A major Motoko Kusanagi ao lado de seus companheiros da Seção 9 precisam lidar com diversos casos de forma rápida e eficiente. Corrupção política, manipuladores de robôs, terroristas. Uma história que se passa em um Japão mais próximo de nós do que imaginamos.
Sinopse:
Influenciado por obras “cyberpunk” do final dos anos 1980 como Akira e por filmes como Blade Runner - O Caçador de Androides, o cenário escolhido por Masamune Shirow para The Ghost in the Shell foi o futuro distópico de 2029, onde a alta tecnologia se mistura a uma sociedade decadente e desigual.É nesse mundo à beira do colapso que a Major Motoko Kusanagi encabeça a Seção 9 da Segurança Pública japonesa. Motoko é uma ciborgue altamente treinada incumbida de desmantelar uma série de crimes cibernéticos realizados por um hacker conhecido como o Mestre dos Fantoches. Em meio à caça ao criminoso virtual, Masamune Shirow insere na trama questionamentos existencialistas, ponderando até mesmo se alguém provido meramente de Inteligência Artificial é, de fato, um ser vivo. E foi exatamente essa mistura de ficção científica, ação e temas filosóficos que fizeram do mangá The Ghost in the Shell uma leitura obrigatória.
The Ghost in the Shell é um mangá que, sem dúvida alguma revolucionou o universo das histórias cyberpunk. Muito por conta da inspiração de seu autor, Masamune Shirow em Blade Runner, um clássico do cinema. Toda a estética empregada por Ridley Scott em seu filme está presente aqui: seja a metrópole decadente, a corrupção, a alta tecnologia enxergada de uma maneira bem pessimista. Analisar uma obra tão seminal quanto The Ghost in the Shell é sempre um desafio principalmente quando existe uma enorme discrepância entre o original e a adaptação em anime.
Vamos lidar então com o elefante na sala. O mangá é completamente diferente da animação. Muito. São tão distintos que a animação pega fragmentos de plots do mangá para compor a sua narrativa e, mesmo assim, se distancia bem do material original. Enquanto a animação é uma apoteose de ideias colocadas coerentemente em uma tela de TV, o mangá é muito mais um coletivo de ideias postas no papel. E já digo logo que eu me decepcionei bastante com o mangá, mas preciso pedir aos senhores e senhoras que não teçam comparações entre as duas mídias. Não dá. É preciso analisar ambos em suas individualidades.
A edição da JBC está muito boa mesmo. Foi a partir de Ghost in the Shell (e também do kanzenban de Cavaleiros do Zodíaco) que começamos a ver a editora passando para uma versão mais luxuosa dos seus mangás. Temos aqui um mangá com uma bela jacket (algo que eu só vi depois em Blame) e por questões contratuais a editora precisou colocar as orelhas da forma como a editora japonesa pediu. Então temos as orelhas escritas em japonês. Ao final temos um posfácio bem legal escrito por Shirow em 1991 contando um pouco das suas inspirações na época para a escrita do mangá. O papel é bem legal, macio e não transparente. Temos várias páginas coloridas o que ajuda a relevar a arte do autor em alguns momentos.
E aí chegamos à arte. Olha, é complicado a gente fazer uma análise imparcial dessa parte sem lembrar da animação. Me esforcei para gostar, mas não rolou mesmo. Aliás, se servir melhor como comparativo sugiro a galera assistir Appleseed, outro trabalho do Shirow cujo design de cenários e personagens é mais semelhante a Ghost in the Shell. O design da Motoko é parecido com o da animação, mas me incomodou, por exemplo, a forma caricata como ele desenhou o Batou. Em muitas oportunidades vemos o personagem com faces sd ou balançando os braços, ou tomando uma canecada na cabeça. Eu entendo que isso faz parte do ritmo traçado por Shirow de quebra de narrativa às vezes, mas isso me irritou em várias oportunidades. Os cenários desenhados não são nada demais. Departamentos de polícia, topo de prédios, uma embaixada. Algumas ideias que ele tem para o mangá são desenhadas de forma legal como a rede como se fosse uma célula, o design dos robôs desmontados ou até algumas cenas de perseguição.
