Uma menina que sofre de uma terrível deformidade física se envolve com uma harpia que parece ser a única pessoa que a entende. Encontrará ela a liberdade ao voar rumo ao desconhecido?
Sinopse:
Tem uma harpia com asas de bronze vivendo no lixão atrás do prédio de Desiree. Ela é feia e come lixo, mas tem também um pequeno reino lá atrás. Desiree quer algo para si, também - alguma coisa toda dela. Pode essa velha e horrível criatura ajudá-la?
Tem algumas histórias que leem e machucam a gente. Essa é uma delas. Elizabeth Bear cria uma narrativa emocionante sobre uma menina cuja mãe tem AIDS e passou a doença ainda no útero para ela. Como consequência disso, Desiree desenvolveu uma série de deformidades físicas (como uma corcunda e terríveis tumores nos ombros) e deixou sua saúde fragilizada. Sua mãe adotiva a cria mais por obrigação do que por amor e isso se revela na indiferença em relação a seus problemas. Além disso, a situação financeira delas não permite a Desiree buscar ajuda médica. Ela tenta tocar uma vida normal, mas a estranheza com a qual as pessoas olham para ela acabam afastando-a do convívio com outras pessoas. Mas, Desiree acaba encontrando em uma estranha harpia com asas decaídas a pessoa que a compreende. Este ser horrível se torna sua principal amizade, e mesmo a harpia sendo sincera, crua e verdadeira com ela, ambas se tornam companheiras improváveis.
Que narrativa poderosa! Não é o meu primeiro rodeio com a autora, sendo que já li um romance longo e outros contos dela, então dá para reconhecer a forma estilística dela. Bear opta por empregar uma narrativa em primeira pessoa, o que dá ainda mais impacto ao que Desiree pensa e fala. A narrativa é simples de ser compreendida e a autora não esconde os problemas sofridos pela personagem. Ela os apresenta de uma só vez e vai nos colocando diante dos dilemas vividos por Desiree. Mesmo o elemento estranho é entendido como normal pela protagonista o que dá um ar quase de realismo mágico para a história. Isso porque a harpia é apenas um elemento diferente que participa da história e não o elemento central da mesma.
Bear se debruça sobre um tema complicado que é o de crianças que adquiriram geneticamente a AIDS e acabam precisando conviver com a negligência dos pais. Desiree é uma garota sonhadora cujos sentimentos são esmagados diariamente por uma sociedade que não a aceita. Sua condição financeira não permite a ela poder amenizar os efeitos da doença. E o que é pior: seu organismo fragilizado desenvolve efeitos colaterais que pioram o seu bem-estar. Ouvir os seus relatos a cada linha é como levar facadas no coração repetidas vezes. O leitor sabe desde o primeiro momento que essa não é uma história feliz e que nem vai acabar bem. A dor da protagonista reverbera junto a nós fazendo com que a personagem viva uma lenta sonata rumo à auto-destruição.
O curioso é que por ela ter uma aparência terrível, as pessoas ao seu redor não sentem que ela deve ser ajudada. Vai ser preciso um ser vil e cruel para entender o que Desiree sente em seu íntimo. Mesmo a harpia sendo uma devoradora de homens, ela consegue compreender a dor de não ser aceita. Essa conexão entre as duas personagens é transcrita de uma forma tão serena pela autora que chega a ser tocante. Até o momento em que a harpia solta uma frase cruel e tudo volta ao normal. Mas, é nessa estranha conexão que Desiree percebe que ela precisa se tornar livre desse mundo. Não há lugar para ela aqui. E suas próximas ações vão ser baseadas nessa percepção. E eu recomendo bastante a leitura. Bear tem uma forma de apresentar suas narrativas com uma precisão que eu vejo poucos hoje.
Ficha Técnica:
Nome: The Horrid Glory of its Wings
Autora: Elizabeth Bear
Editora: Tor.com
Número de Páginas: 18
Ano de Publicação: 2011
Avaliação:
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