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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "The Wicked + The Divine vol. 1" de Kieron Gillen e Jamie McKelvie

Em uma narrativa em que os deuses estão presentes na Terra e são muito poderosos, caberá a uma humana descobrir quem é o responsável pelo assassinato de um juiz em que um deus é incriminado.

Sinopse:


Século XXI. Deuses caminham entre nós e se assemelham a ícones pop do nosso tempo. Assim se constrói The Wicked + The Divine, uma fascinante alegoria para os jovens de hoje sobre a glória efêmera erigida como valor supremo na sociedade moderna. Fenômeno de público e crítica, a série criada por Kieron Gillen e Jamie McKelvie (criadores de Phonogram e Jovens Vingadores ) obteve diversas indicações ao Prêmio Eisner, e agora chega ao leitor brasileiro com exclusividade pelo selo Geektopia.




O que aconteceria se os deuses fossem reais e vivessem hoje? Não apenas isso, mas tivessem o status de celebridades. Como reagiríamos? Será a partir destas indagações que Kieron Gillen irá construir esta narrativa que no início parecerá uma grande história policial, mas aos poucos o leitor vai percebendo que existem muito mais camadas do que a princípio era imaginado.

A premissa da série é que a cada noventa anos, um grupo de doze deuses reencarnam como seres humanos e passam a viver entre nós. Sua vida é de dois anos e neste período eles são amados e odiados. Quando acaba este período eles morrem e só retornam após o ciclo começar novamente. Somos apresentados a Laura, uma adolescente que adora Amaterasu, uma famosa cantora de pop que encanta os seus fãs. Quando ela vai ao show dela, Laura conhece Lúcifer que acaba arrastando-a para um mundo de insanidade e poder. No backstage de Amaterasu, Lucifer a apresenta à cantora e a Sakhmet, a deusa-gato. Mas, parece que alguém quer eliminá-los, e Lúcifer acaba tendo que matar os atiradores. Levada a julgamento, alguém usa o mesmo método que Lúcifer usou para destruir os atiradores para matar o juiz. Com isso, ela é presa e cabe a Laura tentar encontrar o verdadeiro culpado.

Bom, vou colocar de cara que não gostei da protagonista. Gillen a joga de pára-quedas no meio de tudo. Como ela ficou sabendo da existência dos deuses se a primeira entrevista estava sendo dada para Cassandra naquele show. A motivação de Laura é muito mal explicada ao longo do volume. Ela simplesmente decide ajudar Lúcifer porque sim? Em alguns momentos a própria vida dela está em jogo como quando ela vai atrás da Morrigan. Isso me incomodou bastante. Espero que exista alguma explicação razoável a ser dada no volume dois. Eu não estou dizendo que a história é ruim ou o mundo criado é ruim, apenas me incomodei com a maneira como o autor nos insere no mundo. Laura não precisava ser a protagonista. Podia ser Baal, Amaterasu ou a própria Lúcifer e depois passava-se o protagonismo para ela.

Para quem está familiarizado com o trabalho de Jaimie McKelvie, não vai estranhar o seu estilo nesta série. Segue o mesmo estilo de Phonogram ou do período em que ele esteve na equipe do Thor. Para quem não conhece, pode estranhar um pouco. A arte é linda, mas ela tem muito de efeito digital o que pode não agradar a todos. Para mim, a arte de McKelvie combina com o clima da história, já que o desenhista gosta de compor personagens diferentes em situações bem surreais. Ele usa cenários bem interessantes como o metrô de Londres, um tribunal de justiça e depois uma rua. Algumas sequências são absolutamente lindas como a maneira como Lúcifer descobriu que era um deus (a cena dele caindo em um buraco cercado pelo rosto de Ananke por todos os lados é estranha, porém estonteante) ou o Panteão com os assentos dos deuses.

Gostei da palheta de cores escolhida por Matthew Wilson. Tudo é muito colorido; as cores são fortes, não havendo uma predominância de nada específico. Por ser muito colorido, acredito que a ideia fosse deixar os deuses mais chamativos. Se essa era a ideia, funcionou muito bem. Os detalhes de composição dos personagens também são lindos. Os olhos de Amaterasu mudam de cor quando ela encanta as pessoas, o visual meio grunge de Lúcifer ou até mesmo as várias formas da Morrigan. Todos eles funcionam muito bem para o estilo meio pop art do Kieron Gillen.

