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Resenha: "Conto de Fadas" de Stephen King

Após ajudar um velho rabugento que vive sozinho junto de sua velha cadela, Charlie Reade vai viver uma história que não vai deixar nada a dever a um conto de fadas. Só que o final feliz dessa história pode não ser tão feliz assim...


Sinopse:


Aos dezessete anos de idade, Charlie Reade parece ser um garoto comum: pratica esportes, é um filho atencioso e aluno de desempenho razoável. Suas lembranças, entretanto, não são feitas apenas de momentos felizes. Após perder a mãe em um grave acidente quando tinha apenas dez anos, Charlie precisou aprender a cuidar de si e do pai, que, enlutado com a perda da esposa, buscou refúgio na bebida.


Certo dia, ao pedalar pela rua de casa, Charlie atende um pedido de socorro vindo do quintal de um dos vizinhos: Howard Bowditch. O homem recluso e rabugento, que amedrontava as crianças do bairro, cai de uma escada e se machuca gravemente. O chamado por ajuda veio de Radar, a fiel pastor alemão , tão idosa quanto seu dono.


Enquanto Bowditch se recupera, Charlie passa a ajudar o vizinho com tarefas domésticas e com o cuidado de Radar, e assim o rapaz faz duas grandes amizades. Quando Howard morre, Charlie se depara com uma fita cassete que revela um segredo inimaginável: um portal para outro mundo.







Há alguns meses atrás li mais um desses críticos enjoados que gosta de cuspir alta literatura a cada dois parágrafos afirmar que Stephen King escreve literatura descartável. Que os leitores me perdoem por não citar a origem da dita coluna por dois motivos: por não querer dar espaço para bobagens como essa e por eu sequer me lembrar de em que jornal foi. Mas, esse tipo de afirmação já passou até por nomes laureados como Harold Bloom, os quais nosso bom e velho escritor do Maine prefere nem dar trela. Em Conto de Fadas, King mostra por que é o rei dos best-sellers e como consegue se tornar cada vez melhor com o passar dos anos. Sempre produzindo histórias que divertem ou nos trazem um pouco da cultura americana. Prolífico, inteligente e o principal: divertido. Acho que a melhor forma de rebater comentários tolos como esse é: a literatura escrita por King é de entretenimento, sim. Afinal, o papel da literatura também é nos entreter.


Neste novo romance somos apresentados a Charles Reade, um garoto de 17 anos que possui uma infância e adolescência bastante conturbada após a perda da mãe em um acidente de carro e precisando lidar com o pai que acabou afogando sua tristeza na bebida. Depois de anos de luta contra o álcool, Charlie amadureceu e é durante essa fase que ele conhece o senhor Bowditch e a cadelinha Radar. Ao passar pelo alto da rua Sycamore, ele escuta Radar uivando em um pedido desesperado de ajuda para o seu dono, que tinha acabado de cair da escada. Depois de ajudar o velho Bowditch, Charlie e ele desenvolvem uma profunda amizade que curará o coração de um velho que estava apenas esperando a hora de sua morte. Mas, Bowditch esconde muitos mistérios como um balde repleto de bolas de ouro os quais ajudam a sustentar o final de sua vida e uma casa nos fundos que sempre está trancada , mas que Charlie ouviu estranhos ruídos vindos de lá.


A estrutura narrativa de Conto de Fadas é bem peculiar. Vai ser engraçado dizer isso, mas parece algo escrito pelo King e ao mesmo tempo tem uma inovação. King é um autor que gosta de empregar capítulos longos ou nem os emprega, preferindo dividir em subseções quando pretende avançar cenas ou trocar núcleos narrativos. Aqui ele usa capítulos bem curtos sendo que o maior deles tem umas 32 páginas. Ele ainda divide em subseções, mas o fato de empregar capítulos particularmente curtos favorece uma leitura mais intensa. A gente quer saber o que vai acontecer a seguir. Já a maneira de organizar a trama segue o modelo dos contos de fadas antigos de Hans Christian Andersen e dos irmãos Grimm: todo início de capítulo tem um título formado por frases curtas que resumem o que acontecem nele, seguido de uma ilustração e o texto a seguir. Aliás, fica aqui o elogios às boas artes de início de capítulo feitas por Gabriel Rodriguez e Nicolas Delort. Realmente me fazem lembrar as ilustrações clássicas dos contos de fadas e auxiliam o leitor a buscar imaginar algumas das cenas.


