Sailor é uma menina aterrorizada por um acidente que aconteceu há alguns anos atrás. Buscando vida nova em uma outra cidade, Sailor e seus pais vão descobrir que não é possível escapar de alguns terrores.
Sinopse:
Esqueça tudo o que você já ouviu falar sobre bruxas; quase todas as informações devem estar erradas, de qualquer forma. Aquilo que você aprendeu na escola ― que, por séculos, centenas de pessoas foram queimadas, torturadas, perseguidas e assassinadas por bruxaria ― é um fato. O que ninguém contou para você é que essas pessoas morreram para proteger uma terrível realidade escondida dos meros mortais: bruxas, bruxas de verdade, existem e estão por aí. Elas são criaturas muito mais perversas e diabólicas do que você poderia pensar ― e, portanto, muito mais assustadoras. Ver uma é coisa rara; sobreviver a elas é mais raro ainda.É por isso que quando a família Rook se muda para Litchfield, uma remota cidadezinha de New Hampshire, tentando escapar de uma experiência horrível ao recomeçar do zero, eles não entendem que algo sinistro vive nas florestas ao redor da cidade.Algo que os observa, esperando apenas por uma oportunidade. Algo muito antigo... e voraz. Você até pode conseguir feitiços e milagres delas, mas, para isso, vai precisar pagar o preço. Pai e filha vão descobrir que recomeçar pode ser bem mais difícil quando há uma conspiração secular que envolve a sua família em curso.Com reviravoltas chocantes e uma arte de arregalar os olhos, capaz de combinar medo e beleza, WYTCHES é uma obra sobre bruxas que deve ser levada a sério. Scott Snyder já provou suas habilidades como roteirista durante seu tempo escrevendo as HQs do Batman, uma das fases do herói mais aclamadas pela crítica e pelo público nos últimos tempos.Para esta série, ele chama o desenhista Jock, que além de também ter trabalhado em Batman, fez artes conceituais para Star Wars ― Os Últimos Jedi e o filme ganhador do Oscar Ex_Machina: Instinto Artificial. Com isso, WYTCHES extrapola a mitologia das bruxas em algo muito mais profundo e amedrontador do que os leitores estão acostumados.Esqueça as escolas de magia, as casas de doces e as maçãs envenenadas; aqui, as bruxas são realmente perigosas e quando você é jurado para elas... bem, tudo que a Caveira pode dizer é que as coisas não terminam muito bem.Com todos os materiais extras presentes na edição original ― rabiscos, esboços, processos de colorização e textos do autor que explicam a origem do conceito de WYTCHES ― essa é uma edição para ninguém botar defeito. Além disso, como os fãs são os únicos e exclusivos donos do coração da Caveirinha, ela chamou Érico Assis para fazer com que essa história chegasse da melhor maneira para o público brasileiro. Agora, só resta uma questão, querido fã... você jura que está preparado para WYTCHES?
Já fazia muito tempo em que eu não via alguma história que conseguisse trabalhar tão bem e de forma original o mito das bruxas. Já conheço o roteiro do Scott Snyder de alguns arcos incríveis do Batman como a Corte das Corujas. Alguns fãs reclamam que ele tem grandes ideias, mas não consegue finalizá-las bem. Bom, talvez em um espaço curto de edições isso pode ter ocasionado um resultado diferente. Será?
O roteiro está incrível. Temos dois pontos de vista na história: a do pai e a de Sailor. Ele brinca com flashbacks tentando mostrar alguns acontecimentos passados na vida dos dois. Aliás, através de seu roteiro competente, ele aprofunda o relacionamento dos personagens. Muito. Os diálogos são bem construídos, e as melhores partes são as trocas entre pai e filha. São trechos que aquecem nossos corações. A história é construída em três atos: o momento inicial, visto mais do ponto da filha; o desaparecimento que compõe o trecho do meio da história; e o confronto, onde temos alguns plot twists e revelações. Esta era uma história seriada. Tanto que na edição americana publicada pela Image Comics temos um enorme volume 1 escrito na parte de baixo da graphic novel. Me parece que o Snyder vendeu os direitos para uma produtora de forma a transformar em um filme ou minissérie. Isso é perceptível porque o final pode ser entendido como algo em aberto.
