Em um mundo devastado pelo aumento dos oceanos, um grupo de pessoas tenta sobreviver em uma ilha, um refúgio final para a humanidade. Só que a natureza está mudando e podemos estar acompanhando a alvorada dos homens.
Sinopse:
"Sweetlings" de Lucy Taylor fala sobre um pequeno enclave de pessoas vivendo na reduzida costa leste dos EUA, sobrevivendo e evoluindo à medida que os mares da Terra sobem.
O meio ambiente e o aquecimento global tem se tornado preocupações recorrentes nos dias que se seguem. São várias as denúncias feitas sobre o desmatamento, o efeito estufa e as alterações climáticas provocadas. Isso abriu espaço para uma série de produções que buscam imaginar um futuro distópico onde algum elemento preocupante se tornou a chave para a derrota da civilização. Lucy Taylor abraçou a ideia do derretimento das calotas polares e o subsequente aumento dos mares. Mas, ela deu um passo além e imaginou como a natureza faria com o que o ser humano se tornasse o beco sem saída da evolução.
Nossa protagonista vive no que sobrou da costa leste dos EUA. Um espaço pequeno (quase uma ilha) onde as pessoas tentam sobreviver através do envio de alimentos vindos por caminhões e a vida é mais complicada. A população diminuiu tanto que os habitantes locais já pensam em casamentos endogâmicos como uma forma de perpetuar a espécie humana e dar uma chance à civilização. Mas, isso vai se complicando cada vez mais e alguns tentam a sorte e partem rumo a um lugar sussurrado entre seus pares onde teria um tipo de vida melhor. Só que ninguém nunca retornou de lá para dizer se isso existe mesmo. Do lado de nossa personagem principal, ela só tem seu pai, que está em uma cadeira de rodas, vítima de uma doença que ninguém consegue explicar. Sua mãe se suicidou depois de ter afogado seu irmão mais novo, por causas não explicadas no começo da história. Só que mudanças evolutivas em antigos seres marítimos vão colocar toda a população do lugar em risco.
Melancolia é a chave para entender essa história. A narrativa segue um ritmo de abatimento e desesperança que permeia a forma como os personagens lidam com a sua realidade. Lucy Taylor escolheu a narrativa em primeira pessoa, o que nos permite enxergar o que a protagonista está vendo, o que está sentindo. Isso fornece uma empatia maior no leitor que pode compreender a gravidade da situação vivida por todos. Por exemplo, a gente conhece desde o princípio a forte ligação que ela tem com seu pai. Então quando aparece a chance de ela sair da ilha, sabemos qual vai ser sua resposta simplesmente porque sentimos o amor que ela tem por seu pai. Essa é uma relação que vai fazer parte da virada narrativa que acontece lá pelo final da história. Mas, falando da escrita pura e simples, ela é boa e coloca sua proposta na mesa para o leitor poder se relacionar com a história. Nada fica muito incompreensível, mesmo quando a autora dá uma viajada e começa a inserir elementos fantásticos na narrativa. As explicações são plausíveis embora a gente possa questionar como uma evolução acontece tão rápido. Se as criaturas já existissem antes e só estavam escondidas até daria para entender, só que isso não é mencionado em nenhum momento. Então elas apareceram simplesmente.
Não é apenas um cientista que já apresentou a noção de que o ser humano é uma espécie de parasita do planeta. Ele retira, mas não devolve nada. Supor que ele seja o beco sem saída da evolução não seria estranho porque não conseguimos imaginar o que viria depois de nós. Seres com super poderes? Com vida estendida? Capazes de viver em múltiplos ambientes? O que vem depois? Uma coisa é certa: o ser humano do século XXI é bem diferente fisicamente e fisiologicamente dos nossos antepassados de cem anos atrás. As mudanças não são drásticas, mas elas estão aí. Talvez a nossa alimentação, o ambiente em que vivemos; muitas são as coisas que podem atuar nessa mudança. Não quero entrar em grandes detalhes porque posso entregar algum spoiler, mas basta pensarmos o que aconteceria ao ser humano diante de uma situação-limite. Após várias gerações em um ambiente hostil e que exige uma outra forma de abordagem em relação aos seus arredores.
Senti que faltou um pouco mais de desenvolvimento da protagonista em relação aos seus pares. Deu para entender bem a conexão que ela tinha com o seu pai e até em parte com o seu interesse amoroso. Leiam interesse amoroso muito mais como uma relação de perpetuação da espécie do que algo sentimental, embora tenha um momento bem legal entre os dois. Essa disconexão da protagonista com seus pares fez com que a virada narrativa e sua escolha posterior se tornassem estranhas (no primeiro caso) e óbvias (no segundo). Isso fez com que houvesse uma dissonância entre as duas metades da narrativa. Quando o estranho acontece faltou aquele impacto em relação ao que havia antes. Mesmo assim, Sweetlings é uma fábula sobre como a humanidade se encontra em uma encruzilhada e necessita mudar a forma como se relaciona com o mundo em que vive.
Ficha Técnica:
Nome: Sweetlings
Autora: Lucy Taylor
Editora: Tor.com
Número de Páginas: 35
Ano de Publicação: 2017
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