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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "O Protegido" (Ciclo das Trevas vol. 1) de Peter V. Brett

Um povo que não pode sair à noite por causa do terraítas, dominados pelo medo, se vê diante de lendas que falam de um Salvador que poderia devolver sua segurança. Mas, antes que este Salvador volte (se é que ele irá voltar) a noite ainda será muito escura. Conheçam o terrível mundo de O Ciclo das Trevas.


Sinopse:


O Protegido Às vezes há boas razões para ter medo do escuro... Assim que a escuridão cai, os demônios corelings aparecem em grande quantidade, gigantes de fogo, madeira e rocha famintos por carne humana. Depois de séculos, os humanos definham com o esquecimento das marcas de proteção. Arlen, Leesha e Rojer, três jovens que sobreviveram aos ataques demoníacos, atrevem-se a lutar e encarar o perigo para salvar a humanidade. Em O Protegido – eleito um dos dez melhores romances fantásticos de 2008 pela Amazon UK –, a humanidade cedeu a noite aos corelings e são poucos que ainda conseguem se esconder atrás das proteções mágicas, rezando para que elas os conduzam para mais um dia. Conforme os anos passam, as distâncias entre as pequenas vilas se aprofundam. Parece que nada pode deter os demônios ou aproximar a humanidade novamente. Arlen, Leesha e Rojer, crianças nascidas nesses pequenos vilarejos hoje isolados, não se conformam com essa situação. Um Mensageiro ensina ao jovem Arlen que o medo, mais que os demônios, tem paralisado a humanidade. Leesha vê a sua vida perfeita ser destruída por uma simples mentira e se torna uma coletora de ervas para uma velha mulher, mais temida que os demônios da noite. E a vida de Rojer muda para sempre quando um menestrel viajante chega à sua cidade e toca seu violino. Mas estes três jovens carregam algo em comum. São todos teimosos, que não se rendem à realidade imposta a eles e sabem que há muitos segredos e mistérios no mundo além do que lhes contaram. Para descobrir isso, eles terão que se arriscar, abandonar suas proteções seguras e encarar os demônios de frente. Juntos, os três podem oferecer à humanidade uma última, e fugaz, chance de sobrevivência. A impressionante estreia de Peter V. Brett – um dos mais aclamados autores de fantasia dos últimos anos – é uma aventura fantástica que cativa e emociona o leitor ao conduzi-lo a um mundo de demônios, escuridão e heróis. Uma bela metáfora sobre o medo e como precisamos confrontá-lo todos os dias para não deixar que ele nos domine e conduza a nossa vida.







Ter esperança é um luxo quando um mundo vive apenas em um frequente medo sobre coisas aterradoras. Neste livro, Peter V. Brett fala de um medo assolador e cada página é repleta de desesperança. Mas, o homem não é um ser que goste de ficar preso em um pequeno muro para o resto da vida. Ele anseia pela liberdade, pela possibilidade de caminhar livremente pelos campos. E é este anseio que moverá a obsessão de um homem.

