Yang e Loh continuam a sua jornada rumo ao sul em busca de uma maneira para derrotar o mal que se apossou do mundo. Para isso eles partem em uma jornada para conhecer melhor a si mesmos e para buscar aliados.
Sinopse:
“O mundo de Yang” é, em uma primeira leitura, uma aventura leve e muito bem-humorada. Porém, nas entrelinhas das ações hilárias do garoto Yang, ou dos aforismos tão confusos e profundos do mestre Loh, o leitor encontra metáforas e analogias que o levam para uma jornada de aprendizado e reflexão.
Agora chegou a hora de continuar essa jornada com “O mundo de Yang – Rumo ao Sul”. Com essa publicação, inicio uma nova fase para os personagens Yang e Loh – que agora se juntam a novos personagens, novas aventuras e novos aprendizados.
Essa é a continuação de uma HQ que eu li nas férias de janeiro e eu me apaixonei pela escrita do Orlandeli. Logo, eu estava com muitas expectativas para este segundo volume. Só que eu acabei me decepcionando um pouco com as ideias e o andamento da história. E, assim, só para deixar claro, o autor explicou um pouco dos percalços que ele teve na escrita desse segundo volume, o quanto ele teve vários compromissos profissionais e alguns problemas pessoais. Portanto, é bastante compreensível que os leitores vão ter opiniões bem divididas acerca de Rumo ao Sul. É decepcionante, mas diante do que o Orlandeli expôs (e ele foi bastante honesto em seu relato logo no começo da HQ) dá para entender porque pode ser uma experiência dividida.
A HQ é composta de três pequenas narrativas, sendo as duas primeiras no formato antigo de publicação de O Mundo de Yang, no estilo de tirinhas, e a última já em um formato mais periódico e com continuidade, que parece ser o objetivo do Orlandeli daqui para frente. A primeira história é uma espécie de um prólogo onde Loh e Yang debatem os passos a serem seguidos e o quanto eles ainda precisam percorrer como guerreiros. Na segunda história temos a apresentação dos dois novos personagens, a Harumi e o Moman. Nela, a gente vê como os novos personagens apresentam uma nova dinâmica ao grupo, principalmente no que diz respeito à Harumi e ao Yang. A última história é uma pequena história sobre como devemos ser verdadeiros com nós mesmos e o quanto a presença de amigos nos apoiando é importante para o nosso emocional.
Artisticamente falando, o Orlandeli continua sensacional. Quero destacar a última história onde ele passa a inserir cores na narrativa. Como uma simples cor amarela pode mudar a maneira como você enxerga o cenário. Os objetos parecem ter mais profundidade e perspectiva. E isso é apenas um truque da mala de ferramentas do Orlandeli. A Harumi é uma personagem ótima para trabalhar expressões faciais e ele faz isso muito bem. Gosto do contraste entre a seriedade da Harumi e a espontaneidade do Yang. Isso é traduzido na postura, nos gestos e no rosto dos personagens. É arte nos pequenos detalhes e o artista faz isso bem. Senti falta das ousadias artísticas que eu vi no primeiro volume e em Olhos de Barthô e eu estou sendo um pouco mais chato porque sei o quanto o Orlandeli é talentoso e consegue entregar mais. Então nesse ponto eu vou deixar a minha crítica, mas isso de jeito nenhum tira a qualidade do que é entregue aos leitores. Eu apoiei a HQ no catarse e apoiaria qualquer coisa do Orlandeli em um piscar de olhos.
Vou tentar não entregar tanto da história e me focar mais nos personagens. A interação entre Loh e Yang já era muito engraçada no primeiro volume. Com a entrada da Harumi, isso cria todo um manancial de possibilidades para o artista. Isso porque a Harumi é o protótipo da guerreira séria, que treina todos os dias e dedica sua existência à missão que lhe foi dada. Já o Yang é um personagem que não planeja as coisas, não tem lá muito talento ou concentração para treinos e prefere agir no improviso. Ele possui um imenso potencial para dispor de habilidades especiais, mas nenhuma disciplina para entender como elas funcionam. É isso o que a HQ vai trabalhar no longo prazo: como fazer Yang se tornar o "escolhido" sem fazer com que ele perca sua essência leve e divertida. Os demais personagens estão ali para lhe darem suporte, mas ao mesmo tempo para agirem como eles mesmos, fazendo com que os arcos narrativos se tornem mais longos.
Não tenho como não falar do Moman. À primeira vista a gente acha que o personagem é simples, sendo mais um alívio cômico do que qualquer coisa. Até o momento em que o Orlandeli nos surpreende. Lembro de ter rachado o bico com toda a sequência entre o Yang e o Moman. Já o mestre Loh acabou ficando um pouco de lado neste volume. Quando precisávamos de alguma frase sábia, lá aparecia o mestre Loh. Mas, eu acho que o mestre pode render algumas boas histórias. Trabalhar a sua relação com cada um dos outros três personagens, suas dúvidas quanto à missão, uma possível impaciência com o jeito leve do Yang. E outra pergunta: cadê a Voz??? Ela não apareceu aqui. Em nenhum quadro. A menos que eu tenha entendido errado e a ideia da Voz fosse algo metafórico. Se for, eu realmente não captei isso.
Não quero tocar muito nos temas porque uma das graças de ler qualquer HQ do Orlandeli é entender um pouco da sua filosofia. Mas, saibam que as histórias acabam se voltando bastante para o que cada um de nós é em sua individualidade. Não devemos todos ser iguais porque não somos construídos dessa forma. Cada um tem sua maneira de se expressar em relação à realidade que o cerca. Yang é completamente diferente de Harumi que é diferente de Moman. E isso está ótimo. Ganhamos mais sabedoria a partir do momento em que entendemos a nós mesmos. Em que nos colocamos diante de nossos critérios em relação ao mundo. Se desejamos mudar, mudamos. Se queremos estabilidade, permanecemos. É a nossa escolha e não a escolha dos outros.
Enfim, Rumo ao Sul continua a ser uma leitura divertida e reflexiva, com personagens que eu aprendi a gostar. Contudo, me decepcionei um pouco porque havia criado muita expectativa em relação a esse volume e tinha vindo de duas HQs sensacionais. Mas, algumas sementes são plantadas aqui e tenho certeza que irão germinar em boas histórias no futuro.
Ficha Técnica:
Nome: O Mundo de Yang - Rumo ao Sul
Autor: Orlandeli
Editora: Auto-publicado
Número de Páginas: 60
Ano de Publicação: 2019
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