Os mistérios continuam a aumentar e Clara e o Padre Fred tentam se lembrar dos acontecimentos da edição anterior. Já Norton está tentando montar uma porta ao qual ele não sabe ao certo para o que. Isso o colocará como alvo do doutor Kadrip.
Sinopse:
Mistério rural e terror urbano colidem no segundo volume de Gideon Falls, best-seller de Jeff Lemire e Andrea Sorrentino, a aclamada dupla criativa por trás de Arqueiro Verde e Velho Logan. As vidas de dois personagens - um jovem recluso e obcecado por catar no lixo “artefatos” de uma conspiração que parece existir apenas na sua cabeça, e um fracassado padre católico em uma pequena cidade cheia de segredos obscuros - se entrelaçam perigosamente em torno da misteriosa lenda do Celeiro Negro, uma estrutura sobrenatural que aparece e reaparece ao longo da história, na cidade grande e na cidade pequena, trazendo a morte e a loucura em seu rastro.
Tem spoilers de volumes anteriores!!!
No volume passado ficamos intrigados pelo tal Celeiro Negro: o que é, e qual é seu objetivo. Sua existência une as duas histórias contadas em Gideon Falls. De um lado, Norton vive em seu mundo à parte, o que faz com que a sociedade o entenda como um louco ou um deficiente intelectual. Ele coleta objetos que parecem ser completamente desconexos, mas que em sua cabeça eles fazem total sentido: um prego, um pedaço de madeira. A dra Xu tenta entender os pensamentos e motivações de Norton, mas isso a leva a se envolver demais com o seu paciente. Nessa edição, Norton encontra uma enorme porta que ele alega ser algo importante para os seus objetivos. Só que a chegada do dr. Kadri vai bagunçar tudo. Com um jeito rude de abordar Norton, eles descartam o atendimento da médica e o carregam à força para um sanatório. A dra Xu acha aquilo tudo muito estranho e percebe que algo está errado. Já em Gideon Falls, Clara e o Padre Fred se recuperam de um confronto com Danny, responsável pelos últimos desaparecimentos. A investigação os levou até um descampado onde eles viram um estranho celeiro com luzes escarlates vindas do interior. Após o choque eles despertam sem ter ideia do que aconteceu. E quanto mais o tempo passa a memória do ocorrido vai desaparecendo lentamente. Mas, as sensações ainda permanecem. O Padre Fred se lembra de um nome: Norton. Ele não sabe de onde veio. Ele e Clara vão procurar o pai dela, um especialista nesse caso para entender o que aconteceu, mas velhas feridas são abertas.
Em Gideon Falls, Lemire está com um roteiro preciso e repleto de mistérios. Essa é uma narrativa que chega até a fugir do que conhecemos a respeito dele porque não trabalha apenas com o desenvolvimento de personagens, mas com teorias sobrenaturais e o bizarro. É uma HQ de terror, mas com vários momentos saudando o horror cósmico. Lemire nos coloca diante de dois núcleos de personagens que tem histórias interconectadas, apesar de que em um primeiro momento parecem bem distantes. Nesse segundo volume parece que veremos uma convergência tendo um acontecimento específico como conector. Outra coisa que o leitor percebe é a calma e tranquilidade que Lemire tem em construir uma história maior. Ele não corre com a história e deixa tudo acontecer em seu devido tempo. Isso é muito benéfico para a HQ que chega a desenvolver seus personagens. Embora tenhamos um foco maior no insólito temos um momento para analisar o estado mental de Norton e a relação entre Clara e seu pai.
Vou tentar não me focar muito no enredo e mais nos personagens. Danny é quase uma espécie de lenda urbana em Gideon Falls. O desaparecimento de pessoas na cidade não vem desse momento específico, mas já havia acontecido no passado. Os cidadãos vivem com medo e não conseguir solucionar o caso é algo que vem assolando todos há muito tempo. Deixou marcas na pequena comunidade. Lemire nos mostra mais ou menos o que aconteceu, o que é algo aterrador. O que teria levado uma pessoa a tal atitude? Quais as suas motivações? Tentar encontrar uma lógica por trás dos casos parece ser impossível nesse momento. E essa falta de compreensão intimida as forças policiais. Os crimes de Danny levam todos a se questionar sobre uma série de assassinatos ocorridos quando da fundação da comunidade. Novamente: motivos fúteis, várias mortes e falta de solução do caso. A comunidade simplesmente varreu para debaixo do tapete depois que as mortes pararam. Só que o caso agora parece ser mais sério.
O Padre Fred não consegue entender o que está acontecendo com ele. Desde que viu o tal celeiro negro, sensações primitivas começaram a vir a ele. E algumas memórias que ele não sabe de onde saíram. Ele decide contar a Clara o que aconteceu com ele em outra cidade, algo que é motivo de muita vergonha de sua parte. E ele se culpa por aquilo que está acontecendo em Gideon Falls. Porque ele se sente incapaz de confortar as pessoas, de dizer a elas que tudo vai ficar bem. Já que nem ele mesmo consegue acreditar nisso. Os estranhos acontecimentos o fazem questionar sua fé. Isso seria algum plano divino para a cidade? O seu dilema o leva a tomar algumas atitudes bem drásticas. Quando tudo parece ficar sob controle, o bispo que o enviou a Gideon Falls liga para ele e pede para que Fred siga a um lugar e não faça perguntas. Ao tentar obter explicações do bispo, este simplesmente desliga. Algo na fala do bispo não parecia certa.