O autor gosta muito de fazer referências à cultura pop. E principalmente ele adora música, principalmente indy. Então quem conseguir pescar todas as referências que ele faz ao longo da história, vai perceber a riqueza do texto. Quem não compreender, fiquem tranquilos; não é necessário para compreender a trama. Para mim, o que o Gillen faz em suas histórias é a forma ideal de empregar referências pop porque elas criam outro nível de compreensão, mas funcionam apenas como algo extra. Tudo na trama transborda estilo. Os próprios deuses possuem um visual bem de vanguarda. Nesse sentido é preciso aplaudir a ousadia do autor ao usar muitos personagens diferenciados: temos deuses que não possuem um gênero ou preferência sexual bem definida, uma protagonista negra, uma repórter transsexual. Em um momento em que o mundo caminha para aquilo que ele tem de pior, Gillen mostra uma elegância e uma naturalidade ímpar na construção de personagens. Ele me ganhou só por isso. Precisamos de mais histórias como essa, não só pela questão de gênero, mas pela naturalidade presente aqui.

O tema central deste primeiro volume é a presença dos deuses nos dias atuais. Isso porque vivemos um momento de descrença e dúvida nos dias atuais. Será que seríamos capazes de reconhecer um deus na atualidade? Apenas quando os deuses começam uma série de ataques imprudentes é que as pessoas deixam de lado a ideia de explicar as coisas como se fosse ciência. O julgamento de Lúcifer é algo muito engraçado quando ela desafia o juiz a acusá-lo de assassinar duas pessoas com o estalar de um dedo. "Então você vai me condenar dizendo que eu sou um deus? Você então admite que eu sou um deus? Isso vai ser um precedente jurídico muito curioso". O sarcasmo de Lúcifer dá todo o clima deste primeiro volume. Essa questão dos deuses na Terra me remeteu ao segundo volume de Sandman onde este pergunta à Desejo se os homens precisam dos deuses ou se é o contrário? Porque Ananke finaliza o volume com um discurso semelhante. Se deixados de lado, os deuses apenas permanecem com suas pequenas disputas e passam-se dois anos e eles desaparecem. A mudança aqui foi a insatisfação de Lúcifer diante da situação em que ele se encontrava. A adoração parece ser algo a ser trabalhado mais à frente.

Neste primeiro volume, Gillen apenas faz a introdução dos personagens e nos apresenta o enredo. Gostei da maneira como Gillen individualizou cada um dos deuses. Eles possuem características próprias e não são iguais uns aos outros. Ainda acho que ele precisa trabalhar melhor a Morrigan e Baphomet porque eles ficaram um pouco jogados. Parece que a aparição de ambos serviu apenas para chocar ou para desviar a investigação de Laura. Investigação essa que para mim não ajudou na trama. Foi uma parte chata como o momento em que Cassandra e Laura ficam repassando os suspeitos. Eu preferia até pular os trechos em que a Laura aparecia e me focar mais nos diálogos dos deuses que eram mais interessantes. Eu queria ver mais da Estrela da Manhã... ela roubou a cena neste primeiro volume.

É uma boa história apesar dos tropeços deste primeiro volume. Me parece que o conflito escala nos próximos volumes e é isso o que me anima a saber mais da história. O traço de McKelvie combina bem com a história apesar de depender muito de elementos digitais. Em outro tipo de cenário talvez não funcionasse bem. Os personagens são apresentados e cada um possui sua própria individualidade, diferenciando-os dos demais. O trabalho com personagens cujo gênero não é tão bem definido ou até de a protagonista ser negra (gente... ela não é moreninha não... não existe isso de moreninha... isso é coisa de brasileiro que quer embranquecer as pessoas) demonstra que o autor foi ousado na composição de personagens. E a naturalidade que ele trabalha questões de gênero é fantástica. Espero que ele continue a ser respeitoso com esses assuntos que são bem delicados.










Ficha Técnica:


Nome: The Wicked + The Divine vol. 1 Autor: Kieron Gillen Artistas: Jaimie McKelvie                Matthew Wilson (colorista)                Clayton Cowles (designer) Editora: Geektopia Gênero: Fantasia/Ficção Científica

Tradutor: Não Informado

Número de Páginas: 160 Ano de Publicação: 2016


Outros Volumes:

The Wicked + The Divine vol. 4

The Wicked + The Divine vol. 5

The Wicked + The Divine vol. 6


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