O início da jornada de Rick Grimes em um mundo pós-apocalíptico tomado por zumbis. Robert Kirkman nos introduz a um mundo cruel e selvagem onde mesmo os sobreviventes mudaram completamente. Isso porque os bons dias passados ficaram para trás.
Sinopse:
Quantas horas existem em um dia quando você não passa metade dele assistindo à televisão? Quando foi a última vez que um de nós trabalhou DE VERDADE pra conseguir algo que queria? Quanto tempo faz desde que um de nós realmente PRECISOU de algo que QUERIA? O mundo que conhecíamos se foi. O mundo do comércio e da necessidade frívola foi substituído por um mundo de sobrevivência e responsabilidade. Uma epidemia de proporções apocalípticas varreu o globo, levando os mortos a se levantarem e se alimentarem dos vivos. Em uma questão de meses a sociedade desmoronou, sem governo, sem mercado, sem serviço de correio, sem tevê a cabo. Em um mundo governado pelos mortos, estamos sendo forçados a finalmente começar a viver.
Começar uma boa história é sempre uma tarefa complicada. O autor se pega em um dilema de se deve tratar do pano de fundo, apresentar os personagens ou tratar do tema principal da história a ser desenvolvido progressivamente. Saber como abordar aquilo que o autor pretende é uma peça fundamental para uma alavancada inicial para uma história. Kirkman opta por nos colocar no meio do furacão onde Rick Grimes é ferido durante uma ação policial, fica em coma e acorda em um mundo completamente diferente. Rick vai servir como nossos olhos nesse estranho lugar criado pelo autor, explorando de que maneira tudo mudou. Ou seja este primeiro volume serve não apenas para desenvolver as qualidades e defeitos de nosso protagonista como apresentar uma nova realidade que será explorada daqui em diante.
Neste primeiro volume somos levados a conhecer uma realidade que se transforma da noite para o dia. Um mundo em desenvolvimento se torna vítima de uma ofensiva de zumbis que afetam as grandes cidades. Rick Grimes é o xerife de uma cidade pequena, pai de Carl e casado com Lori. Enquanto perseguiam um criminoso, Rick e Shane se metem em um tiroteio que acaba levando o xerife a ficar em coma. Quando ele desperta, tudo parece destruído e estranhas criaturas famintas estão por toda a parte. Ele sai desesperado atrás de sua família e percebe que as antigas regras não valem mais para esse mundo. Sua cidade foi completamente destruída, com casas em ruínas, lojas saqueadas e mortos por toda a parte. Ao se encontrar com uma família, ele começa a entender melhor o que de fato aconteceu com o mundo e com os governos. É então que Rick decide seguir em uma longa jornada rumo a Atlanta onde ele acredita que Lori e Carl podem ter ido se abrigar.
A arte de Tony Moore é extremamente competente para nos fazer ficar imersos nesse mundo horripilante de The Walking Dead. Não há grandes firulas na quadrinização da HQ, salvo uma ou outra splash page ou quadro de página inteira, mas isso não é algo adotado muito pelo artista. Ele prefere os modelos tradicionais de divisão de quadros com quatro a seis por página. O que chama a atenção na arte são dois pontos: o emprego do sombreamento e o quanto ele consegue desenhar formas físicas horripilantes ou deformadas. Para um quadrinho de terror, ambos servem para criar aquela sensação de inquietude onde tudo pode acontecer a qualquer momento. A maneira como ele usa sombras seja nos personagens ou nos quadros ao fundo é incrível e por oras parece que tudo é enevoado ou obscuro. Mesmo quando temos um momento ensolarado, quando Glenn e Rick vão à cidade, o cenário não parece nem um pouco convidativo. O quadro clássico do Rick atirando na cabeça de um zumbi mostra toda a potencialidade da arte sobre a história, esta contada por Kirkman. Destaco também a habilidade do artista com o preto e branco, em uma editora americana mainstream como a Image, por mais que ela esteja vários degraus abaixo de Marvel e DC. Uma editora que costuma trabalhar com arte tradicional, colorida e voltada para o mundo dos super-heróis e, com The Walking Dead, saiu dessa linha e abriu espaço para outra forma de pensar quadrinhos.
