Paulo Vinicius

Resenha: "O Problema dos Cálculos Maquinares" (Sherlock e os Aventureiros vol. 2) A.Z. Cordenonsi

No #EspalheFantasia dessa semana, vamos continuar a falar de uma excelente obra de fantasia nacional: a série Sherlock e os Aventureiros. Eles terão que lidar com os vilões da West Company enquanto precisarão da ajuda de Ada Lovelace para desvendar o código do documento que eles encontraram no volume anterior.

Sinopse:

Nesta segunda aventura, Sherlock Holmes e os Aventureiros, vão precisar de muita astúcia para descobrir os planos da Companhia do Grande Oriente. Eles não imaginam até onde Mr. Brown e seus asseclas estariam dispostos a ir para tirá-los do caminho e fazer cumprir as sinistras ordens do Barão. Sherlock Holmes, Irene Lupin e Nikola Tesla precisarão recorrer a uma nova aliada. É a vez de Ada Lovelace entrar em cena, uma jovem matemática que se tornará uma das principais mentes científicas da Era Vitoriana e uma das fundadoras da computação moderna. Eles vão precisar de toda ajuda para enfrentar assassinos, um ladrão escorregadio e a fúria de um monstro pré--histórico. Embarque nas memórias de um rapaz destinado a se tornar o maior detetive de todos os tempos. Para o Jovem Sherlock e os Aventureiros... O Jogo continua!

Descobrindo o verdadeiro vilão

Esse livro é uma continuação direta do volume anterior. Por essa razão não recomendo que começam a ler por ele. Cordenonsi mantém um pouco do ritmo anterior enquanto movimenta a trama adiante apresentando novos obstáculos para os personagens. Para quem curte uma boa história de aventura, essa pode ser uma ótima pedida principalmente porque o autor possui um bom timing para isso. Digo até que esse segundo volume está um pouco melhor do que o anterior no que diz respeito à história. Como ele não precisa mais se preocupar em apresentar os personagens, ele pode se focar mais na trama.

Lembrando que essa série é uma literatura infanto-juvenil, então pode ser que não agrade ao público normal de fantasia. A escrita é bem tranquila, só que eu vou pegar no pé de novo: acho que não fica legal as notas de rodapé. Crianças e adolescentes tem preguiça com esses detalhes, e notas de rodapé acabam tirando o foco deles do que interessa que é a narrativa. Um bom estilo de discurso em terceira pessoa, com capítulos medianos povoados por ilustrações que são sempre agradáveis. O estilo é bem fluido e um leitor atento vai conseguir finalizar a leitura em uma ou duas sentadas.

Depois do confronto com Mr. Brown, Sherlock, Irene e Nikola voltam para a mansão de Holmes com fotos das anotações de um caderno. Eles descobrem que as anotações estão em código e nosso protagonista não consegue decifrá-lo. Sherlock vai precisar procurar a ajuda de Ada Lovelace, uma conhecida sua que vai trazer à tona velhas lembranças que ele preferiria esquecer. Aos poucos, o quebra-cabeças da West Company começa a ser montado e ficamos sabendo de mais informações sobre Mr. Brown e a misteriosa figura conhecida apenas como o Barão.

O foco narrativo acabou mais na figura de Sherlock. Vemos como ele percebe o mundo e qual o impacto da presença de Irene e Nikola em sua vida (ou pelo menos isso começa a acontecer). Vemos um personagem que conhece pouco do mundo e possui muita curiosidade em saber mais sobre tudo. A sua obsessão por novos conhecimentos acaba fazendo com que ele tenha muita dificuldade nas relações com outras pessoas. Uma discussão que ele teve com Ava foi a responsável pelo afastamento deles. E por motivos bem bobos. Esse jovem Sherlock ainda não é o gênio da dedução que estamos acostumados a ver na literatura. É apenas um garoto com potencial e uma capacidade ilimitada para acabar se colocando em situações complicadas.

Como Sherlock acabou se tornando o protagonista de fato neste segundo volume, Irene e Nikola acabaram perdendo muito espaço. Eles pouco fizeram nesta etapa da aventura. Nikola acabou dando um ou dois insights inteligentes em certo momento da história enquanto que Irene pareceu mais como a menina que talvez vá se tornar par romântico do protagonista. Para não dizer que ela não fez nada, ela demonstrou sua habilidade com disfarces. Mesmo assim, achei que o Cordenonsi deveria ter trabalhado um pouco mais os personagens e suas motivações. Entendi pela narrativa que o autor parece estar escondendo o jogo e que o próximo volume vai ser importante principalmente para entendermos os objetivos de Irene. Mas, os personagens não poderiam ter se tornado tão coadjuvantes assim. No primeiro volume, os papéis ficaram bem divididos e cada um teve o seu pequeno arco narrativo.

No que diz respeito à narrativa em si, ela passou voando. Voando mesmo. Esse volume é bem superior ao primeiro em dinamismo. Se eu não estiver enganado se passam dois ou três dias dentro da história e temos uma perseguição, uma captura e uma ida a um congresso explosivo. Os capítulos são bem ligados e o leitor fica com vontade de não parar mais. Para um livro voltado para adolescentes, esse é o ritmo ideal para que eles possam curtir a história. Desenfreado, alucinante. Por outro lado, em questão de andamento da história, pouca coisa aconteceu. Eles apenas descobriram que eles estavam atrás de uma pessoa e depois impediram um plano. Achei que eles descobririam um pouco mais sobre seus oponentes. Mas, não é algo que incomode.

Só tenho a recomendar essa série a todos. Qualquer idade. Mas, principalmente para jovens que estão começando sua vida como leitores. Esse é um ótimo livro para despertar a paixão pelo ato de ler. Os personagens precisam ser melhor trabalhados embora Sherlock tenha recebido o tratamento adequado. Equilíbrio é tudo. Em todo caso, é mais um acerto do Cordenonsi que continua a nos entregar materiais muito legais.