. 3
Autor: Katsuhiro Otomo
Editora: JBC
Tradutora: Drik Sada
Número de Páginas: 280
Ano de Publicação: 2018
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