Coop está passando por um momento difícil: sua vida não faz mais qualquer sentido e ele está pronto para tomar uma atitude drástica. Mas, uma mulher desesperada vestida apenas com farrapos de roupa pede sua ajuda. De repente o personagem vai se envolver nos bastidores cruéis da cultura pop.
Sinopse:
E se os pop stars e celebridades do mundo todo fossem literalmente produtos, criados pelas mentes mais ricas (e depravadas) do mundo todo - e uma delas escapasse?
Único e divertido, POP é uma montanha-russa de emoções pela tragicomédia de marketing e tecnologia que chamamos de vida.
Sabe quando você fica empolgado com uma ideia legal e no final você sai decepcionado? Foi um pouco disso o que aconteceu quando terminei de ler POP, uma HQ que tinha tudo para gerar boas histórias de conspiração e ideias malucas. Quando a gente lê os extras no final do encadernado, passa a impressão de que o autor tinha uma série de ideias legais, mas como só foram publicados quatro volumes ele precisou comprimir tudo em uma narrativa de perseguição. Para completar o final é aberto, mas em um aberto que deixa coisas demais por contar. A arte não me impressionou tanto, mas é o que há de melhor na HQ. Sei que esse texto introdutório da resenha não deixa você, leitor, muito ansioso por ler o resto dela, mas preciso ser honesto e tentar refletir sobre alguns temas tratados pelo autor.
Tudo começa quando Ella, uma mulher criada em laboratório, foge do seu tanque de crescimento e sai correndo pelas ruas de uma cidade no interior dos EUA. Ela acaba topando com Coop, um homem desesperado e com uma vida caindo aos pedaços. Em um momento instintivo, ele acaba abrigando Ella e dando um pouco de segurança. Só que Ella não se lembra do que aconteceu com ela. Só sabe que tem pessoas perigosas perseguindo-a, capazes de qualquer coisa para alcançar seus objetivos. Descobrimos que neste mundo, artistas e celebridades são criados in vitro por homens multimilionários que ditam a moda. Eles criam o novo sucesso e ganham milhões de dólares com isso. Só que essa é uma operação secreta e quando uma das experiências foge, o chefe do projeto teme que isso chegue aos ouvidos da imprensa e cause um terrível escândalo que poderia custar muito dinheiro para reparar uma imagem pública. Dois assassinos são contratados para recuperar Ella e matar todos os que tiveram contato com ela. Inicia-se uma terrível perseguição que colocará a vida de Coop em perigo e o levará a descobrir os mistérios mais sombrios da cultura pop.
O roteiro tinha tudo para entregar ótimas discussões sobre cultura pop e a influência das tendências na forma como idealizamos certas figuras. No entanto, o produto final é uma história de perseguição, que até é interessante, mas ela acaba ficando rasa e superficial. É aquilo: não é que eu não tenha gostado completamente da história. Mas, quando você se depara com um roteiro repleto de possibilidades instigantes, quando o resultado é muito aquém do esperado, o resultado é decepcionante. Entendi que a história se focava mais em Ella e Coop, mas nem isso redunda em algo satisfatório. Não há tempo de criar uma conexão com o casal já que o autor precisou explicar alguns elementos de seu roteiro. Houve uma divisão entre o núcleo dos protagonistas, o dos assassinos e o dos empresários. Quando o arco dos dois chega em seu momento climático, não consegui sequer aceitá-los como casal. Me pareceu forçado e fruto de um momento de perigo.
O protagonista é um personagem à beira de um precipício. Sua vida não tem muito sentido, ele é viciado em drogas e não sei como é a sua vida financeira. Porque o pano de fundo dele termina ali. O que eu consigo deduzir é que alguma coisa saiu errada no passado que o levou a ter esse jeito largado. Quando ele se encontra com Ella, uma faísca se acende nele de forma a que ele se sente útil em ajudar alguém em necessidade. Todos os movimentos dele acabam sendo instintivos, o que torna o personagem reativo demais. Ele simplesmente foge junto com Ella quando dois assassinos batem em sua porta. A perseguição de carro e a fuga do laboratório também são reações ao que está acontecendo com ele no momento presente. O pior é que ele nem fica sabendo por que Ella está sendo perseguida já que ela está sem memória. Ou seja: ele sabe que tem que correr e que tem gente má atrás dele. Só. Em um certo momento, ele tenta reavivar a memória de Ella com uma droga alucinógena, mas nunca ficamos sabendo com precisão se isso aconteceu mesmo ou não. Fico pensando na cara do Coop quando ele está sendo interrogado se realmente sabe de alguma coisa e ele responde consecutivamente que não. E o torturador continua com o interrogatório e ele realmente não sabe de nada. É frustrante isso.
Talvez a melhor coisa do quadrinho é o casal de assassinos. Eles são divertidos, depravados e mortais. Donos de algumas das melhores falas da HQ até. Nem mesmo o grupo de cientistas pesquisadores conseguiu me animar muito. Porque muitas das boas ideias acabaram cortadas por falta de espaço. O próprio diretor do laboratório me parece só um vilão de quinta, que somente grita por todo o lado, contrata pessoas e pisa no chão quando está frustrado. Isso antes do vilão acima do vilão de quinta ameaçar a vida dele e ele tomar medidas mais drásticas. Quando a HQ sai do seu enredo conspiratório, ela se torna um enredo sem graça e clichê. Mesmo o momento climático não é tão interessante assim porque não houve tempo para colocar os personagens em uma situação de perigo realmente mortal. Salvo a perseguição dos assassinos que termina rápido, não há uma sensação de urgência.
Quanto à arte, ela é interessante. Tem um aspecto meio sujo como se fosse uma história policial com aspectos de ciência. Jason Copland emprega muitos cenários de interior como casas, lojas ou escritórios. Tem alguns momentos em que um laboratório científico é criado e ele consegue se sair bem ao criar um ambiente que parece saído de um filme A Experiência. Acho que aqueles tanques com pessoas pode ter sido inspirado nesse filme. No meio da HQ, ele até apresenta uma arte diferente, simulando a viagem alucinógena da Ella. E esse é o melhor momento da arte dele, quando ele mescla as cores e cria uns caleidoscópios visuais bem legais. O design de personagens me pareceu um pouco inspirado no que Mike Dringenberg usou em Sandman com rostos pesados e expressões fechadas. Por exemplo, nada me tira da cabeça que o assassino homem foi inspirado no rosto do Ozzy Osbourne. Ah, tem uma homenagem curiosa no meio da HQ ao Grant Morrison e ao Frank Quitely.
Enfim, não dá para esconder a minha decepção. Procurei destacar alguns pontos positivos na HQ, mas a história me incomodou a tal ponto que não consegui curti-la por completo. Achei uma bela oportunidade desperdiçada para contar uma boa história. Não sei se o momento em que ela foi publicada foi errado e a Dark Horse pisou no freio e não deixou a história continuar. Não sei se o autor não tinha solidificado o que queria fazer e só queria uma história de perseguição com um enredo maluco. Bem, ele dá pistas do que ele pretendia na carta de intenções no final da HQ então a gente consegue tirar algumas conclusões. Não indico a HQ. Procurem outros trabalhos do Curt Pires porque ele é um roteirista bastante criativo, mas esse não foi um dos seus melhores projetos.
Ficha Técnica:
Nome: POP
Autor: Curt Pires
Artista: Jason Copland
Colorista: Pete Toms
Editora: Dark Horse
Número de Páginas: 112
Ano de Publicação: 2015
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