Um viajante do tempo cria uma sala de reticulação do tempo dentro do cérebro de Abraham Lincoln. Ele está fazendo um estudo que acaba sendo interrompido quando o corpo de seu pai aparece na porta de sua sala. Várias vezes... todos os dias. Uma infinitude de corpos de seu pai.
Sinopse:
No cérebro esvaziado do décimo sexto presidente dos EUA, um viajante do tempo miserável constrói um modesto apartamento e se isola de seu próprio tempo, seu próprio espaço, sua própria espécie e seu próprio passado. Mas quando lembranças cruéis de sua vida antes da moradia intracranial começam a aparecer em seu apartamento recém-construído, o viajante do tempo é forçado ou a lidar com suas memórias ou, ao falhar nisso, fugir ainda mais delas.
Comentar sobre romances com algum elemento de nonsense é sempre complicado. Isso porque o nonsense precisa ser encarado como algo normal dentro da construção da narrativa. Por mais que o leitor não concorde com a "física" por trás do nonsense, ela existe e dá prumo. Claro que, se a narrativa tem alguma coisa gritante que chama a atenção pela sua falta de nexo, é óbvio que outras coisas vão aparecer em algum momento. E o leitor precisa estar preparado para entender o nonsense como fazendo sentido. Não é um erro do autor; é proposital, é alguma tirada sarcástica, uma ironia ou uma metáfora. E aqui tem algumas coisas bizarras. Mas, bizarras mesmo.
Imaginem um viajante do tempo. Um estudioso sobre períodos históricos que deseja realizar experiência com reticulação do tempo. Imagine que ele descobriu que um viajante do tempo pode ocupar qualquer espaço em determinado momento do passado, não importando se ele vai precisar perder massa ou não para isso. Essa é toda a fundação da teoria de nosso viajante. Ele estabelece o seu apartamento-laboratório dentro do crânio de Abraham Lincoln. Sim, o presidente. Para ficar mais confortável, ele escava o cérebro dele e o deixa oco. Afinal, é necessário espaço para trabalhar. Agora ele pode aproveitar a paz, o silêncio e a solidão para colocar suas pesquisas em dia. Só que sua paz é ameaçada quando seu pai aparece do lado de fora do seu apartamento, tentando entrar. Ele morre antes mesmo de nosso protagonista aparecer para ajudá-lo. Depois que seu pai é devidamente enterrado no interior do crânio de Lincoln, o viajante retoma sua pesquisa. E no dia seguinte, outra versão de seu pai aparece e morre novamente. E se abre um mistério...
Em toda a sua estranheza, a narrativa é uma visão sobre a relação entre pai e filho. Percebemos que ela não é boa a partir de algumas linhas deixadas pelo personagem. Os fragmentos de informação lentamente vão contando uma história. Desejar a solidão e estar sozinho não é por acaso. Ele parece ter tido uma criação com um pai ausente e que, por conta disso, causou um vácuo de presença em sua vida. Quando ele teve contato, situações estranhas se sucederam que levam a um acontecimento trágico mais tarde. Por conta das linhas de viagem no tempo, algumas informações e constatações só ficamos sabendo mais tarde.
Achei a narrativa curiosa e o autor tem uma mão bem leve na história. Apesar de ela ser pequena, o fato de ela ser quase inteiramente descritiva faz com que ela encorpe mais. Se trata de uma narrativa em terceira pessoa e percebemos um pouco de sarcasmo na forma como o autor apresenta os acontecimentos. Outro recurso empregado é o do fluxo do pensamento fazendo com que o protagonista fale de diversos assuntos dentro de um mesmo parágrafo. Não é uma história complicada de ser compreendida, sendo apenas bizarra o suficiente para chamar a atenção.
Ficha Técnica:
Nome: Sic Semper, Sic Semper, Sic Semper
Autor: Douglas F. Warrick
Editora: Tor.com
Número de Páginas: 21
Ano de Publicação: 2016
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