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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Vida e Aventuras do Papai Noel" de L. Frank Baum

Neste clássico menos conhecido do autor de O Mágico de Oz, vemos o nascimento e a trajetória de Noel, uma pequena criança criada na floresta de Burzee entre várias criaturas imortais.



Sinopse:


Em uma história mágica e com tom de lenda, como todas as obras de L. Frank Baum, acompanhamos a vida do Papai Noel desde sua infância em uma floresta fantástica, até sua velhice e seu importante trabalho. Uma leitura encantadora e ecológica do mesmo autor de O Mágico de Oz. Escrita originalmente em 1902.





L. Frank Baum é mais conhecido por seu livro O Mágico de Oz. As aventuras de Dorothy e seus amigos chegaram até mesmo a ultrapassar o nome do autor, tornando-o menor do que sua obra. Chega a ser curioso isso e um fenômeno que eu vi poucas vezes. Vida e Aventuras do Papai Noel é um livro gostoso de ser lido e a edição da Editora Wish está lindíssima e com uma bela diagramação. Como é costume em suas obras, elas mantiveram as ilustrações originais de Mary Cowles Clark. Ao final temos um ótimo texto complementar de Bruno Anselmi Matangrano e Carol Chiovatto que vale a pena ser lido e acrescenta várias informações sobre o autor e sua obra.


Noel é um rapaz que foi encontrado na floresta pela ninfa Necille. Ela o tomou para si e pediu a Ak, Guardião da Floresta para cuidar do menino. Tendo sido criado entre povos imortais, Noel desenvolveu uma doçura e um senso de dever muito grande para com os seres humanos. Ao crescer, percebeu que alguns entre os mais jovens eram infelizes ao não possuir brinquedos para se divertir. Então ele cria os brinquedos e leva até todas as crianças que ele puder. Pouco a pouco a vida de Noel vai se tornando lendária à medida em que ele ultrapassa os obstáculos para se tornar um símbolo de felicidade em uma época do ano como o Natal. Sua tarefa auto-imposta de levar presentes às crianças se tornou sinônimo de um ato de grandeza. Essa é a sua história, de uma criança encontrada na floresta a alguém que precisa aprender a viver sozinho e respeitando a natureza até se tornar o símbolo do Natal.


" - Tudo perece, a não ser o próprio mundo e seus guardiões. Contudo, enquanto a vida durar, tudo na terra terá sua função. Os sábios procuram modos de serem úteis ao mundo, pois aqueles que são úteis viverão outra vez."

Tendo lido O Mágico de Oz e agora esse Vida e Aventuras do Papai Noel entendo o quanto L. Frank Baum é um autor subestimado. Detentor de uma escrita dinâmica e ágil, o livro passa voando. Suas descrições são fáceis de serem entendidas. Os capítulos são pequenos, o que o torna excelente para ser usado como contação de histórias. As palavras são bem encaixadas, resultando em uma experiência agradável para o leitor. Temos um romance longo e um conto curto presentes aqui. O romance contamos acima e o conto trata de um sequestro do Papai Noel que o leva a atrapalhar o Natal e a confiar em seus ajudantes enquanto o personagem tenta tocar o coração de seus captores. Tanto o romance como o conto são bem executados e possuem uma coerência interna sem igual. Parece mesmo que Baum pensou em criar um mundo com lógica e interconexão entre suas histórias.



E aí eu entro no aspecto mais coerente da narrativa. Isso porque aparentemente o romance se passa no mesmo universo de O Mágico de Oz. Não parece à primeira vista, mas como se trata de uma série longa os personagens do mundo de Noel vão se encontrar com Dorothy e seus amigos. Como lemos nos textos de apoio ao final do romance, podemos creditar a Baum algumas das características que vemos em narrativas de fantasia: a existência de uma série longa que compartilha de um mundo, spin-offs da série, acontecimentos que se ligam e causam consequências futuras. Pensar que o autor escreveu isso no final do século XIX e início do XX impressiona. E fornece toda uma nova visão sobre tudo aquilo que ele criou, embora suas histórias sejam voltadas para o público infanto-juvenil.


