Paulo Vinicius

Resenha: "Nil" de Rodrigo Rahmati

Nil, Yas e Ref estão a caminho de uma floresta. Eles não sabem o que está por vir até que Nil abre suas asas e enxerga o Nada. Um Nada avassalador e magnífico que a tudo engole. E agora? O que eles devem fazer? Atravessar a floresta ou permanecer no mesmo lugar para todo o sempre?

Sinopse:

Seria a morte algo a se temer? Algo imutável, um ponto final, um destino inescapável? E qual seria a interpretação dessa figura terrível pelos olhos de outros seres? Confira nesse conto fantástico de Rodrigo Rahmati.

Acho incrível o poder de um conto bem escrito. O quanto ele pode dizer ou é capaz de simbolizar. No espaço de pouco mais de dez páginas Rodrigo Rahmati empregou elementos da narrativa fantástica para tratar de temas como o viver, o ciclo da vida, a reencarnação. Nessa narrativa estamos diante de seres incríveis dotados de asas e uma outra compreensão de mundo que percorrem uma estrada em direção a um outro lugar. Para chegar a este lugar eles precisam atravessar uma floresta da qual eles não possuem muitas informações. Ao fazer um reconhecimento pelo alto, Nil faz uma descoberta terrível: ao final dessa floresta se encontra o Nada. Um lugar magnífico e terrível para onde as pessoas vão e nunca mais serão as mesmas. Os personagens ficam em uma encruzilhada em que precisam se decidir se continuam em seu caminho rumo a uma morte certa ou se eles permanecem no mesmo lugar.

Existem muitas metáforas e simbolismos nesse conto. Para mim, já é uma das melhores coisas que eu li este ano disparado. Mas, vamos lá. A escolha na qual eles estão presos nada mais é do que a nossa, a que fazemos diariamente. Somos seres que estão nesse trajeto rumo ao nada. Em algum momento de nossas vidas, ela irá se extinguir e a partir daí não sabemos o que se seguirá. Essa dúvida nos assola quanto mais velho ficamos. É o tique-taque constante do bater de nossos corações que um dia vai deixar de existir. Ao ser humano cabe aceitar essa realidade ou não. Os que não aceitam se tornam pessoas amargas e infelizes. Normalmente acabamos ficando em um caminho do meio, entre a aceitação e a negação.

É possível fazer uma série de outras leituras a partir do conto, mas outra que eu gostei é a partir da mutabilidade do ser humano. O autor apresenta isso a partir do ciclo da reencarnação, mas a gente pode ler também como a capacidade que temos de estar sempre em transformação. Estamos o tempo todo absorvendo novos conhecimentos e informações, sentimentos e emoções que formam o nosso caráter como um todo. Nos tornamos novas pessoas todos os dias de nossas vidas. E essa é uma lição profunda a se aprender. É como Nil que atravessa a floresta junto de seus companheiros rumo a um destino incerto. Ao final da jornada, ele será um novo ser.