Satanás, Maria, Guará e Celestino são quatro encrenqueiros que se metem em todo tipo de trambicagens. Mas, eles querem se aquietar depois de anos de vida bandida. Para isso eles precisam fazer um último trabalho: entrar em um hotel onde um infiltrado de Araújo, um intermediário de crimes, desapareceu.
Sinopse:
Para quitar uma dívida antiga, um grupo de amigos aceita a missão de procurar o capanga desaparecido do vigarista local em um hotel misterioso no interior de Sergipe. Os quatro cabras da peste — Celestino, um cachaceiro supersticioso, Satanás, um folgado com uma filha recém-nascida, e Guará e Maria, dois irmãos que brigam mais que cão e gato — terão de deixar as diferenças de lado se quiserem ter sucesso na empreitada, que esperam que seja a última. Contudo, mal imaginam os segredos que Henry, gringo dono do hotel, esconde em sua propriedade.
Thiago Lee nos entrega uma história muito bem humorada sobre quatro indivíduos que juntos formam um grupo de trambiqueiros que fazem todo o tipo de armações. Assaltos, trabalhos de infiltração e o que precisar ser feito. O intermediário deles é um homem chamado Araújo que passa a eles as missões. Eles formam uma equipe ideal, mas chega um momento em que todos querem se aquietar. Celestino está em busca de redenção; Satanás tem um filho e precisa se endireitar e Maria quer se mudar. Mas, Guará tem outros planos. Ele vai até Araújo e descobre que eles ainda devem uma bolada e o intermediário sugere um último servicinho. Eles tem que ir até um resort em um lugar afastado de Sergipe investigar por que um dos homens dele desapareceu sem deixar vestígios. É aí que o nosso grupo vai se meter. Parece ser um serviço fácil. Óbvio que as coisas vão dar errado.
Olha, apesar de eu não gostar de narrativas que funcionam em sua maior parte baseada em diálogos, até que gostei da maneira como o Thiago os utilizou. Esse é um daqueles contos que se fossem em um ritmo descritivo não funcionariam. Isso porque a narrativa depende dessa discussão entre os personagens, da troca de farpas, ou de como se usa a expressão em inglês, do bantering. Só funciona por que estamos lidando com personagens cujas personalidades são fortes. A narrativa é em terceira pessoa mais próxima dos personagens. Mas o que importa mesmo é como os diálogos fornecem velocidade para a narrativa. Embora seja uma noveleta o leitor não sente a quantidade de páginas. Se formos pensar acontece bastante coisa na história, mas tudo parece orgânico.
Adorei como o autor deu personalidade à narrativa. O forte regionalismo presente na trama é bem colocado e eu curti demais porque fornece uma experiência diferente ao leitor. Não é daquelas narrativas que acontecem em um lugar específico do Brasil, mas que poderia acontecer em qualquer outro lugar. Tudo aqui faz sentido: as músicas, as falas, os trejeitos, a localização. Compõe um todo. E isso feito naturalmente, sem forçar a barra. O autor não está tentando fazer uma apologia ou uma homenagem ao local, é simplesmente porque a história acontece lá.
Os personagens são incríveis. São divertidos, irônicos e maldosos quando precisam ser. Estamos falando de ladrões. Claro que eles não vão ser modelos de personalidade. Mesmo assim eles são carismáticos e com seus problemas e dúvidas que os afligem. Maria é a personagem que funciona como a cola do grupo. Com a cabeça no lugar, procura tentar organizar o caos que é a loucura do grupo. Ela tem aquela divertida briguinha entre irmãos com Guará. As interações entre os dois são engraçadas e fazem lembrar mesmo essa disputa entre irmãos. Satanás é alguém cuja cabeça está em outro lugar. Desde que teve um filho ele quer ser uma pessoa melhor. O interesse por missões perigosas e que envolvam objetivos não muito nobres parece não o estar agradando mais. Mesmo assim ele segue por amizade e lealdade aos outros. Já Celestino é uma mente em busca de um objetivo. Ele sabe que o que ele faz é errado e entende que é preciso mudar. Mas, não sabe como fazer. Por um lado ele está ao lado de seus companheiros e deseja o que há de melhor para eles. De outro sabe que é preciso se afastar deles caso queira algum módicum de redenção. Ou seja, no fundo a história é sobre amizade e companheirismo e como essas quatro personalidades tão distintas conseguem funcionar tão bem juntas. Mesmo com suas diferenças.
Admito que a virada narrativa lá no final não me agradou muito. Eu preferiria que eles fossem capazes de sair daquela enrascada pelas próprias capacidades, não por algo escondido. Me deixou um pouco frustrado, mas okay. Foi uma ideia do autor para mudar completamente o tom da narrativa. As pistas estavam bem sutis espalhadas na história, mas sei lá. Me decepcionei um pouco mesmo. Talvez eu tenha criado uma expectativa X quando na verdade nada indicasse que ele iria por esse caminho. Okay, isso sou eu. Tenho certeza de que todos curtirão demais a história.
Ficha Técnica:
Nome: Quatro Cabras da Peste e Um Segredo
Autor: Thiago Lee
Editora: Revista Mafagafo
Número de Páginas: não informado
Ano de Publicação: 2020
Avaliação:
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