A narrativa se situa em um mundo cinza entre o conto de fadas e a narrativa fantástica. Ele retém algumas características como a conexão com lendas de outras eras, a ideia de uma lição a ser aprendida e até um conto cautelar ao final (o sequestro de Noel). Ao mesmo tempo temos uma narrativa que segue uma linearidade clara, com início, meio e fim, desenvolvimento de personagens e até evolução. Noel vai aprendendo com suas aventuras e precisando conversar com as outras raças que habitam seu universo. Não existe um antagonista claro, sendo que a história parece mais uma biografia fantasiosa do que uma aventura propriamente dita. Ou seja, nesse ponto, o livro difere um pouco de O Mágico de Oz que possui uma pretensão aventuresca.


"Parece-me que uma criança é igual à outra, uma vez que são todas feitas do mesmo barro, e que as riquezas são como uma roupa, que se pode vestir e tirar sem modificar a criança."

Só tenho que dizer o quanto acalentou o meu coração ler essa história. Aqui está presente a essência do Natal. Nas aventuras de Noel, vemos como ele criou algumas das ideias que foram transmitidas até hoje: por que Papai Noel desce por lareiras, as meias penduradas para receber os presentes, as renas e seus guizos, os ajudantes de Papai Noel que representam os diversos povos imortais e até a criação da árvore de Natal. Baum reuniu todas as lendas populares sobre as festividades e, como um autêntico herdeiro dos ideais dos Irmãos Grimm, atualizou o mito. Ainda assim temos um personagem que é desprendido acerca de sua própria vida e a dedica a levar felicidade a outras pessoas. Certamente uma era mais ingênua e divertida em relação a personagens mais cinzentos que povoam as histórias atuais. Esse é o tipo de livro para ser transmitido às próximas gerações e buscarmos recuperar um pouco do significado original da data.



Existem também vários momentos da narrativa em que o personagem, por ter sido criado por seres oriundos da floresta, se preocupa com a natureza e o que é feito dela. Por exemplo, Noel é vegetariano, sendo alimentado pelos rils, pequenas criaturas dos prados que levam alimentos e deixam no armário dele. Ou outro momento em que Ak reflete sobre o quanto os humanos se expandiram pelo mundo e entende que as árvores são cortadas para construir suas casas. Mas, alerta para a moderação, caso contrário as florestas poderiam sumir. Estamos falando de um romance escrito pós Segunda Revolução Industrial em que os industrialistas avançavam com suas estradas de ferro e a necessidade de extrair carvão para alimentar as caldeiras das indústrias que nasciam. Já ali víamos uma sociedade em transformação e até o Papai Noel fica preocupado de as crianças o esquecerem diante de outras situações do cotidiano.


Adorei a edição da Wish que fez um excelente resgate dessa obra que parece não ter tido tanta divulgação anteriormente. No entanto, queria deixar uma sugestão para uma futura edição. Algumas das criaturas fantásticas presentes na narrativa não são do conhecimento do público em geral, então seria legal um glossário explicando quem (e o que são) os nuques, os rils e outras criaturas da floresta. Acho válido e daria uma riqueza maior a um livro que já é incrível. No mais, só tenho a dizer o quanto eu gostei de conhecer este trabalho do Baum e me chamou a atenção para outras obras escritas por ele.


"Ele levava brinquedos para as crianças porque elas eram pequenas e desamparadas e porque as amava. Sabia que, às vezes, até a melhor das crianças era malcriada e que, muitas vezes, as malcriadas se comportavam bem. Assim são as crianças em todo o mundo, e ele não teria mudado a natureza delas nem se tivesse o poder de fazê-lo."

Um feliz natal a todos!









Ficha Técnica:


Nome: Vida e Aventuras do Papai Noel

Autor: L. Frank Baum

Editora: Wish

Tradutoras: Camila Fernandes e Carol Chiovatto

Número de Páginas: 176

Ano de Publicação: 2020


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