A narrativa de Conto de Fadas é em primeira pessoa e serve para que o leitor sinta bastante empatia pelo personagem. Narrativas usando esse padrão tem esse efeito e nos envolvemos com cada um dos personagens da trama. Charlie está nos contando a história de um momento no futuro, incerto ainda para nós. Isso pode ser um pouco desestimulante para o leitor que vai alegar saber qual é o final da trama já que o personagem está vivo e teoricamente bem. Mas, essa história tem o dom de surpreender. E me peguei não me incomodando tanto com isso já que a jornada em si é o que é mais interessante de tudo. E no meu caso em específico, minha preocupação nem era tanto com o Charlie, mas com outro personagem que o acompanha na aventura.


Podemos dividir a história facilmente em três metades: a primeira com Charlie contando as dificuldades de sua vida ao lado de seu pai; a segunda contando a relação dele com o senhor Bowditch e a terceira que é quando as coisas ficam bem esquisitas. Talvez o leitor fique um pouco incomodado com a primeira parte que é bem comprida, mas ela é bastante necessária para nos ajudar a entender o que move o protagonista. Suas dificuldades é que o fizeram ser quem é. Algumas de suas estranhas escolhas vem de uma necessidade patente de redenção e por uma culpa que ele sente por ações passadas. Charlie não é um personagem perfeito... longe disso. Como ele mesmo diz: "não sou nenhum príncipe das histórias da Disney". E é bem por aí. Ao mesmo tempo, ele é uma pessoa disposta a ajudar o próximo, de bom coração e bastante leal. King consegue construir um personagem bastante tridimensional e não é nenhum espanto ele fazer isso. Sua capacidade para construir bons personagens continua afiadíssima e passa pelo pai do Charlie, pelo senhor Bowditch, pela senhora Richland e até pela Radar. Desculpa, gente, mas Radar tem toda uma personalidade própria. Ela nos emociona a cada página.


O livro tem uma cara de história adaptável que é incrível. O elenco de personagens é bem interessante e é apresentado gradualmente durante a narrativa, o lugar aonde a história se passa é facilmente adaptável e o estranhamento que vem depois pode ser traduzido por um bom CGI. A narrativa tem aquela estrutura bonitinha de cinema com início, meio e fim bem delineados. Dá até para o leitor imaginar uma trilha sonora de fundo. A experiência que tive lendo a história foi muito boa e está acima até dos últimos trabalhos do King. Algumas das histórias sempre pecavam por alguma coisa: Outsider por demorar a engrenar, Joyland por ser óbvia demais, Revival por querer ser algo que não é. Tirando Mr. Mercedes que é fenomenal junto com suas sequências (Achados e Perdidos é a melhor história da trilogia), Conto de Fadas imprime um ritmo constante que nunca deixa cair a peteca. Se pudermos traduzir o ritmo da história é como batimentos cardíacos com altos e baixos que se alternam. Só que a história tem aqueles elementos mais sombrios que o autor tanto gosta. King vai buscar sua inspiração nas versões originais dos contos de fadas com mortes trágicas, pactos fáusticos, histórias cautelares. Tem alguns momentos da história que são bem brutais e alguns personagens que vão te fazer lembrar de histórias de H.P. Lovecraft (inclusive um Cthulhuzinho mencionado aqui e ali). Mas, talvez a história que mais me remeta a Conto de Fadas seja Algo Sinistro vem por Aí, do grande Ray Bradbury. Com toda a estranheza da história, a maneira como precisamos ultrapassar a primeira impressão que temos dos personagens e a magia existente das formas mais criativas possíveis.


Essa é uma narrativa de descoberta e de aceitação. Percebam como estou pisando em ovos nessa resenha porque não quero contar exatamente o que acontece com Charlie e os segredos que o senhor Bowditch guarda. Uma das coisas mais legais nessa história é nos aventurarmos junto do protagonista. Nós vivemos a aventura ao seu lado, nos emocionamos, sorrimos, nos entristecemos, ficamos furiosos. A jornada é mais importante até do que o final porque é somente através dela que Charlie vai se conhecer melhor. No começo estranhamos as atitudes de Charlie porque as consideramos virtuosas demais, mas aos poucos vamos nos dando conta de o quanto elas realmente fazem sentido. Quando perdemos alguém próximo e não temos em quem nos apoiar, caímos em um universo sombrio que pode nos levar a fazer coisas das quais vamos nos arrepender depois. Ao fazer um voto para si mesmo de ajudar ao próximo, ele não está apenas pensando na benção que foi o seu pai se recuperar de seu vício em álcool, mas em si mesmo. Em o quanto ele fez o mal ao próximo e precisa se redimir por isso.


