Em busca de respostas, Ophélie se depara com mistérios ainda mais assustadores que poderão colocar sua própria existência em risco.
Sinopse:
Terceiro volume da série best-seller A Passa-Espelhos, com mais de 750.000 cópias vendidas só na França.
Ophélie está isolada na arca de Anima há quase três anos, onde vive uma existência sem emoções. Mas, encorajada por novas revelações do livro de Farouk e por um segredo que pode ser a chave entre passado e futuro, é chegada a hora de agir.
Sob uma identidade falsa, ela viaja até Babel, uma arca ultramoderna e cosmopolita, habitada pelos mais suspeitos residentes. Composta por mais de mil ilhas e conhecida como “a joia do universo”, a arca esconde inúmeras armadilhas atrás de seus rígidos regulamentos.
Ophélie precisa usar todas as suas forças para superar uma rede de mentiras e intrigas cada vez mais ameaçadora. Suas habilidades como leitora serão suficientes para enganar seus inimigos? Conseguirá ela seguir os rastros de Thorn?
Alerta: Contém spoilers dos volumes anteriores.
A Memória de Babel
Mais uma vez, Ophélie precisa de respostas: quem é Deus? Quem é o Outro? Onde está Thorn? Os eventos que fecharam o volume anterior abrem um leque de questões arrebatadoras e extremamente perigosas para a protagonista, revelando que as arcas são terrenos ainda mais misteriosos e incertos do que se poderia imaginar lá no primeiro livro, quando foram apresentadas.
Em A Memória de Babel, além de uma nova arca a ser explorada, com costumes, regras e códigos sociais específicos, também são apresentados novos personagens e o desencadeamento de novas e velhas tramas interligadas, de forma a desafiar o leitor a acompanhar um ritmo oscilante. Enquanto as perguntas não param de fermentar possibilidades, a verdade é que a trama se arrasta por uma boa quantidade de páginas, apresentando problemas aparentemente desconexos e não tão interessantes. A mudança brusca de cenário e núcleo são bastante responsáveis por isso, já que o que nos interessa basicamente é descobrir o que aconteceu com Thorn e desembolar o emaranhado referente ao passado do mundo.
Os personagens continuam primorosos, individuais, únicos, todos com a mesma identidade descritiva de Dabos: personalidades exageradas, traços físicos singulares e bem demarcados. Alguns estão mais sumidos neste volume, como a icônica Berenice, já que o Polo não é mais o foco da trama, mas ainda temos alguns interlúdios importantes com a participação dela e de Archibald, outro personagem que deixa saudades com suas curtas aparições. Em compensação, a curiosa Victoire, filha de Berenice e Farouk, proporciona o que talvez sejam alguns dos momentos de maior tensão da narrativa, alternando entre o exótico e o absolutamente aterrorizante.
Eu vou me demorar um pouco mais nos personagens, já que os habitantes de Babel precisam de algum destaque. O trabalho que Christelle Dabos teve em criar personagens tão diferentes daqueles das demais arcas é digno de nota, em especial no que se refere aos aprendizes que passam a fazer parte desse novo universo de Ophélie, com seus poderes familiares únicos e personalidades rígidas, centradas e distintas. Os próprios espíritos familiares de Babel são muito curiosos: Hèléne e Pólux são diferentes de tudo que Dabos já apresentou até agora, mas com um ponto em comum indiscutível - o mistério que paira sobre a origem e existência de todos eles.
E como este volume tem seu sustentáculo na construção dos persoangens, não posso deixar de mencionar o incrível trabalho em Ophélie, cuja nova identidade, Eulalie, assume vital importância para a própria essência da protagonista, uma passa-espelhos que, metaforicamente, sempre foi dual, com seus pés divididos entre um lugar e outro.
Assim como nos volumes anteriores, o worldbuilding ainda é um dos pontos mais positivos da escrita de Christelle Dabos, porém sofre de certo exagero descritivo no novo cenário. É compreensível que a autora queira esmiuçar Babel, mas, após dois livros focados no Polo, que tem suas inúmeras particularidades, uma nova exploração em um ambiente tão diferente não tem um resultado tão cativante assim. Essa pode ser apenas uma questão pessoal, não atingindo outros leitores da mesma maneira.
"Quando paramos de ser humanos e nos tornamos objetos?"
Outro ponto de destaque é a própria trama investigativa que vem se desenrolando com mais força desde o volume anterior, mas que agora ganha contornos muito mais graves (se é que isso é possível). Christelle Dabos é ótima em unir as pontas e costurar uma história que, em seu conjunto, demonstra-se impecável. Mais cedo ou mais tarde, tudo acaba se conectando e fazendo sentido; até mesmo eventos isolados e aparentemente irrelevantes têm seu motivo de existir. Isso demonstra enorme maturidade da autora em sua escrita e, principalmente, um foco impressionante. Percebe-se que o objetivo já está traçado desde o começo: somos conduzidos vezes por atalhos, vezes por labirintos narrativos, mas sempre chegamos ao cerne da questão.
Ainda que se arraste em alguns momentos, A Memória de Babel cumpre, em boa parte, o que promete, e ainda um pouco mais. Posso dizer com bastante tranquilidade que os problemas são compensados e a expectativa para o último volume da série é renovada com louvor. Novas perguntas são levantadas, mas são decorrências naturais daquelas que vão sendo respondidas ao longo da tetralogia, preparando terreno para o que se espera que seja um gran finale digno da história de Ophélie e Thorn.
Ficha técnica:
Título: A Memória de Babel
Autora: Christelle Dabos
Tradução: Sofia Soter
Série: A Passa-Espelhos vol. 3
Editora: Morro Branco
Páginas: 400
Ano de lançamento: 2020
Outros Volumes:
Link de compra:
Livro cedido em parceria com a editora Morro Branco.
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