É fundamental para o Kirkman pintar um mundo sombrio através de seu roteiro. Tudo bem que sabemos que o Rick é o protagonista, logo ele fará parte da história por um bom tempo. Mas, mostrar que este é um mundo perigoso é uma medida importante para o autor de forma que o leitor não subestime nada na história. Dessa forma, para Kirkman resta a missão de criar personagens empolgantes e carismáticos para destruí-los logo em seguida. É uma equação essencial para que a gente considere os zumbis como seres terríveis e tenhamos medo de sua aproximação. Mesmo que a história não seja sobre os zumbis. Esse primeiro volume é farto em mortes de personagens que a gente passa a curtir. Onde o autor passa vários momentos criando uma atmosfera segura em que somos apresentados a eles para logo em seguida nos dar uma rasteira e colocá-los na boca destes seres terríveis. Com isso ele nos faz temer pela vida dos personagens, assim como os próprios não confiam no próprio ambiente ao seu redor.
É aí que entramos na discussão sobre do que se trata a narrativa. Porque, como disse acima, não é sobre os zumbis. Aliás, Kirkman não dá a mínima para explicar por que o vírus zumbi (se é que é um vírus ou uma doença) afetou a humanidade ou quem criou isso. Não importa. O que queremos saber é como a humanidade irá sobreviver a essa situação extrema. Muito como nas histórias de Stephen King, Kirkman força o equilíbrio de forças e desperta aquilo que existe de pior no ser humano. Isso porque no começo vemos pessoas boas e honestas como o pai de família e seu filho que ajudam Rick inicialmente. Mas, aos poucos, vamos caindo em um inferno sem volta onde sobreviver é preciso a todo custo. As coisas são diferentes agora, então saquear uma loja é válido por mais que Rick diga ao pai que ele precisa devolver as coisas depois. É óbvio que mesmo que o mundo voltasse ao normal, isso não aconteceria. É normal uma criança portar uma arma e aprender a atirar para se defender. São as regras de sobrevivência. Este é um novo mundo.
Algumas pessoas deste novo mundo ainda esperam um possível retorno a um status quo anterior. Tentam se convencer de que o governo dos Estados Unidos vai resolver tudo e aviões passarão a qualquer momento para pôr ordem. A cada dia que passa e isso não acontece, os poucos que acreditam começam a ficar frustrados e não sabem como reagir. É como se todo o mundo que eles conheceram desde o nascimento tivesse sido pulverizado. Não há base para mais nada. A reação de uma pessoa quando vê sua realidade se esfacelar é o desespero claro. É atacar com violência tudo ao seu redor ou suas características negativas serem magnificadas. O título deste primeiro volume é Dias Passados e a sensação que passa ao final deste primeiro volume é justamente essa: a de dias que nunca mais retornarão. Cabe à humanidade buscar formas de sobreviver sabendo que não são mais o topo da cadeia alimentar. E que existe um predador faminto solto ao ar livre pronto para devorar a tudo e a todos em pouco tempo.
Um primeiro volume sensacional deste que já se tornou um clássico dos quadrinhos. Aqui conhecemos não apenas Rick, um cara legal e um xerife preocupado com a segurança de todo, mas um mundo pós-apocalíptico insano que vai testar as emoções dos personagens ao limite. Onde nada é garantido, tudo é permitido e talvez alguém sobreviva ao final do dia para contar a história. A arte de Tony Moore é apavorante no bom sentido da palavra e é perfeita para auxiliar a construir o clima pesado da história.
Ficha Técnica:
Nome: The Walking Dead vol. 1 - Dias Passados
Autor: Robert Kirkman
Artista: Tony Moore
Editora: Panini Comics
Tradutores: Eric Novello e Levi Trindade
Número de Páginas: 152
Ano de Publicação: 2017
Outros Volumes:
Vol. 2
Vol. 3
Vol. 4
Vol. 5
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