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Foto do escritorAmanda Barreiro

Resenha: "Rubra - A Guerreira Carmesim" de Gaby Firmo de Freitas

Atualizado: 19 de mai. de 2019

Rubra precisa travar uma luta interior para se lembrar de quem é e descobrir o seu lugar no mundo de Akkikana, que arde em guerra entre humanos e selvagens. 

Sinopse:


Em Akkikana, um mundo permeado por lendas de deuses e dragões, onde a magia parece jazer adormecida em meio às histórias e o passar dos séculos, Duine, uma poderosa cidade, se ergue alastrando seu domínio por todo o continente e enriquece através de seu mercado escravista.

Os selvagens, raça humanoide de orelhas pontudas e olhos animalescos que consegue se transformar em temíveis bestas, são mantidos como escravos. Contudo, a capital encontra como única resistência o povoado de Karesh, governado pelos "meia-orelha", uma mistura de humanos com selvagens.

Nesse cenário de guerra iminente, uma jovem selvagem de olhos e cabelos cor-de-fogo, desperta de seu sono perene, dentro de uma misteriosa gema incandescente. Sem memórias de seu passado, Rubra passa a ser criada por Nappises, mago pessoal do soberano da capital que devasta o continente. O velho a esconde do mundo, não só por sua cor de cabelos e olhos incomum, mas para protegê-la da cruel condenação dos que pertencem à raça mais odiada de todo o reino.



A luta pela sobrevivência de uma espécie


Preciso começar dizendo o quanto é gratificante participar da campanha #leiamulheres e poder trazer conteúdos criados por mulheres inspiradoras neste mês de março. A bem da verdade, um mês não basta para conhecer, ler e amar autoras e personagens que dão formas tão belas às histórias, mas a conscientização é um pontapé necessário para a valorização feminina na literatura. E é nesse contexto e neste dia tão especial que eu trago com enorme felicidade a resenha de uma autora nacional tão encantadora quanto seu livro.

“Como poderiam as lendas ser reais, sem que nunca as tivéssemos visto?”

A escravidão e o domínio dos humanos sobre os meia-orelhas (mestiços) e os selvagens levaram a escaramuças entre esses dois povos e, agora, a guerra bate às portas de Duine. O colonialismo desenfreado corrompe a própria terra e as lendas desapareceram. Além disso, Rubra, uma selvagem que acordou sem memórias, precisa se lembrar de quem é e de seu papel em Akkikana, esse mundo que está à beira de um colapso.

O worldbuilding da autora é primoroso e é um dos pontos mais valiosos de Rubra. É louvável o cuidado que ela teve com a construção das lendas, deuses e semideuses, clima, vegetação, animais, cenários, sistemas de magia e combates épicos envolvendo uma das criaturas mais impressionantes da fantasia: dragões. Tudo isso é devidamente catalogado em um glossário no final do livro, que eu acessei mais por curiosidade do que por necessidade, porque tudo é facilmente compreendido no decorrer da história.

Gaby revisita os clássicos da fantasia para fazer críticas atuais e afiadas sobre a depredação da natureza e a crueldade com os animais, retratada em cenas duras e impactantes, a objetificação da mulher e o ódio decorrente da ignorância. O livro me conquistou quando atentei para esses pontos e é impossível não escolher lados na história.

“ – Uma vida pode parecer pouco se você não ousar. Mas se buscar novos lugares, ela se mostra longa e grandiosa.”

Muitas coisas acontecem ao mesmo tempo em Rubra, muitos plots e personagens, e manejar tudo isso é quase sempre uma situação ingrata para os autores. É complicado alcançar a complexidade de todos os pontos principais se estes são muitos e o excesso de informações dificulta a imersão no enredo e a identificação com os personagens. O tempo que gastamos para absorver tudo que é apresentado em Rubra acaba nos distraindo um pouco da trama principal e nos impede de avançar.

Gostei de boa parte dos personagens criados pela Gaby. São interessantes, misteriosos e claramente têm mais para contar do que entregam neste primeiro volume. O selvagem Gorar é cativante desde o primeiro momento em que aparece, Rubra evolui consideravelmente por causa das provações pelas quais passa durante a história e nos mantém curiosos para saber sobre suas origens, mas é Tyrannie que rouba a cena do livro inteiro e ansiamos por cada pequeno momento em que ela aparece. Porém, pelo mesmo excesso de elementos que citei anteriormente, outros personagens não são tão bem explorados e acabam ficando artificiais ou simplesmente sobrando no contexto.

A narração é feita em terceira pessoa e o livro é dividido em capítulos e subcapítulos com diferentes pontos de vista e a escrita da Gaby é um elemento praticamente personificado na história. É singular, bonita, poética, mas eu faço um alerta aqui: não são todos os leitores que gostam de palavras floreadas. Particularmente, eu vejo muita beleza nas palavras da autora e acredito que esse diferencial valoriza o livro, mas precisa ser bem dosado.

Ao mesmo tempo em que esse recurso engrandece, ele também trava a leitura pelo excesso. A quebra do ritmo narrativo é muito perigosa, especialmente nos momentos explosivos da trama, e causa certa confusão no leitor. Em uma cena de ação, nosso cérebro quer mais ritmo e menos conteúdo e é nessa hora que o freio causado pela escrita pouco usual da Gaby nos provoca um solavanco desconfortável, prejudicando a fluidez da leitura.

O enredo é envolvente e a autora consegue nos proporcionar um passeio cheio de criatividade. O que me deixou triste, no entanto, foi a divisão feita no livro para uma continuação posterior. Essa decisão, bem como a falta de polimento textual para contornar esse corte, tornou o final muito abrupto. Eu gostaria muito de ter lido Rubra sem essa divisão.

A edição física, por sua vez, é uma obra de arte. Cada capítulo é iniciado por uma ilustração lindíssima, o mapa é colorido e percebe-se uma evolução de cores nas marcações das páginas indicando também a progressão da história. Segurar Rubra em mãos e folhear esse capricho todo vale cada centavo.

“ – Uma vida sem coragem é uma vida sem sentido. Tema a morte e vai temer a vida. Viva sem medo e talvez algo vá valer a pena”.

Rubra – A Guerreira Carmesim é uma fantasia com enorme potencial e uma mensagem forte a ser carregada pelos dragões apaixonantes criados pela autora. Sendo seu livro de estreia, acredito que Gaby ainda tem muito talento para nos mostrar. Aguardo pela continuação para poder continuar explorando a magia dos detalhes de Akkikana.


Ficha Técnica:

Nome: Rubra – A Guerreira Carmesim Autora: Gaby Firmo de Freitas Série: Rubra vol. 1 Editora: Pandorga Gênero: Fantasia Páginas: 340 Ano de lançamento: 2016


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