A narrativa em si é formada por diversos casos que a Seção 9 precisa solucionar. São "vilões da semana". Temos um plot central no fundo com o Mestre dos Fantoches que vai redundar no dois capítulos finais do mangá que causarão mudanças no status quo da Seção 9. Algumas das histórias são legais enquanto outras eu achei mais medianas, mas no geral elas são bem vinculadas aos dias de hoje. Shirow faz vários paralelos a situações do mundo real. É mais uma vez a ficção científica sendo empregada para discutir problemas contemporâneos. E eu gosto disso. O grande problema é o emprego excessivo de textos. Shirow é verborrágico... muito verborrágico. E isso vem das influências ocidentais que ele tem. Como ele foi profundamente influenciado pelos comics americanos, ele transpõe isso para a forma como ele cria sua história. E isso porque eu nem estou comentando sobre as notas de rodapé excessivas espalhadas ao longo de toda a narrativa. Quando foram ler, minha recomendação é que passem direto por estas notas de rodapé e só depois retornem. Tem vários momentos em que parece que o Shirow está nos dando uma aula de física ou de mecatrônica, usando gráficos e diagramas para explicar suas ideias. Como comparação, podemos pegar Blame, escrito por Tsutomu Nihei. Na narrativa, o autor não precisa explicar cada detalhe tecnológico ou de cenário. Ele procura usar a arte sequencial para passar ao leitor o que está se passando na história. Mesmo os alto conceitos são explicados de uma forma simples e direta, deixando muita coisa a cargo da imaginação do leitor. O que o Shirow faz de forma complicada, Nihei descomplica e deixa fluir mais a sua habilidade visual.
Vou passar por alto em alguns temas porque Ghost in the Shell trabalha com vários. A primeira história serve para nos apresentar os personagens e um pouco do universo onde tudo acontece. Ver como os seres humanos se tornaram buchas de canhão enquanto outros são quase como objetos a serem jogados fora é gritante. Nesse ponto, as inspirações cyberpunk de Shirow são fortes ao imaginar um mundo superpopuloso com uma clara separação entre pessoas com recursos e pessoas exploradas. Os humanos acabam precisando ser "educados" para trabalhar de forma eficiente. Vemos detalhes pequenos que nos permitem entender um pouco da dinâmica deste mundo como o recolhimento de lixo que é cronometrado ou a fábrica onde os trabalhadores são programados. Logicamente que isso é do interesse das grandes corporações que ampliaram o seu escopo ao redor do mundo. Apesar de vermos a presença de um governo, são as seções e as corporações os verdadeiros poderes por trás de tudo.
"As informações que um ser humano tem acesso durante a vida são limitadas. O destino de uma nação ou a vida de uma pessoa são tratados praticamente da mesma forma, como lixo. Assim como este caso, que nunca vai chegar ao conhecimento da população."
O autor mescla elementos religiosos ao lado da tecnologia. Por conta de suas crenças, ele coloca a questão da alma presente em boa parte da narrativa. Para ele, a alma está presente em todas as coisas. Mesmo andróides possuem essa alma como aquilo que os torna únicos. E esta alma pode ser destruída, trocada ou manipulada. A alma é quase como o que dá identidade à Motoko, por exemplo. Quando aparece um adversário como o Mestre dos Fantoches que possui uma existência volátil, somos colocados diante de muitos questionamentos sobre o que nos torna humanos e como podemos transcender nosso atual estágio evolutivo. É possível ter duas existências dentro de si? Ou essas duas existências criarão algo novo? Essa temática é a que aparece na animação. Gostei da forma como o autor abordou o assunto, mas confesso que ele me cansou bastante com isso. Isso porque ele precisou explicar detalhadamente suas ideias, e depois de uma leitura mais longa, os detalhes acabam se perdendo.
O mangá de Ghost in the Shell continua a ser um marco do gênero cyberpunk. É inegável a forma como a estética de Shirow inspirou outros autores. O curioso é que provavelmente o autor só queria homenagear de certa forma algo que lhe era tão caro. Porém, o traço do autor me incomodou bastante além de sua extrema verborragia em muitos momentos da história. Muitas vezes, menos é mais.
Ficha Técnica:
Nome: The Ghost in the Shell Autor: Masamune Shirow Editora: JBC Gênero: Ficção Científica Tradutora; Drik Sada Número de Páginas: 352 Ano de Publicação: 2016
Outros Volumes:
Ghost in the Shell 2.0
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