Indo ao resgate de Xavier que se perdeu em janeiro de 1980, Galileu e Estevão usam a máquina do tempo para trazer o chefe de volta na marra. Mas, Galileu não esperava ter de rever alguns traumas do passado.
Sinopse:
Quanto tempo o tempo tem?
Galileu tem medo de chuva. Não chega a ser um problema tão grande assim, a não ser por um detalhe: ele é meteorologista — e está prestes a enfrentar a maior tempestade de sua vida, mas ainda nem sabe disso.
Quando se fala em histórias de viagem no tempo, normalmente o leitor imagina histórias aventurescas ou que tratem do futuro da humanidade. Mas, é possível abordar este gênero de uma maneira mais intimista como Audrey Niffenegger fez em A Mulher do Viajante do Tempo. É nesse clima que Anna Martino conta a história de Galileu, um homem já maduro, médico e parte de uma equipe de viajantes do tempo a serviço de Xavier. Quando uma das expedições de Xavier dá errado, eles precisam ir até 1980 resgatar o patrão. Só que Galileu não esperava ter que enfrentar alguns dos fantasmas de seu passado.
Uma das características marcantes da escrita da autora é seu jeito compassado de levar a história. Ela não tem pressa de expor as situações e sentimentos dos personagens. Isto a gente pode perceber em A Casa de Vidro, onde ela vai contar uma narrativa que dura vários anos. Ela consegue nos entregar um personagem repleto de camadas na figura de Galileu. Ele possui um trauma relacionado a chuvas e enchentes. Logo no início ela revela que o personagem perdeu a mãe na enchente do rio Capiberibe. O personagem acaba sendo enviado para o Rio de Janeiro para ser cuidado por sua avó de quem guarda boas recordações. Nesse resgate de Xavier, ele jamais esperaria cruzar com sua avó no meio de uma capital como São Paulo. Mas, o destino prega estranhas peças em nossas vidas. A narrativa vai nos guiar pela vida do protagonista e ao mesmo tempo em que ele vai se recordando de alguns bons momentos, Galileu descobre novas informações sobre sua vida.
Não paramos para pensar muito a respeito de nossas infâncias. Sempre nos lembramos com nostalgia de algumas coisas, mas as informações costumam ser nubladas. É interessante perceber como a visão de determinadas coisas ou a opinião sobre nós pode mudar de acordo com o ponto de vista. E é isso o que pega o nosso viajante do tempo de surpresa. Ao mesmo tempo o personagem acaba revendo algumas de suas opiniões sobre acontecimentos do passado. Isso com um novo olhar, um olhar mais maduro de quem já teve anos de vivência.
Se eu falo que a escrita da Anna é compassada, o fato de a narrativa toda se passar em um dia acaba tornando tudo muito corrido. Eu entendo que havia a necessidade de mostrar uma certa urgência, mas isso foi prejudicial ao todo. Talvez se a história tivesse ocorrido no espaço de alguns dias, daria para aceitar determinados acontecimentos. Por exemplo, por mais que Galileu seja um cara bom de lábia, as pessoas o aceitaram com muita facilidade. Informações íntimas de família foram repassadas para ele em um espaço de horas. Mesmo ele sendo um conhecido de alguém aparentado da família, eu acho pouco provável repassar essas informações para um total estranho. Nesse sentido, a narrativa da Anna teria se beneficiado da própria qualidade da autora, a paciência e o ritmo calmo: construir uma interação entre Galileu e a família no espaço de alguns dias e criar alguns obstáculos para Estevão e Xavier.
A leitura é muito gostosa e divertida. A Anna tem uma qualidade de compreensão de personagens que poucos autores possuem. Como eu já disse algumas vezes, ela é uma boa contadora de histórias. Infelizmente ela acabou derrapando no próprio esquema que ela criou para essa história em particular, mas essa narrativa vai te deixar pensando bastante sobre escolhas e o valor dos dias vividos. Nossa existência é única e cada nascer do sol é um momento que jamais se repetirá no tempo e no espaço. Aproveitem cada segundo de suas vidas.
Ficha Técnica:
Nome: Senhor Tempo Bom
Autor: Anna Martino
Editora: Plutão Livros
Número de Páginas: 78
Ano de Publicação: 2020
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