Hieron chega a Sacro Bordel para participar da Festa de Todos os Deuses. Mas, como não tem dinheiro para conseguir uma suíte vip, acaba trabalhando nos bastidores. Lá ele conhece Cairáx e acaba se envolvendo em uma trama que envolve culto a um deus único e assassinato.
Esse é um conto estranho de se comentar. Lembro que terminei de ler, e fiz uma releitura dele para tentar esclarecer alguns pontos que me ficaram estranhos. E tive uma sensação ainda pior na releitura. Sabe aqueles contos que você fica sem saber o que dizer a respeito? Esse é um desses casos. Não sei dizer se a minha experiência foi boa ou se foi ruim. Não sei se curti ou se não curti. Uma coisa é certa e não é boa é que a narrativa me foi bastante indiferente e esquecível. E isso nunca é legal para uma história. E eu gosto da escrita do Orsi (vide que Guerra Justa é um dos meus livros favoritos). A impressão que eu tive é que ele teve várias ideias boas, fez um quadro esquemático, montou um esqueleto da história e meio que se perdeu ao longo do processo. Tem várias ideias ali que não contribuem para a narrativa principal e poderiam ter sido cortadas.
Hieron parece ser um personagem de outras histórias do Orsi e está chegando até o cenário onde acontece a narrativa, o Sacro Bordel. No momento de sua chegada está para acontecer uma festa onde vários deuses estão chegando e se realizará a festa de todos os deuses, um festival regado a vinho, comida e um tremendo bacanal. Dias e mais dias da mais pura libertinagem. Mas, Hieron é um viajante simples que não tem recursos para bancar uma suíte de luxo e estar entre os poderosos. É então que ele passa a trabalhar nos bastidores do evento, montando os autômatos e os vapores que produzirão os efeitos especiais da festa. É lá que ele vai conhecer Cairáx que cuida dos vapores de água, parte essencial das engrenagens. Ele vai mostrar a ele passagens secretas e os dois vão se tornar amigos. O pai de Cairáx é um homem estranho, devoto de Laav, o deus único. Um homem que odeia todos os outros deuses que tomaram o espaço do deus único. Todos os outros deuses são falsos e seu filho é apenas um idólatra. No meio disso tudo, acontece um assassinato e Hieron está envolvido nisso.
Consigo dividir a narrativa em duas partes. Na primeira temos toda uma descrição sobre a dinâmica do Sacro Bordel, com o que funciona, como funciona, onde funciona. O que são os mehirim e onde eles se encaixam dentro da dinâmica do mundo criado por Orsi. Hieron funciona quase como um personagem-orelha já que ele é um turista e está sendo apresentado a tudo por Cairáx que é o seu guia pelo lugar. Então metade da narrativa é usada para entregar informações sobre o lugar. Só que eu considerei informações demais e que acabam não sendo tão essenciais para o grande acontecimento da história. O que importa é o assassinato, como ele aconteceu e por que aconteceu. E o como ele vai ser solucionado. Nada desse conhecimento adquirido pelo protagonista vai servir exceto o das passagens escondidas. Ou seja, seria possível reduzir boa parte do conto para se focar mais no que estava acontecendo.
A segunda parte da narrativa trata do conflito entre Laav e os outros deuses. Isso sim é interessante porque fornece uma motivação. Os outros deuses ocuparam o lugar de Laav e ele deseja recuperar o seu prestígio a todo custo. Um deus para se manter "vivo" precisa de seguidores e os sacerdotes desse deus únicos buscam novos adeptos a todo custo. Ou seja, Orsi vai buscar nas discussões sobre a necessidade de um deus ser adorado para continuar existindo, algo saído dos conceitos de Joseph Campbell. Não vou entrar em mais detalhes com receio de dar spoilers, mas Hieron chega a uma reflexão sobre a existência ou não de deuses, já que tudo o que ele vê no Sacro Bordel não passam de truques científicos. Essa foi a parte que mais me chamou a atenção na narrativa, mas mesmo assim foi uma pequena parte do todo.
Ficha Técnica:
Nome: A Festa de Todos os Deuses
Autor: Carlos Orsi
Editora: Draco
Número de Páginas: 22
Ano de Publicação: 2012
Avaliação:
Link de compra:
Commentaires