A icônica fase do Monstro do Pântano com roteiros do mago Alan Moore. Nesta primeira edição temos um reboot do personagem ligando-o a uma série de acontecimentos extraordinários que envolvem o Homem Florônico e até mesmo o demônio Etrigan.
Sinopse:
Há um furioso mundo vermelho onde as coisas vermelhas acontecem. O mundo devora sua mulher , devora seus amigos. Devora todas as coisas que o tornam humano. E você se torna um monstro.
A ascensão de uma lenda
Quando ouvimos falar no nome Alan Moore existe toda uma mística por trás dele. Um autor que tem o toque de Midas e consegue criar clássicos em um piscar de olhos. Títulos como Watchmen e V de Vingança estão marcados na história dos quadrinhos mundiais. Mas, se podemos marcar algum ponto de entrada para a ascensão do Mago é A Saga do Monstro do Pântano. É o lugar onde ele teve sua projeção mundial e lhe deu a abertura para projetos mais ousados como Watchmen. Foi na aposta de Len Wein em um desconhecido inglês que podemos falar da revolução na forma de se encarar quadrinhos. Até aqui eu trouxe o histórico por trás do clássico. Estaria a HQ à altura dessa alcunha? Com certeza.
Você percebe que tem algo especial nas mãos logo nas primeiras linhas. A prosa do Mago é diferente de qualquer coisa que eu já vi. E, sim, por incrível que pareça e terrível coincidência, é a minha primeira experiência com algo escrito por ele. O roteiro é incrível, bem amarrado, repleto de erudição ao mesmo tempo em que é algo acessível aos leitores. Se formos parar para pensar as duas histórias tem um objetivo bem simples: a revolta do Homem Florônico e o ataque do demônio-macaco. De um ponto de vista hermético, não é um roteiro difícil de ser realizado. Mas, o que torna Alan Moore especial é o como ele faz isso; são os processos empregados para revitalizar um personagem, construir uma nova mitologia, tornar um vilão D em algo credível e vincular sua narrativa a um universo maior sem perder a aura de mistério do personagem. E agora? Parece simples para você?
A primeira história representa o final de um arco que estava sendo escrito por outra equipe criativa. Ele amarra as pontas, dá um fim ao que estava sendo feito e até com um epílogo bem digno. Ali a gente já consegue perceber a maneira como Moore se aproxima da narrativa. Claro que só na segunda é que vamos ver o texto e a maneira de representar o mundo ao seu redor. Até na quadrinização vemos o toque de Moore em como potencializar a arte de Bissette e Tottleben. O desenvolvimento narrativo é para algo a longo prazo. As peças de xadrez foram colocadas uma a uma e aos poucos vemos um pano de fundo maior sendo construído. Mas, claro, Moore precisava primeiro cimentar uma fundação para ampliar suas ideias.
Bissette é o responsável pela arte enquanto que Tottleben faz a finalização. A arte é extremamente competente e Bissette realmente faz uso da temática florestal para nos mostrar o estranho mundo do Monstro do Pântano. Algumas cenas são absolutamente surreais como o Homem Florônico tirando um tubérculo do corpo do Monstro e comendo. Tem um momento dentro da consciência de Alec Holland (o hospedeiro do Monstro) em que vemos vários simbolismos sendo empregados. E aqui vemos por que a HQ deu certo; é a mescla da mente criativa de Moore com uma arte focada em explorar o fundo de Bissette. O mais curioso é que mesmo empregando uma quadrinização padrão (isso quando ele não viaja total, como eu vou comentar mais abaixo) ele consegue destacar muita coisa no fundo, sejam animais, nuvens, outras criaturas ou efeitos.