Os protagonistas recebem bastante atenção do roteirista. Sailor é uma menina atormentada por um acontecimento no passado. Snyder dá uma face geek à menina apesar de ele não trabalhar muito bem essa faceta da personagem. Sabemos apenas que ela sofria bullying na escola de uma brutamontes chamada Annie. E esse é um dos motivos para ela desejar mudar da cidade. Ao longo da história vamos ver o quanto ela é uma menina corajosa e o quanto ela foi importante para o pai em um momento difícil de sua vida. Charlie é um chefe de família preocupado com sua esposa cadeirante e sua filha traumatizada. Descobrimos que ele está escrevendo uma sequência para uma história infantil que fez muito sucesso (e foi muito importante em um momento difícil para ele). Quando sua filha começa a se envolver em situações estranhas, ele ativa na hora o seu modo de protetor.
Os demais personagens acabam funcionando mais como pano de fundo. A esposa parece ser uma personagem sem importância, mas vamos vendo como o seu acidente e depois o seu passado terão um enorme peso para a narrativa. Eu senti que o autor não explorou muito a relação da mãe com Sailor e Charlie. Me preocupou um pouco essa desatenção. Não sei se a ideia era trabalhar essa relação em futuros volumes, mas em uma história tão intimista como essa, faz diferença. A própria cidade e seus habitantes exercem uma claustrofobia que no começo parecia algo despropositado, mas com o tempo vamos nos dando conta de que esse era o objetivo. Dicas do que acontece com Sailor e qual a influência da cidade nisso são colocadas aqui e ali.
O grande tema que permeia Wytches é a relação entre um pai e sua filha. Algumas cenas são lindas. No começo eu achei ridícula aquela tatuagem de roda gigante de Charlie. Quando nos damos conta de seu significado é de emocionar qualquer pai. A importância daquele momento específico é como um soco no estômago. Ver o quanto Sailor foi capaz de tirar o pai de uma situação de auto-destruição reforça o lado paterno de qualquer um de nós. E o curioso é que esta cena tão singela está presente em uma narrativa tão visceral quanto a de Wytches. E vai ser essa relação a responsável pela fé de Charlie em sua filha. Essa fé cega em que ele repete para si mesmo (e para ele ao mesmo tempo, graças a essa estranha ligação que une pais e filhos), "Eu acredito em você". Outras cenas muito fofas são aquelas em que eles encenam brincadeiras próprias. Os maiores matadores de criaturas mitológicas.
Mas, é inegável expor como Snyder conseguiu transformar um tema batido como o de bruxas em algo original. Ele simplesmente pensou fora da caixa. E foi capaz de entregar algo instigante e interessante. As bruxas de Snyder são capazes de realizar quaisquer desejos. Porém, é necessário dar algo em troca a elas. E estes seres da floresta são realmente assustadores. São construtos absolutamente bizarros. A arte de Jock auxilia muito nesse aspecto. Aliás, recomendo lerem os extras no final em que temos a técnica empregada por Jock para causar o efeito de embaçamento nas cenas. Os leitores podem achar as imagens meio estranhas e desfocadas, mas eu gostei. Achei que se encaixou muito bem dentro da proposta de roteiro do Snyder. Só achei que alguns momentos no final (no caldeirão) poderiam ter ficado um pouco mais definidos. Aqueles trechos ficaram borrados demais. Um pouco mais de nitidez teria dado um baita efeito ali.
Wytches é uma graphic novel de terror muito boa, reinventando um tema antigo e o colocando em um twist absolutamente bizarro.Estes seres assustadores revelam aquilo que existe de pior e mais ambicioso no ser humano. O roteiro do Snyder é extremamente competente aliado a uma arte estilizada do Jock. Acima de tudo, Wytches é uma história da forte relação que existe entre um pai e sua filha. E como ambos podem superar todos os obstáculos se apoiando.
Ficha Técnica:
Nome: Wytches Autor: Scott Snyder Ilustrador: Jock Editora: DarkSide Books Gênero: Terror Tradutor: Érico Assis Número de Páginas: 192 Ano de Lançamento:2017
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