A conexão que ele faz com Radar e o senhor Bowditch é maravilhosa. Tanto Charlie precisava do senhor Bowditch como o contrário. Eles foram capazes de se apoiar mutuamente no momento certo. Depois de tantos anos sozinho, o velho pôde finalmente ter um "filho" na forma de Charlie. Pôde passar um pouco de si a esse outro micro-cosmo de existência. Tudo o que Charlie vai viver depois, com as mensagens e lições deixadas por ele e até os sinais de orientação são uma metáfora de um legado deixado para outra pessoa. É o que todo pai sonha deixar para seu filho. O pai de Charlie não foi exatamente um pai na hora em que ele precisava de um espelho ou de um modelo; ele foi encontrar essa relação no velho rabugento. Se tornou uma figura paterna para ele assim como Radar se tornou uma pessoa importante em sua vida. Só quem já teve um animalzinho (seja um cachorro, um gato) com quem desenvolveu esse grau de afeição sabe o que Charlie sentia por Radar. Era o mesmo sentimento que eu tinha pelo meu falecido cachorrinho. Eles se tornam nossos filhos, pessoas as quais nos dão carinho e amor nos momentos mais improváveis. Sim, pessoas, porque os tratamos como pessoas. Quando eles partem, e tanto gatos como cachorros possuem uma expectativa de vida baixa compara aos seres humanos, nosso coração se parte em mil pedaços. Radar plantou a semente do amor no coração de Charlie o que rendeu frutos e tornou o garoto em uma pessoa mais compreensiva e observadora em relação àqueles que se encontram ao seu redor. Ou alguém realmente estranhou quando ele passou a se relacionar com Eye, Jaya, Iota, Eris, Amnit e todos os outros? Aquilo já estava florescendo há muito tempo. A transformação pela qual ele passa é o amadurecimento, é ele entrar em um processo de aceitação de si mesmo. O Charlie que emerge no final da história já é uma outra pessoa.


Conto de fadas é uma história fascinante que tenho certeza que vai agradar a vários tipos de leitores. Àqueles que buscam mais um livro de Stephen King e ser entretido por ele. A quem busca uma boa história de terror com elementos mágicos e será surpreendido pelas invenções e pela forma pouco convencional como King se relaciona com o fantástico. E a quem busca uma história de um protagonista em sua jornada de redenção. Tem muito de técnica narrativa avançada para quem quer estudar. Ou seja, é um prato cheio e um dos melhores trabalhos do autor nos últimos anos. Só tenho a fazer uma forte recomendação.









Ficha Técnica:


Nome: Conto de Fadas

Autor: Stephen King

Editora: Suma

Tradutora: Regiane Winarski

Número de Páginas: 624

Ano de Publicação: 2022


Link de compra:


*Material recebido em parceria com a editora Suma












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Em qui, 13 de out de 2022 13:18, Pedro Serrão escreveu: Opa Paulo Obrigado pela rápida resposta! Eu tenho um Interstitial que penso que é o que está falando (por favor desligue o adblock para conseguir ver): https://demopublish.com/interstitial/ https://demopublish.com/mobilepreview/m_interstitial.html Também temos outros formatos disponíveis em: https://overads.com/#adformats Com qual dos formatos pensaria ser possível avançar? Posso pagar o mesmo que ofereci anteriormente seja qual for o formato No aguardo, Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:15: Boa tarde, Pedro Gostei bastante da proposta e estava consultando a designer do site para ver a viabilidade do anúncio e como ele se encaixa dentro do público alvo. Para não ficar algo estranho dentro do design, o que você acha de o anúncio ser uma janela pop up logo que o visitante abrir o site? O servidor onde o site fica oferece uma espécie de tela de boas vindas. A gente pode testar para ver se fica bom. 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