Nilsinho é o seu trambiqueiro favorito. No futuro ele utiliza de sua sagacidade e seus truques para conseguir mais seguidores. Até que ele tem a brilhante ideia de implantar um baobá em seu braço. Veremos se isso vai dar certo.
Okay, Michel Peres conseguiu bagunçar minha cabeça com esse conto totalmente estranho sobre um trambiqueiro do futuro que faz as mil maluquices para atrair o público e criar burburinho a respeito de sua arte. Vai desde coisas como moda e música até coisas bizarras como manipulação corporal e uso de fluidos orgânicos como expressão artística. Até que ele decide inovar e implantar um braço de baobá que pode crescer ou diminuir de acordo com a sua vontade. O objetivo? Sei lá, mas deve ficar legal né? Dentro deste conto temos uma série de críticas sociais bastante contundentes sobre a futilidade dessa sociedade das curtidas e a necessidade de sempre criar um conteúdo novo, por mais chocante que ele seja.
A escrita do Michel é veloz como a luz. Ele insere uma quantidade inacreditável de referências por segundo. Antes que o público diga que eu sou hipócrita porque eu detesto as referências pop na obra de William Gibson, tem uma diferença marcante entre as duas obras. Michel usa a ironia e o mundo pop como um estilo de escrita. Ele não está criando uma segunda camada de leitura, está empregando o mundo da moda e das redes sociais com sarcasmo. Não é para entendermos, mas para soar engraçado. Algumas das referências vamos entender e perceber o quanto ele está criticando. Outras são jogos de palavras visando criar algum impacto no leitor. A narrativa é uma terceira pessoa onisciente onde o ponto de vista está centrado na figura de Nilsinho. Isso permite ao Michel não precisar se preocupar com o que se passa na cabeça dele, mas se focar no seu estilo de escrita.
O quanto desejamos cliques e curtidas? Até onde podemos chegar para obter um público que vai se conectar apenas para ver o estranho e o bizarro. Nilsinho apela para o choque visual para criar burburinho. E isso vamos ver em todas as suas interações. Às vezes fica até difícil entender o que ele deseja de verdade e o que ele está fazendo porque tem que alimentar uma visão deturpada de si mesmo. Quando ele vai fazer o implante, a dra. Bedu o informa sobre os riscos da cirurgia e do pós-cirurgia. E, como todo maluco rebelde necessitado de atenção, ele não presta muita atenção. No fundo, Michel faz essas críticas em um momento em que a vida das pessoas são as redes sociais. Muitos criam personas que fogem completamente ao que elas são de verdade. E essa imagem deturpada e desviada deles mesmos precisa encontrar cada vez mais extremos a serem ultrapassados. O final é previsível dado o descuido do personagem. Não previsível em um mau sentido, mas o autor deixa as sementes para aquilo que vai seguir depois. É aquele típico caso de "o personagem está plantando um final ruim para si mesmo".
Não é um conto amistoso para o leitor. Acho ele difícil em alguns trechos e vai exigir que a gente volte alguns passos e releia algumas partes. Por essa razão, não consigo dar uma nota máxima para o conto. No entanto, ele tem diversas qualidades como os riscos que o autor correu para escrever uma narrativa bem fora da caixinha. A ponto de em determinados momentos eu achar que a história se enveredava bastante para a weird fiction. Enfim, vale a crítica e vale a leitura.
Ficha Técnica:
Nome: Nilsinho Pause
Autor: Michel Peres
Editora: Revista Trasgo
Número de Páginas: 18
Ano de Publicação: 2019
Avaliação:
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