Paulo Vinicius

Resenha: "The Kite Maker" de Brenda Peynado

Uma linda história sobre uma vendedora de pipas que revê suas ações em relação a uma espécie alienígena que agora habita a Terra. Uma história sobre preconceito, compreensão e redenção.

Sinopse:

Depois que alienígenas chegam na Terra, humanos fazem o impensável por puro medo. Quando um alienígena entra em uma loja de pipas, desejando suas pipas, a humana luta com sua culpa acerca de seu papel nos massacres de alienígenas, quando neo-nazistas cruzam uma linha violenta entre alienígenas e humanos.

Histórias sobre invasões alienígenas são repletas de tensão, conspiração e medo. Brenda Peynado quebrou esse clichê ao pensar de uma maneira invertida. E se os alienígenas fossem criaturas frágeis e os seres humanos se tornassem os verdadeiros agressores? Ao inverter a dinâmica, a autora pensa de forma ainda mais avançada: quem seriam os alienígenas? Em um determinado momento da noveleta, a protagonista se pega pensando em quem seria o mais alienígena após as chegada das Libélulas, os seres que vieram de outro mundo. Isso porque os humanos revelam uma faceta de sua personalidade que é tão estranha que os torna de outro mundo.

A protagonista (em uma história narrada em primeira pessoa) é uma mulher que faz pipas para sobreviver. Trabalha também com outros tipos de brinquedos para crianças como ioiôs, mas suas pipas são basicamente pequenas obras de arte por conta de suas figuras e detalhes. A Terra tem agora novos habitantes: as Libélulas, seres insetóides que vieram de outro planeta, este destruído por uma explosão solar. Ao chegarem na Terra acabaram sendo vítimas da violência humana, que não os compreendi e os rejeita como seres inteligentes. Por terem corpos frágeis, as Libélulas foram relegados a lugares improvisados onde eles lutam para sobreviver. Tove, um Libélula pai de jovens meninos, vai até a loja da protagonista comprar uma pipa. Por conta de seus corpos tão leves quanto folhas de papel, as pipas são usadas pelos Libélulas para se alçarem no ar e não sentirem tanto a dor provocada pela gravidade pesada (para eles) da Terra. O contato com Tove faz com que a protagonista tenha amargas lembranças em relação ao passado.

Parando para pensar no pós leitura, esse é um conto que tem uma série de camadas. Não é uma história que tenha me fisgado e por isso minha avaliação pode até ser um pouco injusta, mas mesmo assim ela tem tanto a dizer. É uma narrativa que trata de xenofobia e intolerância no sentido de que não conseguimos conviver com o diferente. O ser humano precisa se estabelecer como o superior. E reage quase como um cão protegendo o seu território quando outro pisa em seu lugar. O curioso é que Brenda Peynado quase não fala sobre como os governos reagiram à chegada das Libélulas; a perspectiva aqui é a do homem comum. E a protagonista se envolveu em uma escaramuça com os alienígenas. Ela conta suas ações tenebrosas de quando ela tomou parte na expulsão deles de seu bairro. Depois, observando-os com mais calma, percebeu o quanto são delicados e enxergam as coisas de uma forma muito diferente. Para ela, suas ações foram vergonhosas e quando os neonazistas atacam sua loja ela se recorda imediatamente destes momentos terríveis.

As Libélulas são seres frágeis e pacíficos. Não entendem a ideia de ordens, de comandos. Sua maneira de ver o mundo é que cada um tem seu direito de escolha. Mesmo em situações trágicas ou de perigo, eles mantém essa postura blasé, Quando seu mundo foi destruído, eles não choraram ou se desesperaram pelos seus entes queridos. Apenas deram adeus. Esse comportamento é estranho demais tanto para nós, leitores, quanto para a própria protagonista. Mas é interessante pensarmos: imagina se tirássemos todos os verbos de comando do nosso alfabeto. Será que isso implicaria em uma mudança na maneira como enxergamos o mundo?

The Kite Maker é uma bela história escrita nesse mundo tão estranho e polarizado que vivemos hoje em dia. Em o quanto a incompreensão e o medo nos torna menos humanos e mais alienígenas. E o quanto ações simples podem ajudar a construir pontes tão necessárias para alcançarmos um desenvolvimento e um futuro diferentes.