Um grupo de colonos envolvendo cientistas de diversas áreas de conhecimento é enviado até Marte. A partir daí se inicia a aventura de colonizar o planeta vermelho. Interesses econômicos, exploração do desconhecido e ambição vão ser a tônica desta ousada empreitada.

Sinopse:
Por séculos, o território árido e desolado do planeta vermelho negou a humanidade. Agora um grupo de cem colonos inicia uma missão cujo objetivo final é transformar Marte em um planeta semelhante à Terra. Eles irão lançar imensos satélites-espelho na órbita de Marte para refletir luz em direção à superfície. Poeira negra será borrifada nas calotas polares para absorver calor e derreter o gelo. E túneis maciços serão escavados no manto planetário para criar tubos de ventilação naturais de gases quentes. Mas, apesar destes objetivos ambiciosos, existem alguns que irão lutar até a morte para prevenir Marte de ser alterado.
Kim Stanley Robinson é considerado o mago da ficção científica ambiental. É um subgênero da ficção científica com histórias que se passam em ambientes bizarros ou que analisam a interferência do homem em um ambiente que pode ou não ser o nosso. Red Mars é uma aula de como criar uma história inteligente em um cenário familiar usando análises científicas para tornar a história escabrosamente verossímil. Apesar de a resenha de Aurora ter sido publicada antes, Red Mars foi o primeiro livro que eu li do autor. E foi paixão à primeira vista.
Geralmente histórias que mexem muito com aspectos científicos costumam ser chatas e maçantes com detalhes que nem sempre interessam ao leitor. Não é o caso aqui. O autor consegue empreender um ritmo tranquilo e brilhante à narrativa, fazendo com que as coisas sejam captadas muito bem pelos leitores. Conseguimos entender mesmo as altas ideias que ele implementa aqui. A narrativa é em terceira pessoa e vai se centrar em diversos personagens cada um representando um núcleo narrativo por vez. Ora estamos com o líder de missão, ora com a engenheira-chefe, ora com os revoltosos resistindo à empreitada das grandes corporações. A história é grande e vai fazer você imergir no planeta vermelho completamente.
Vou falar um pouco sobre os personagens apesar de eles serem apenas uma parte menor do enfoque. Pensar que toda a confusão em Marte se inicia por conta de um triângulo amoroso é incrível. Parece clichê no começo, mas aos poucos o autor vai delineando toda uma cadeia de eventos onde no final o triângulo amoroso vai parecer o menor dos problemas. Os colonos são vivos, no sentido de que eles é que vão dar forma ao começo da terraformação. Durante esse processo vamos ver relações iniciando, e como elas vão moldar os rumos da colonização. O início que se passa na nave a caminho de Marte é claustrofóbico e realmente deixar os sentimentos aflorarem naquele momento é parte desse processo de permanecer encarcerado em um lugar sem ter para onde ir. Uma cena muito boa que é característica desta sensação de claustrofobia é quando temos os personagens indo visitar o observatório faltando poucos meses para aterrissagem. É ali que vemos as alianças se formando e os ressentimentos transparecendo.

Mas, o protagonista real deste primeiro volume (e, conhecendo o autor, da série inteira) é o próprio planeta vermelho. É ele que será explorado e até violentado pelos seres humanos. Vemos como a natureza de um planeta hostil ao homem vai se comportar mesmo diante de todo um ambiente favorável a ele. O autor demonstra que mesmo pensando em todas as variáveis possíveis, certas coisas são imprevisíveis. A ecologia de um planeta é complexa demais para sermos levianos. Em certos momentos, vemos um abuso no ato de explorar um ambiente que até certa etapa estava sendo "acolhedor" com o homem. E então vieram as grandes empresas. Este momento que se passa na metade da narrativa me lembrou o período das Grandes Navegações quando as terras do novo mundo foram espoliadas pelos europeus. No Brasil, os portugueses extraíram o pau-brasil, destruindo a Mata Atlântica. Vemos isso também em Marte com o derretimento das calotas polares e a exploração selvagem dos recursos do subsolo de Marte.
A questão ética que fica é: ao colonizarmos um planeta devemos alterá-lo para satisfazer às nossas necessidades como ser humano ou nós é que devemos alterar nosso modo de vida para nos adaptarmos ao lugar? As duas vertentes competem fortemente ao longo de toda a narrativa. Isso chega às vias de fato com uma revolta interna colocando colonos nos dois lados da disputa. Até mesmo teremos o começo de uma nova geração surgindo em Marte e acredito que esse tema dos "nascidos na Terra" e dos "nascidos em Marte" servirá de mote para os próximos volumes. A reação da natureza à exploração do homem mais para o final é para lá de esperada. A natureza não é bondosa; ela é justa com aqueles que a valorizam. E da mesma forma que ela é justa, pode revidar de forma radical quando violentada. O autor deixa um gancho magnífico do primeiro para o segundo livro.
Se vocês não conhecem o autor, deem uma oportunidade. Se encantem com a sua escrita. Sejam levados até ambientes estranhos regados por uma ciência que parece tão real que você vai perguntar se isso não seria possível. O que é o maior atrativo da escrita de Kim Stanley Robinson é que mesmo ele sendo um pouco pessimista com o que o homem pode fazer dado o poder de alterar a natureza que ele possui, seus livros não deixam de ser encantadores. E servem até de alerta em uma era em que vivemos tão próximos de exaurir nossos recursos naturais.


Ficha Técnica:
Nome: Red Mars Autor: Kim Stanley Robinson Série: Mars Trilogy vol. 1 Editora: Bantam Books Gênero: Ficção Científica Número de Páginas: 592 Ano de Publicação: 1993
Outros Volumes:
Green Mars (vol. 2)
Blue Mars (vol. 3)
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