A Princesa Fiorimonde é uma adepta das artes da bruxaria. E vive sua vida livremente, ajudando sua mestra, uma bruxa que vive nas montanhas. Em troca ela continua bela eternamente. Mas, quando seu pai anuncia seu casamentom Fiorimonde fica preocupada de ser descoberta até que a bruxa lhe dá um colar capaz de transformar seus pretendentes em contas.
Sinopse:
A beleza da princesa Fiorimonde é conhecida em todo lugar. Entretanto, a aparência que atrai pretendentes de todos os cantos do mundo esconde um segredo sombrio.
Os príncipes e reis que tentaram se casar com Fiorimonde são agora as contas no colar que ela, orgulhosamente, carrega no pescoço.
Quando o príncipe Florestan decide que irá se casar com a princesa, seu melhor amigo fará de tudo para impedir que ele tenha o mesmo destino que os outros pretendentes.
Escrito em 1880, O Colar da Princesa Fiorimonde chega em fevereiro com exclusividade para os assinantes da Sociedade das Relíquias Literárias.
Este conto escrito por Mary de Morgan tem muito de conto de fadas. Só que tem uma pequena inversão de papéis. Nesta história fascinante, somos apresentados à cruel Princesa Fiorimonde, filha do rei e uma pessoa que se encantou pelos propósitos nefastos da magia negra. Sua mestra é uma bruxa que mora além das colinas e Fiorimonde a ajuda em seus trabalhos em troca de poder ser a mulher mais linda desse mundo. Um dia, o rei decide que chegou a hora de sua filha se casar. Fiorimonde teme que seja descoberta e perseguida e junto de sua mestra pensam em uma maneira de eliminar seus pretendentes. É então que a bruxa, em sua louca imaginação, concebe um artefato de poder terrível: um colar de ouro capaz de tornar todo aquele que o toca em uma conta a decorar o belo adereço. Com este artefato, Fiorimonde volta ao castelo e passa a receber seus pretendentes, como uma filha obediente faria por seu pai. Mas, todos os pretendentes que lhes são apresentados acabam desaparecendo misteriosamente na véspera da cerimônia de casamento. E Yolande, sua aia, percebe que a cada rei ou príncipe pretendente que vem até a princesa e desaparece, uma nova conta surge no colar da cruel princesa. Alguém será capaz de detê-la?
Este é um bom exemplo de uma narrativa que possui vários elementos de contos de fadas. Mary de Morgan, como uma compiladora de contos tradicionais, conseguiu inserir a fantasia em um tipo de história cautelar. Já volto a esse tema, mas cabe acrescentar que a autora segue o esquema de três situações antes da resolução do problema central da história. A fórmula do "Era uma vez..." dá início à história. Oferece um ar de miraculoso e fabuloso ao que está sendo contado ao leitor, diferentemente de uma ficção com os pés na realidade. A fantasia é empregada como um instrumento capaz de alterar algum aspecto do mundo. Como em um conto de fadas, seja um espelho mágico, uma fada que faz surgir um sapatinho de cristal, um pé de feijão. Aqui é um colar mágico. Mary de Morgan insere regras em seu funcionamento e, para que a história possa chegar a um final feliz, é preciso "derrotar" o artefato ou revelar os segredos daquele que o utiliza. Gosto também do fato de que a autora começa a narrativa pelo lado de Fiorimonde, a antagonista da história. Temos aqui uma leve inversão de expectativas, pois sabemos de partida quem é a vilã, quais são seus objetivos e como ela faz suas maldades. Somente na metade da história que a autora passa para os reais protagonistas, Gervaise e Yolande. É aí que a narrativa passa a seguir o caminho normal tomado por esses contos de fadas.
Mary de Morgan é uma autora conhecida por fazer críticas sociais e aqui não é diferente. O tema central é a vaidade de Fiorimonde que a faz realizar todo tipo de maquinações. Para manter sua beleza, ela não se importa de realizar bruxarias e prejudicar pessoas. Muito pelo contrário, ela se regozija nessas ações, sorrindo sadicamente a cada nova vítima capturada pelo colar. O casamento poderia não apenas lhe retirar a beleza porque ela não seria mais desejada como uma potencial noiva, mas lhe tiraria a possibilidade de agir livremente. Assim como a bruxa má de Branca de Neve, quando ela é confrontada com a possibilidade de existir alguém mais bela, a personagem passa a agir de forma errática e saindo de seu modus operandi. Perder o posto de mais bela é algo impossível para ela; seu prazer está em ser desejada, ser cobiçada sem nunca ser "exclusiva" ou se tornar alguém comum. Nessas histórias, ou surge alguém mais belo, mesmo que essa nova princesa ou plebeia seja uma mulher de fato bela ou possua outras virtudes que não apenas a beleza física. Aqui na narrativa, Mary de Morgan muda um pouco o ângulo ao fazer com que o protagonista use de sua sagacidade para lidar com as maldades da antagonista.
Essa é uma bela história que funciona de uma maneira diferente dos contos de fadas habituais. Gosto que a autora buscou inovar em alguma coisa. A temática da vaidade e de como isso pode transformar uma pessoa em alguém sádico e cruel é bem abordada na história e Yolande funciona como uma espécie de contraponto, ajudando o protagonista a libertar seu amigo. Vale sim a leitura, sendo uma boa exploração da fantasia como crítica social.
Ficha Técnica:
Nome: O Colar da Princesa Fiorimonde
Autora: Mary de Morgan
Editora: Wish
Tradutor: Luiz Henrique Batista
Número de Páginas: não informado (formato ebook)
Ano de Publicação: 2022
Avaliação:
*Faz parte do projeto Sociedade das Relíquias Literárias
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