Já Clara está passando por outro tipo de situação. Ela não tem mais o controle sobre o andamento da investigação. E se sente fragilizada pelo que aconteceu diante do celeiro negro. Como explicar o que ela viu? Aliás, o que foi mesmo que ela viu? Clara precisa dar explicações aos moradores sobre o andamento da investigação e se ela tem alguma ideia do paradeiro das pessoas que desapareceram. Sempre calcada no que ela consegue explicar, se ver diante de acontecimentos que fogem à sua capacidade de compreensão, Clara fica sem rumo. Quando Fred decide procurar seu pai para tentar ligar os últimos desdobramentos, ela vê um fio de esperança. Mas, uma discussão com seu pai e o que aconteceu com sua mãe no passado fazem abrir velhas feridas. E as discussões retornam com força e palavras são ditas que não podem ser retiradas. Infelizmente um acontecimento trágico pode oferecer uma última oportunidade para que os dois possam remediar esses desentendimentos.
Já Norton está tendo sua sanidade questionada por tudo e por todos. Suas ações aparentemente aleatórias o colocam na mira de pessoas mal intencionadas. Mas, a presença que aterroriza Norton com visões estranhas e distorcidas retorna. Não sabemos ao certo quem é essa pessoa. Ou ser. Ou presença. A verdade é que ele parece ser uma espécie de corruptor. Norton lembra de seu passado quando nada fazia sentido. Um passado difícil de se lembrar e que não parece lhe oferecer quaisquer respostas. Sua mente fraturada tenta juntar as peças de um terrível quebra-cabeças que brinca com a sua capacidade de dar sentido às coisas. A única pessoa em quem ele pode confiar é na dra Xu. E ela parece ser a única que ainda leva a sério o que ele fala. Mesmo ela não sendo capaz de por que ela acredita nele ou se as alucinações dele levarão a algum lugar. O envolvimento do dr. Kadri é estranho porque parece sem sentido. Ter sido arrastado para um sanatório para investigação pareceu exagerado demais. Só que a aparente construção de Norton que antes parecia algo exótico e infundado começa a fazer sentido. E a dra Xu começa a temer por alguma coisa que ela não consegue explicar. Mas que ativa todos os seus instintos de medo primitivos.
O volume 2 de Gideon Falls responde a algumas questões e faz outras mais que nos deixam presos à história. As histórias parecem convergir rumo a caminhos estranhos e que nos colocam diante de um perigoso inimigo. Alguém que transcende a ideia simples de Bem e Mal, mas que é uma presença maligna em sua estrutura essencial. As tragédias parecem estar aumentando em gravidade e os personagens parecem estar bem longe de uma possível resposta ou solução. Clara está no mesmo lugar, Fred está em outro lugar e Norton está em lugar algum. Pelo menos não um lugar que ele conheça. A única coisa certa é que o próximo volume vai nos presentear com revelações poderosas porque os dois últimos capítulos aqui são emocionantes e de cair o queixo. Fora que a arte de Andrea Sorrentino está de outro mundo. Sem trocadilhos.
O Quadrinho em 1 Quadro:
A arte de Andrea Sorrentino está um escândalo neste volume. Ela combina perfeitamente com o ritmo da narrativa. Se no primeiro volume, o objetivo de Sorrentino era apresentar uma ambientação escura e opressiva, carregando nos tons escuros, aqui ele se foca bastante no vermelho. Até porque o vermelho é uma espécie de cor distintiva de fenômenos estranhos que acontecem ao longo da série. O próprio celeiro negro é marcado por luzes escarlates em seu interior. Eles simbolizam uma espécie de mudança dimensional em que os personagens podem ser afetados por seus medos primitivos. Neste volume as construções caleidoscópicas se espalham pelas páginas formando cenas disruptivas e que parecem desconexas em um primeiro momento. Mas, que revelam uma espécie de caminho rumo a uma outra realidade. A própria maneira como Norton enxerga o mundo, buscando parâmetros e padrões, é representada de uma forma única por Sorrentino.
Esses quadros de splash page se espalham por esse segundo volume. Adoro todas essas cenas malucas. Tem uma em espécie que parecem as dobras do DNA. Os próprios quadros são empregados como formação das cenas. Sejam as formas que eles criam espalhadas no superquadro de página inteira ou como janelas para outras cenas. No quadro acima, vejam como os quadros se assemelham a uma forma sólida que é observável a partir do entendimento que elas formam uma figura. Ao mesmo tempo, os quadros podem ser entendidos como imagens individuais fornecendo pistas sobre o que está acontecendo. Percebam também a importância do próprio posicionamento do padre na cena. Algo que é repetido ao longo deste volume já que Norton e o padre acabam funcionando como imagens espelhadas. Sorrentino abusa das cores e das formas, criando algo único. Gideon Falls parece ser uma série criada para que ele pudesse brilhar.
Ficha Técnica:
Nome: Gideon Falls vol. 2 - Pecados Originais
Autor: Jeff Lemire
Artista: Andrea Sorrentino
Colorista: Dave Stewart
Editora: Mino
Tradutora: Dandara Palankoff
Número de Páginas: 136
Ano de Publicação: 2019
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