Conheçam os primeiros passos de Hari Seldon na criação da psico-história e os desafios que ele enfrenta em Trantor ao lado de sua guarda-costas Dors Venabili. Uma história que se passa antes do primeiro volume da série fornecendo várias respostas a alguns pontos que pareciam lacunas.
Sinopse:
O Império Galáctico é uma extraordinária conquista da humanidade, abrangendo 25 milhões de mundos. Trantor, sua capital, é uma gigantesca metrópole em torno da qual orbita uma civilização avançada e complexa. Mesmo assim, o imperador Cleon I sente seu poder ameaçado e busca a todo custo se antecipar a qualquer situação de perigo.
Quando o jovem matemático Hari Seldon chega à cidade para divulgar sua psico- história o imperador encontra nele a garantia de sua segurança e posição. Em pouco tempo, Seldon se torna o homem mais procurado da Galáxia, e enquanto luta para impedir que sua teoria caia em mãos erradas, começa a vislumbrar a chave para o futuro.
Anos depois de ter escrito o romance que se tornou um clássico de ficção científica, Fundação, Asimov retorna ao mundo de Trantor para nos contar a trajetória de Hari Seldon. Novos detalhes emergem e uma história fascinante se desdobra pelas diferentes regiões do planeta. Esse é um dos últimos trabalhos do autor e nele percebemos a prevalência de alguns temas e uma maior maturidade em sua narrativa. Inclusive temos uma personagem feminina que tem bastante importância, contrariando as críticas que o autor sempre recebeu por não colocá-las em posição de destaque. Pode não ser um dos melhores trabalhos do autor, mas ele é carregado de emoção do início ao fim. Vale para quem deseja conhecer mais sobre esse fascinante universo criado pelo autor.
Prelúdio à Fundação foi escrito quatro anos antes de sua morte. O leitor consegue perceber muita instabilidade na narrativa com trechos que são maravilhosos e nos deixam mensagens fascinantes e outros que são bastante enfadonhos e em nada acrescentam. Se formos levar em conta a série Fundação sob uma perspectiva cronológica, este livro viria antes do primeiro volume. Porém, não recomendo começar por ele justamente por causa desses altos e baixos. A narrativa é contada em terceira pessoa do ponto de vista de Seldon e de sua guarda-costas, Dors Venabili. Não há uma alternância clara entre os dois personagens, mas isso não era comum na época de sua escrita. Hoje os autores costumam empregar mais a ideia de capítulos dedicados a analisar a trama a partir da visão de cada personagem. É uma narrativa que possui início, meio e fim, mas deixa um gancho que será usado em Crônicas da Fundação, o derradeiro último volume da série.
A narrativa se passa no momento em que Hari Seldon vai até o governo imperial apresentar suas noções sobre a psico-história pela primeira vez. É preciso pontuar que, nesse momento, Seldon não tem segurança quanto aos métodos e ao funcionamento daquilo que ele criou. Tanto é que em diversos momentos ele faz experimentos para ver se a psico-história tem sucesso em algum postulado. Vale destacar como Asimov emprega novamente o método científico para nos mostrar suas ideias. Sempre na tríade hipótese - experimentação - conclusão. Por conta disso temos vários momentos em que o autor aborda o tema amplamente, o que nos tira do prumo em relação à história. Inclusive temos o emprego de diálogos expositivos para entregar determinadas tramas. Só que eles acabam parecendo forçados porque estão deslocados de uma fala normal entre duas pessoas. Isso nos remete a livros de ficção científica clássicas que usavam esse recurso. É uma mecânica que pode ou não funcionar dependendo de como o autor conduz a narrativa. Tal não é o caso aqui.
Uma das grandes críticas feitas às obras de Asimov é em o quanto elas são praticamente "higienizadas" no que diz respeito à participação feminina. Salvo a dra. Susan Calvin, famosa protagonista de diversos contos da coletânea Eu, Robô, mulheres não tinham participações importantes em seus romances. Apenas papeis eventuais, em segundo plano ou em situações de pouca importância como um todo. Aqui, temos a introdução de Dors Venabili, inicialmente uma guarda-costas de Seldon e mais tarde um interesse romântico do personagem. É bem doce a interação entre os dois e mostra o quanto Asimov amadureceu sua percepção da participação feminina em uma narrativa. O próprio final da história é bem romântico. A personagem tem bons momentos na história e age como um contraponto à personalidade sempre "nas nuvens" de Seldon. Dors é mais prática e pragmática e se vê precisando lidar com situações bem adversas por conta da vigilância feita por Cleon I.
Outro ponto que é bem diferente nesta história são os momentos de ação. Gostei de vê-las porque elas não são comuns nas narrativas do autor, mais voltadas para o campo das ideias ou para a investigação/discussão como na série Os Robôs. Hari possui habilidades marciais... vem logo na cabeça do leitor aquele senhor do primeiro livro dando um golpe de karate em outro personagem. Confesso que me diverti imaginando uma cena dessas em minha mente. Aliás, vale ressaltar que esse Seldon não é o mesmo cientista estoico e confiante do primeiro volume, mas um homem bastante impulsivo e temperamental. Terão momentos em que não parece o mesmo personagem. Claro que podemos colocar na conta da idade, já que lidamos com um indivíduo que não passou pela mesma quantidade de experiências que ele terá quando for mais velho. E a própria narrativa, que é uma jornada de exploração, vai nos mostrando um amadurecimento progressivo dele.
A fuga dos espiões de Cleon vão fazer com que Seldon tenha contato com as mais variadas culturas presentes dentro de Trantor. Vale destacar o quanto elas são diferentes apresentando modos de vida curiosos como o viver no subterrâneo, o viver com poucos itens para subsistência, uma espécie de grupo rebelde, entre tantos outros. É um belo estudo sociológico que vai ajudar Seldon a encorpar as suas teorias da psico-história. Durante a fuga, Seldon irá conhecer Raych, um menino que ele irá adotar como se fosse um filho. Veremos esse ambiente familiar sendo mais trabalhado no último livro da série, mas são momentos bacanas os passados entre Dors, Raych e Seldon. Diferentemente de outras obras, vemos um foco do autor em desenvolver seus personagens, fornecer vida e tridimensionalidade a eles. Se comparados a outras obras ou até a preocupação dos dias atuais com o papel deles, os personagens de Asimov nem são tão complexos assim. Mas, o leitor acaba por desenvolver uma empatia pelos mesmos.
Volto a afirmar: não é uma das melhores obras do autor, mas certamente vemos um esforço por trazer novos elementos e um carinho pelo universo que ele criou. Algumas lacunas vão sendo preenchidas, nos fornecendo detalhes maiores sobre a política e as relações em Trantor. É uma adição bastante necessária porque o primeiro volume não usa muito tempo no planeta e nos deixa com várias informações lacunares. Vale também para vermos outros personagens como Raych, Dors, Demerzel, Se você é um fã de Asimov ou da série, é uma daquelas obras obrigatórias.
Ficha Técnica:
Nome: Prelúdio à Fundação
Autor: Isaas Asimov
Série: Fundação vol. 6
Editora: Aleph
Tradutor: Henrique Szolnoky
Número de Páginas: 512
Ano de Publicação: 2021 (nova edição)
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