Hora de falar a respeito desse clássico dos mangás japoneses. Vamos entender porque Katsuhiro Otomo foi um marco na produção de boas histórias lá no Japão. Este é o início de uma grande saga.
Sinopse:
Um dos maiores mangás de todos os tempos volta ao Brasil em uma edição especial totalmente remasterizada e em seu formato e leitura originais. Neste primeiro volume, em um mundo pós-apocaliptico, conhecemos Kaneda e Tetsuo, dois amigos membros de uma gangue de motoqueiros arruaceiros que terão suas vidas drasticamente mudadas após o atropelamento de uma estranha criança. Depois do acidente Tetsuo passa a despertar estranhos poderes que acabam chamando a atenção do Governo o qual, atualmente, trabalha em experiências secretas com paranormais.
Nas primeiras páginas do mangá dá para perceber o quanto ele é icônico. Eu já li muitos deles, desde Cavaleiros do Zodíaco até autores famosos como Tsutomu Nihei e Takehiko Inoue. O traço de Otomo é marcante. O estilo de história é único e distingue-o de outros autores. E Akira é uma obra que não envelheceu mal; continua mantendo a sua aura de história de vanguarda.
Antes de mais nada é preciso falar do traço realista de Otomo. Ele consegue dar aparências únicas aos personagens. Sejam traços mais leves como os de Kei e Kaneda até outros mais pesados como o de Yamagata ou do coronel. Até mesmo Ryu tem um aspecto que o torna único em relação a outros personagens. Usar tantos modelos diferentes é algo incrível. Otomo não usa o mesmo molde de rosto e corpo para outros personagens. Até mesmo as proporções e a escala são perceptíveis: Kei e Kaneda parecem crianças (e são mesmo) em relação aos soldados a mando do coronel. Ou até mesmo de Ryu. Outro traço distintivo são as cenas de ação. Todas muito dinâmicas onde muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. As cenas em nenhum momento parecem confusas. Todas fazem sentido e o autor tem um bom feeling para pontos de vista. Ele consegue alterar os ângulos de visão aplicando muito bem a ferramenta de momento para momento em que várias pessoas estão observando a ação de diferentes ângulos. Vivenciamos a mesma cena a partir de múltiplos olhares e isso deixa as cenas ainda mais velozes.
A ambientação também é incrível. É bem clara a inspiração do autor em Blade Runner, de Ridley Scott. Os cenários repletos de neon e devastação por todos os lados estão presentes em sua Neo Tokyo. Existe toda uma mescla de tecnologia e lugares pobres e decadentes. Somos levados à escola para alunos problemáticos onde Kaneda estuda em um momento, no seguinte estamos ao lado da gangue de Kaneda viajando de moto por uma ponte devastada e com uma cratera em seu centro e no outro estamos em um laboratório onde armas biológicas são mantidas. E todos esses ambientes fazem sentido. Nenhum destoa.
Os personagens são bem delineados nessa história e nesse primeiro volume o foco fica em três deles: Kei, Kaneda e o coronel. Sim, Tetsuo aparece bastante neste volume até porque é ele quem move a história adiante, mas ainda não vemos muito das motivações e da psiquê dele (isso é desenvolvido em outros volumes). Aqui o protagonista primário é Kaneda e diferentemente do que aparece no filme, ele não é um herói ou sequer um cara legal. Ele é um marginal que vive perigosamente com sua gangue fazendo arruaça e usando drogas de vez em quando. Quem imaginou diferente, se enganou. Claro, vamos ver mudanças drásticas no personagem à medida em que a história avança. Até vemos alguns traços positivos nele como o laço de amizade que ele tem com os outros membros da gangue ou a responsabilidade que ele coloca para si ao ajudar Kei (apesar de na verdade ele querer levar Kei para a cama, mas... okay). Para vocês terem uma ideia de o quanto Kaneda não é um cara legal, uma enfermeira da escola dele com quem ele se deita de vez em quando diz estar grávida dele (se é verdade ou não, não ficamos sabendo). O personagem dá de ombros, chama a galera e sai para a farra.
O aspecto político da história já aparece por aqui. O que ficamos sabendo (sem dar spoiler) é que de alguma forma as armas biológicas foram responsáveis pela Terceira Guerra Mundial e que o Akira esteve envolvido de alguma forma. O laboratório onde eles se encontram é uma espécie de local para contê-los e impedi-los de sair para o mundo e causar mais calamidades. Mas, uma nova está prestes a acontecer e parece que isso é inevitável. O coronel é um militar dedicado que precisa lidar com as politicagens e ao mesmo tempo evitar que mais pessoas morram. Ele parece ser um homem honrado mesmo parecendo ser o vilão da história neste momento. Suas motivações são mais complexas do que parecem em um primeiro momento.
Por outro lado, temos um movimento rebelde que questiona as ações egoístas do governo. Desejam mais transparência política e um foco maior em ajudar aqueles que foram mais afetado pela guerra. É nesse movimento que Kei se insere. Como ela se envolveu e porquê não sabemos nessa altura da história e será algo revelado nas próximas edições. O que sabemos é o quanto Kei é honrada e honesta, de uma maneira bem diferente de Kaneda. Aliás, se podemos chamar alguém de protótipo da jornada do herói, esta é Kei. Ele se sente mal quando precisa atirar em alguém, tenta ser educada na medida do possível e se indigna com as ações bizarras de Kaneda. Vemos também que ela tem uma quedinha por Ryu e isso não é um elemento narrativo, mas uma dedução a partir de seus gestos e olhares para com o personagem. Claro que o magnetismo kamikaze de Kaneda vai fazê-la balançar.
Não vou comentar ainda sobre Tetsuo porque eu quero deixar para comentar sobre o personagem nas próximas resenhas. Basta a gente saber que ele é aquele cara filho da mãe que uma coisa como aquele acidente não poderia ter acontecido. Simplesmente porque ele é a pessoa errada para isso ocorrer. Mas, isso é assunto para as próximas resenhas. No mais, corra e garanta a sua edição. Esse mangá é magnífico e esta primeira edição já lhe dá uma ideia do que você pode esperar.
Ficha Técnica:
Nome: Akira vol. 1 Autor: Katsuhiro Otomo Editora: JBC Gênero: Ficção Científica
Tradutora: Drik Sada Número de Páginas: 362 Ano de Lançamento: 2017
Outros Volumes:
Akira vol. 3
Akira vol. 4
Akira vol. 5
Akira vol. 6
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