Um horror ancestral levando um homem à degradação em uma das histórias mais polêmicas e debatidas até hoje de H.P. Lovecraft.
Sinopse:
O horror em Red Hook foge das idealizações do bem e da abominação do mal, inserindo seus personagens em um mundo de sombras, de sonhos, de pesadelos, para construir uma arquitetura maravilhosa e assustadora de seres que, ao desafiar sua condição mortal, lançam-se em viagens e aventuras à procura do autoconhecimento, da imortalidade, do poder divino, encontrando muitas vezes a própria destruição. É em um passado mítico e em um tempo indefinido que ele instala boa parte dos cenários e tramas de sua criação. Realidade, sonho e imaginação se confundem e se combinam, produzindo, acima dos deuses terrestres previsíveis, adorados e temidos, outros deuses ainda mais poderosos e aterrorizantes. Ao confrontar a presunção da inteligência humana com o desconhecido e com a miséria de sua íntima fraqueza e ignorância, abre uma janela para esse mundo alucinado.
Que Lovecraft era um homem de seu tempo todos estamos cientes. O mundo no início do século XX era um lugar bem diferente onde não havia muita igualdade social. O continente africano ainda estava nas mãos de nações imperialistas que exploravam a seu bel prazer as riquezas presentes lá. Teorias como o darwinismo social penetravam nas mentes das classes intelectuais, e é essa teoria que dará origem ao mito da raça ariana na mente de homens como Hitler. Portanto, é praticamente impossível analisar Horror em Red Hook sem analisar esta conjuntura intelectual que se esconde nas linhas.
A escrita de Lovecraft continua a me incomodar. Decididamente eu não gosto dela e não é por causa dos valores do autor. A forma de escrita dele é muito pomposa e arrogante em determinados pontos. É fácil ele se perder em descrições amaldiçoadas e agourentas que é o que dá a graça a seus escritos. Mas, ao mesmo tempo, são essas mesmas descrições que fazem com que o leitor desvie o foco de sua leitura. Com muita frequência eu precisei reler determinados trechos para tentar entender o que estava se passando em uma dada cena. Por outro lado, a capacidade de aterrorizar é algo que poucos autores são capazes de fazer e, nesse sentido, ele é um gênio. Lovecraft é capaz de nos colocar em um cenário em que somos apenas observadores e nos fazer imaginar situações as mais bizarras e estranhas possíveis. Algumas de suas descrições são de causar calafrios na espinha.
Em Horror em Red Hook somos colocados na pela do policial Malone que investiga estranhos casos de desaparecimentos no bairro que estão ligados de alguma forma ao comportamento exótico de um figurão chamado Robert Suydam. A família de Suydam tenta interditá-lo por conta de seus hábitos e companhias (aqui ele descreve o quanto os negros são malditos e inferiores e por isso levaram a alma do figurão para a maldição). A partir de então somos colocados diante de uma investigação com idas e vindas e a cada momento tudo fica extremamente estranho para o personagem. Ele já não consegue mais separar o que é real ou não. Quando ele invade a casa de Suydam em uma batida policial ele se depara com horrores capazes de destruir a alma de um homem.
Uma das coisas que mais chamam a atenção neste conto é em como Lovecraft é capaz de criar uma narrativa coesa ao mesmo tempo em que trabalha o pavor das pessoas diante de perigos inomináveis. Sentimos o tempo todo que poderemos perder nosso espírito a cada nova imagem de demônios, súcubus e outros pavores. Malone age como um personagem observador que nos guia ao longo da história. Ele serve como uma janela para que possamos vivenciar os momentos. Por essa razão é que Lovecraft apela tanto para as longas descrições.
O conjunto de ideias de Lovecraft realmente incomoda. Nesse conto não dá para evitar comentar porque ele usa o ódio contra negros e outras etnias como um mecanismos para movimentar a história. Sua argumentação chega a fazer a gente ficar de cabelos em pé. Para aqueles que possuem um gatilho contra esse tipo de situação, recomendo ficar longe. Procurem histórias menos complicadas do autor como A Busca Onírica por Kadath. Aqui ele expressa com todas as palavras os seus sentimentos. Algumas descrições no final de híbridos meio demônios parecem até ter sido atribuídos a uma possível "inferioridade racial".
Horror em Red Hook não é um dos melhores contos do autor por conta de todas as circunstâncias de sua concepção. Entretanto, o autor consegue criar imagens magistralmente malditas e nos fazer imergir em suas imagens de seres estranhos e bizarros e de homens capazes de vender suas almas diante de um poder absoluto e além da imaginação. A tradução da editora está muito boa e o texto consegue fluir bem, apesar novamente da escrita do Lovecraft ser longe de ser simples.
Ficha Técnica:
Nome: O Horror em Red Hook Autor: H.P. Lovecraft Editora: Iluminuras Gênero: Terror Número de Páginas: 236 (mas, se trata de uma coletânea... são menos páginas dedicadas ao conto) Ano de Publicação: 2015 (desta edição)
Avaliação:
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Saudações. Parabéns pela resenha, bem redigida e articulada. Cheguei a ler esse livro há mais de 20 anos, hoje pouco me recordo. Sou fã de Lovecraft e prefiro vários outros contos. Tenho uma coletânea: "Um Sussurro nas Trevas" que considero impecável. Inclui "O Chamado de Cthulhu", "Sombras Perdidas no Tempo", entre outros.
A questão do racismo, pra ser sincero, nunca me incomodou. O cara nasceu em 1890, é produto de sua época - a eugenia era moda... não que eu concorde com o viés discriminatório dele, muito pelo contrário, mas o racismo era recorrente em obras da época. Abraço!