A quadrinização também é fantástica. Tem alguns truques de quadrinização que ele emprega que são enlouquecedores. Até o emprego de símbolos como a águia que aparece em algumas páginas e a figura totêmica é inserida no topo do quadrinho. Mesmo os momentos em que se torna necessário explorar a ação em um capítulo são muito bem realizadas. Detalhistas. Também curti muito o design do Monstro que vai se aprimorando a cada novo capítulo. Bissette vai inserindo novos detalhes em cenas mais próximas. Claro, em alguns momentos em que o personagem não é focado, ele possui uma aparência até mais simples, mas quando há uma aproximação do foco, tudo muda. Isso fora o Etrigan que ficou animal nas mãos do artista. Quanto ao Tottleben, eu preciso elogiar a escolha de cores. A gente vai ver muitas cenas girando no verde e azul que se tornam característicos da HQ. Mas, eu gosto de como as cores e o traço se mesclam em um todo uniforme. E quando você tem um artista e um arte-finalista, pode acontecer de os dois entrarem em descompasso em alguma das escolhas. Não é o que acontece aqui. Daria até para pensar que o Bissette estava fazendo as duas funções.
Começamos este primeiro volume com um encerramento de arco onde Alec Holland consegue derrotar seu inimigo e agora ele estava colhendo as consequências do fato. Os militares estão atrás dele por entenderem que o Monstro é uma ameaça real, mas parece existir alguns interesses escusos no meio. Vou dar esse pequeno spoiler já que ele é a mola que leva para o run do Alan Moore, o Monstro é perseguido por um grupo armado até que leva vários tiros e acaba "morrendo". Ele é levado por uma organização que decide estudá-lo. Eles desejam entender como funciona o organismo que fora alterado durante o incêndio na casa de Holland (que levou à criação do Monstro). O grupo de pesquisadores é liderado pelo Homem Florônico que é um botânico e já chegou a ser um vilão. Ao não produzir resultados satisfatórios, ele desperta a ira de seu empregador.
Neste primeiro arco de histórias o Monstro do Pântano precisa lidar com o fato de que ele talvez tenha perdido a sua humanidade (ou nunca a teve) e precisa descobrir qual é o seu papel no mundo. Ao despertar e fazer uma descoberta terrível, ele precisa lidar com as consequências disso. Será ele um vegetal e seu papel é se transformar em um ser imóvel e gerar frutos? Ou ele é um humano com a capacidade de raciocinar? Em um primeiro momento, o Monstro caminha para uma vida vegetal e um contato maior com a vida silvestre. É interessante porque Alan Moore coloca o Monstro em contraste com o Homem Florônico, alguém que possui poderes também de contato com a natureza, mas que deseja se tornar um vegetal por completo. Só que ele não sabe como alcançar isso e nem se tem coragem para tal. É curioso que Alan Moore tenha explorado o tema da relação violenta do homem com o meio ambiente e que este estaria enfurecido conosco. Um pensamento ecológico de vanguarda anos antes da discussão sobre a destruição do meio ambiente (algo mais dos anos 90).
Uma personagem de apoio importante é Abigail e seu marido Matt. Ambos já eram personagens do run anterior e foram levados para o atual. As experiências estranhas vividas por Abby e Matt acabam causando uma lenta ruptura na relação entre ambos. Matt vai se tornando cada vez mais delirante e adquire a capacidade de projetar uma imagem distorcida de Abby que lhe é submissa enquanto Abby se irrita com a postura indolente do marido. Ela deseja retomar algum tipo de normalidade em sua vida e, assim como Alec, ela se torna alvo dos militares por associação com o Monstro do Pântano. A casa dela e de Matt acaba sendo destruída e ela entra na narrativa principal buscando um novo lugar para si. A ruptura entre ela e Matt acaba colocando a personagem mais próxima do Monstro, que tem uma postura mais afável com ela.
E isso me traz ao segundo arco nesse primeiro volume que envolve o novo emprego de Abby como cuidadora de crianças especiais. A ideia era o abrigo se tornar um ponto de normalidade para ela, mas tudo vai pelos ares quando uma força demoníaca parece estar espreitando o lugar. É aí que Jason Blood entra em contato com Abby. E aonde Jason Blood está, Etrigan não está longe...
Ficha Técnica:
Nome: A Saga do Monstro do Pântano vol. 1
Autor: Alan Moore
Artista: Stephen Bissette
Arte-Finalista: John Totleben
Editora: Panini
Tradutor: Edu Tanaka
Número de Páginas: 210
Ano de Publicação: 2018
Outros Volumes:
Vol. 6
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