Depois do enterro de seu progenitor original, Adam se vê agora com uma herança e uma família que o detesta. Mas, algumas coisas em sua memória não batem e ele percebe que talvez o velho tenha editado suas memórias.
Sinopse:
No futuro próximo, é possível construir um novo eu, um eu melhor, alguém que pode carregar o seu eu para sempre. Mas se você pode continuar vivendo, se você pode fazer escolhas sobre quem você poderia ser para sempre, o quanto do seu passado você gostaria de carregar com você? Você estaria tentar a talvez... editar? Adam não é tudo o que ele costumava ser, mas o que ele quer ser.
Greg Egan é um autor conhecido por suas ficções científicas duras, repletas de jargões complicados de entender. Algumas de suas obras são um teste real mesmo para os fãs mais hardcore. E é com muita surpresa que eu me deparei com Uncanny Valley e me deparei com um conto gostoso e palatável. Uma mescla divertida de scifi e thriller, Egan conseguiu me prender por toda a narrativa. Não conseguia largar a leitura nem por um segundo.
Adam é um personagem bem interessante. Uma cópia mais jovem de um escritor que acabou de falecer. A história começa no enterro do escritor e o clima é bem sombrio, com a família ficando horrorizada com a presença de um autômato que não representa a existência do homem que estava ali enterrado. Adam tenta seguir a vida e descobre que Gina, uma de suas parentes, lhe deu um golpe. A partir daí ele percebe que suas memórias foram de alguma forma mexidas e possuem algumas lacunas. Ao se consultar com um especialista, Adam descobre que o velho editou propositalmente suas memórias, deixando partes dela em branco. Inicia-se uma busca do protagonista pelo que o falecido estava escondendo. Será um golpe? Uma traição? Um assassinato?
Um dos temas trabalhados neste conto é o de o quanto um clone ou um autômato pode ser considerado uma existência no sentido estrito da palavra. Adam é uma cópia quase perfeita do original (ele não pode se reproduzir), tendo raciocínio e sentimentos próprios. Mas, a lei do mundo não o reconhece como um ser "vivo", sendo que ele precisa pagar por uma autorização para poder transitar pelo mundo. Outros autores já se debruçaram sobre esse tema como Isaac Asimov em O Homem Bicentenário e em Eu, Robô enquanto que a questão da transferência de cérebros foi abordada por Richard Morgan em Carbono Alterado. Mas, Egan trabalha de uma forma mais elegante, procurando tratar de uma forma mais reflexiva voltada para a relação do personagem com a família do falecido. Adam tenta de todas as formas estabelecer algum tipo de contato com eles, até tentando ser mais empático diante de uma situação difícil. O curioso é que ele só vai se sentir à vontade em um lugar completamente diferente de sua origem.
O aspecto investigativo desenrola-se por toda a trama. Achei que o Egan conseguiu manter o interesse do leitor até o final. E ele não entregou as respostas de bandeja para o leitor. As peças precisaram ser montadas por nós, principalmente o final. Não existe um deus ex machina aqui, o protagonista, mesmo possuindo muitos recursos financeiros, precisa ralar para conseguir suas respostas. O autor manteve a narrativa até bem pés no chão, sendo que o aspecto de scifi ficou apenas no fato de o protagonista ser um autômato humanoide e mais alguns detalhes de programação. Mas, tirando isso, daria para se confundir com uma narrativa de mistério.
Ficha Técnica:
Nome: Uncanny Valley
Autor: Greg Egan
Editora: Tor.com
Número de Páginas: 54
Ano de Publicação: 2017
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