A vida de Arlen muda completamente do dia para noite. Todos os dias ele e o pai traçam proteções nas casas de forma a que as pessoas possam se proteger à noite contra os terraítas. Traçando símbolos misteriosos, eles são capazes de sobreviver mais um dia para contar a história. Mas, Arlen não suporta a vida de um prisioneiro em sua própria casa. Um determinado dia Arlen e sua mãe demoram um pouco para entrar em casa e são atacados ferozmente por demônios da madeira. Enquanto eles são atacados, seu pai, Jeph, nada faz para salvá-lo e sua mãe. A partir daí, Arlen abandona a vila e jura matar todos os terraítas que encontrar. O menino é adotado por Ragen, um mensageiro de Miln que é conhecido por ser destemido. Ragen irá ensiná-lo a ser um homem responsável, mas ao mesmo tempo procura dissuadi-lo de tentar ser um mensageiro. A vida de um é muito difícil, já que eles precisam atravessar os campos infestados de demônios para levar mensagens entre as vilas. Leesha é uma menina de Clareira do Lenhador que está prometida ao belo e forte Gared. Ela tenta viver sua vida ao lado de sua odiosa mãe Elona e seu gentil pai Erny. Leesha desconfia da infidelidade de sua mãe, mas ainda não havia pego sua mãe em flagrante. Tudo muda quando Gared e seu pai Steave precisam passar algum tempo em sua casa após um ataque de terraítas. É então que toda a rede de mentiras irá se desvencilhar e uma pequena mentira de Gared fará a vida de Leesha virar de cabeça para baixo. Ela será acolhida pela misteriosa Bruna, uma ervanária que guarda os segredos dos antigos. Já Roger é um jovem menino de Pontefluente que mora junto de seus pais em uma estalagem. Um dia, as proteções da vila falham e os demônios entram com fome, devorando pessoas a torto e a direito. O menestrel Arrick, que estava na vila a mando de um duque, acaba se envolvendo de forma negativa no ataque, mas acaba salvando o menino. A partir de então, a vida de Arrick e Rojer, que perdera seus pais durante o ataque em Pontefluente, precisarão aprender em conjunto.


O Protegido possui uma escrita fantástica. O autor imprime um ritmo muito bom na história. Ele é um livro grande o qual o leitor não sente o tamanho do mesmo. Eu buscava sempre arrumar um pouco de tempo para continuar minha leitura. Não são todos os livros que possuem essa peculiaridade. E o vocabulário usado pelo leitor é simples, então logo conseguimos nos acostumar com os jargões usados ao longo da história. Uma escrita também muito suave e ritmada que conduz o leitor por centenas de páginas. Brett usa o esquema dos Pontos de Vista: temos a história sendo contada por Arlen (o protagonista), Lessha e Rojer. O grosso da história fica a cargo de Arlen, mas temos bons momentos com os demais personagens. A narrativa da história é em terceira pessoa, onisciente. O autor descreve tudo o que acontece ao seu redor, mas deixa uma brecha para que o leitor possa imaginar aquilo que está sendo escrito nos capítulos.

Eu adorei a história. Mas, acredito que o livro seja um pouco lento o que acaba prejudicando um pouco sua avaliação final para mim. Ele sofre do mal do primeiro volume. Para poder desenvolver os personagens e apresentar o mundo, o autor se vê sacrificando o plot central. Aliás, não há exatamente um enredo central. Podemos dizer que o objetivo final era conseguir um meio para destruir os terraítas. Sim, eu entendo, mas eu senti que este primeiro volume é muito mais uma apresentação, uma grande introdução para os eventos vindouros. Os três personagens são muito bem construídos e suas histórias de fundo são muito interessantes. Quando o leitor consegue gravar os nomes daqueles que circundam os personagens no passado, é sinal de que o autor fez um trabalho bem competente. Dois terços do livro são empregados para mostrar o crescimento e o amadurecimento dos mesmos ao lado de algum tipo de mentor: Ragen para Arlen, Bruna para Leesha e Arrick para Rojer. Na minha modesta opinião, a história de Leesha é a melhor das três. Entendo que toda a jornada de Arlen em busca do poder de derrotar demônios seja a típica jornada do herói, mas a história de Leesha envolve vários elementos interessantes como o bullying, a violência doméstica, a virgindade, o estupro. O autor toca em temas bem pesados com ela. Já a história de Rojer é a mais fraca. Não senti muita empatia pelo personagem, apesar de ele crescer nos capítulos finais da trama. O triângulo amoroso não funcionou e o leitor sabe a quem Leesha irá dirigir o seu afeto eventualmente.


Queria falar de alguns temas bacanas trabalhados ao longo da trama. O mais óbvio é a desesperança. Os humanos são caçados pelos demônios há mais de trezentos anos na história. Eles perderam completamente a esperança de serem capazes de ferir ou até de matar um demônio. Eles se conformam em apenas sobreviver. Ou seja, os demônios se tornaram o topo da cadeia alimentar. O autor demonstra isso através de algumas cenas bem violentas: a morte dos pais de Arlen, o ataque em Pontefluente, a obsessão do Maneta por Arlen e até mesmo a invasão à cidade protegida de Miln. Todos são ilustrações do poder e do medo causado pelos demônios. Quando acontece posteriormente a batalha na Clareira do Lenhador, o leitor suspira finalmente com a capacidade de vencer estes demônios. Mas, ao longo de três quartos da história, Brett nos mostra o lado covarde do homem. O que ele faz para poder sobreviver chega a ser repulsivo em algumas situações: Arrick empurrando os pais de Rojer e causando a morte dos mesmos; Jeph abandonando sua família para salvar sua pele, ou o duque abandonando os mais necessitados para servirem de alimento aos demônios. A fúria de Arlen faz sentido; a grande questão é quando esta se torna o seu objetivo de vida. Ele deixa de viver, principalmente depois de ser traído, para se tornar uma máquina de matar demônios. A desesperança se torna em obsessão; o medo se torna ódio. Só que Arlen está tão possuído pelo ódio que ele não percebe que se tornou aquilo que ele mais temia: um demônio tanto quanto os demônios que ele caça. Não um demônio no sentido literal, com chifres ou cuspindo fogo, mas na sua psiquê. Ele passa a ver os humanos como tolos e medrosos, e sua companhia apenas lhe incomoda. O próprio Arlen se alija da sociedade.

Já a história de Leesha é mais complexa. Com uma mãe abusiva, tudo o que ela deseja é poder fazer suas próprias escolhas. E esta capacidade lhe é retirada pelo simples capricho de um macho querendo provar que o é para seus colegas. A partir de então, Leesha passa a ser comparada à sua mãe, o que para ela é terrível. Elona é vista como um mal para a jovem. É tudo o que há de errado em sua vida. Ela quer poder escolher o que fazer de sua vida, a quem dar sua virgindade, com quem se casar. Bruna irá lhe devolver essa capacidade, mas não sem alguns sacrifícios. O irônico de tudo é que a vida irá novamente lhe tirar o que ela quer, mas ela precisará se conformar com o fato de que não podemos ter tudo o que queremos. Nesse processo de amadurecimento, com todas as mazelas que ela vai passar, Leesha se tornará uma mulher melhor. Sabedora de suas habilidades, com confiança em si mesma e lidando com os problemas de cada dia.

A edição da DarkSide está muito bonita. Como sempre eles fizeram um acabamento em capa dura e com folhas em papel pólen. A folha de guarda tem símbolos que tem a ver com a história. Vir com uma folha por dentro com tatuagens que podem ser colocadas com aplicação na pele é uma iniciativa bacana que estimula o leitor a imergir na história. A fonte também é agradável aos olhos apesar de a costura do livro atrapalhar um pouco quando chegamos na metade do livro. A ilustração de capa é feita em relevo o que dá uma brilho especial para o mesmo. Mais uma vez a editora se supera na apresentação de seu livro. E isso conta muito na hora de adquirir o mesmo.

O Protegido é uma interessante história de dark fantasy. Nos apresenta um mundo diferente, tomado por demônios onde uma pessoa pode ser morta em um piscar de olhos. Os personagens apresentados são bem desenvolvidos ao longo da trama, mas o livro sofre do fato de ter de fazer muitas apresentações ao longo de sua história. Não há necessariamente um plot central, sendo que a justificativa pela busca da habilidade de ferir monstros uma justificativa muito vaga para centrar a história. A batalha final é muito bem desenvolvida e emocionante. Isso demonstra que o autor sabe construir momentos de tensão. A história pode ser encarada como fechada, já que ele encerra bem o enredo, deixando alguns pontos a serem trabalhados em volumes futuros.









Ficha Técnica:


Nome: O Protegido

Autor: Peter V. Brett

Série: Ciclo das Trevas vol. 1

Editora: DarkSide Books

Gênero: Fantasia

Tradutor; Petê Rissatti

Número de Páginas: 528

Ano de Publicação: 2015


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