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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Nihil" de Carolina Mancini

Uma névoa cinza ocupou o mundo e aqueles que tem medo não podem mais sair de suas casas. Vamos acompanhar relatos de várias pessoas que tentam lidar com o isolamento, a falta de esperança e o desespero.


Sinopse:


Enclausurado por muito tempo, o ser humano definha.


Do lado de fora, uma espessa neblina dominou países inteiros. Ela mata quem se arrisca a desbravá-la, espalha vísceras, sangue e entrega os gritos a um estranho lugar sem cheiros, sons, luz ou escuridão.


Do lado de dentro os sobreviventes enfrentam sua subsistência. Não há água encanada, ondas de rádio ou energia elétrica. Falta comida e os sentimentos são confusos e intensos.


Não há sol ou chuva para se observar. Não há divisão entre dia ou noite. Os relógios estão parados e qualquer esperança já se fragmentou, mesmo que alguns ainda esperem por algo que já nem sabem se existe ou mesmo se tem um nome.






O nada. O vazio. Esse é um daqueles medos primais do homem. Quando não há perspectiva de futuro. Quando a impotência nos abate e somos incapazes de encontrar uma saída. Carolina Mancini nos entrega um dos romances mais claustrofóbicos que já pude ler. Onde ela alterna entre diferentes tipos de narrativa e nos apresenta diversos personagens cujas vidas foram sequestradas por essa névoa que os impede de deixarem seus refúgios. Aos poucos o sentimento de impotência vai se acumulando no fundo de seus corações gerando situações-limite. O resultado é um relato pungente sobre a humanidade e aquilo que se esconde no lado mais obscuro de nossas almas. Nihil foi vencedor do Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica na categoria Terror em 2019 e essa é a segunda edição, do qual a edição física foi financiada via Catarse. Um livro com um projeto editorial incrível que conta com múltiplas formas de letreiramento, tem ilustrações aterrorizantes internas da autora. Vale destacar também os dois textos de posfácio, sendo uma matéria sobre o nilismo ao longo do tempo e um posfácio sobre a obra em si. Destaco bastante o texto sobre nilismo porque ele vai se debruçar sobre os principais pensadores sobre o assunto e trazer para como Mancini traz isso para o seu texto.


Não há uma sinopse exata do livro porque ele se trata de um apanhado de histórias contadas por vários personagens que vivem em um mundo tomado por uma névoa mortal. Aquele que deixa o seu refúgio, pode morrer em poucos segundos. Vamos ver relatos de uma garota assolada por sua outra personalidade, um homem que encontra em uma mulher corajosa capaz de atravessar a névoa em algumas horas por dia, uma família que tem sua rotina completamente alterada, uma atriz que precisa aprender a sobreviver enquanto busca o lendário Errante, entre outros personagens. No meio disso tudo estes indivíduos serão testados até os seus limites onde aprenderão que o medo pode ser apenas o começo de algo muito pior.


A escrita de Carolina Mancini é múltipla ao longo de sua obra. Para cada personagem ou núcleo de personagens ela emprega um estilo diferente. Vai desde o texto repleto de diálogos, ao puramente descritivo, tem o epistolar, tem relatórios. Essa multiplicidade de formas de escrita oferece uma visão caleidoscópica do que estamos acompanhando. O leitor é sempre tirado de sua zona de conforto. Até poemas e escritas sensoriais temos presentes aqui. A constância em Nihil é a inconstância. Isso deve ter exigido muito da autora para poder dar um norte para essas múltiplas formas de escrever e esses personagens tão diferentes. Isso porque apesar de não ter exatamente uma trama maior, temos personagens vivendo suas subtramas nesse mundo devastado. A autora oferece uma espécie de desfecho ao final com algum tipo de mensagem de esperança no meio da catástrofe. Seus personagens são bem desenvolvidos mesmo que em textos fragmentados. O leitor mais atento vai acompanhando-os e vendo como eles reagem ao que está diante deles.


O contexto da trama é terrível. A autora não oferece nenhuma explicação exata sobre como a névoa apareceu, apenas algumas pessoas que testemunharam o evento e dizem ter visto anjos ou outras coisas mais delirantes. Aliás, não é esse o objetivo da trama. A névoa é um recurso narrativo que dá condições para as diversas vivências dentro do livro existirem. Por mais que a névoa represente um nada absoluto. Esse é outro ponto terrível já que a névoa é tão espessa que impede as pessoas de enxergarem muito longe de suas janelas. Em pouco tempo a vida passa a se resumir a um passar de dias monótono e desesperançoso em que buscar alimentos é muito perigoso. A monotonia faz os indivíduos começarem a se comportar de maneira diferenciada, acirrando ânimos. As ações mais extremas passam a ser cogitadas já que o viver em sociedade não mais existe. É o caso, por exemplo, de uma família mostrada no início da trama que vai se esfacelando lentamente. Um dos irmãos cai no desespero, os gêmeos passam a praticar incesto e pensam em assassinar os outros, a mãe não sabe como reagir diante de tudo o que vem acontecendo. Stephen King usou desse expediente na novella O Nevoeiro, mas Carolina Mancini expande esse conceito ao reduzir ainda mais o espaço de convivência.


Em uma das narrativas, um homem se apaixona por uma mulher chamada Margarete. Ela representa a coragem que ele não dispõe. Isso porque Margarete descobriu que é possível se movimentar pelas ruas em determinadas horas do dia quando um vento bate e reduz os efeitos da névoa. É assim que ela o encontra. O espírito aventureiro dela se choca com a necessidade de um ambiente de segurança que ele precisa. Ela não se importa de arriscar sua vida em prol de ajudar os outros. Já ele vê nela uma companhia nesse mundo bizarro. Rapidamente eles se apaixonam porque se encontram um no outro. Só que as necessidades dele se chocam com a impetuosidade dela. Duas pessoas que são polos opostos e acabam por se encontrarem nesse mundo, o que talvez não acontecesse se as coisas fossem normais. Mancini nos entrega um drama amoroso bem interessante em que ele simplesmente não sabe o que fazer e sabe que irá perdê-la eventualmente. A questão é saber se ele será capaz de abandonar sua forma de pensar e acompanhar aquela que ama ou se ele irá permanecer em seu pequeno mundinho.


Essa ideia do isolamento/enclausuramento está presente em várias das tramas. A ideia de uma névoa que é capaz de esfacelar nossos corpos faz com que as pessoas percam a vontade de se arriscar pelas ruas. Mesmo sabendo que existe uma pequena janela de ação. Contudo, o medo de se tornar mais uma vítima de um inimigo que não pode ser visto ou derrotado, faz com que as pessoas simplesmente desistam de tentar. O medo é tão grande que impede as ações de acontecerem. Tem um casal de senhores no começo da história que estão pensando em como fazer para continuarem vivendo. Percebemos nas falas de ambos que a inércia se tornou o maior impeditivo para que eles possam ter esperanças em continuar vivendo. Tem uma frase ótima que Mancini usa que diz que apesar de eles não serem tão velhos assim, a sensação é a de estarem quase no final de suas vidas. O medo lhes tirou tudo, até a vontade de viver. A narrativa de Mancini emprega um terror psicológico brutal nos personagens. O leitor acompanha aquilo e se revolta pelos personagens não fazerem nada contra aquilo. Mas, a questão é: havia alguma coisa a ser feita?


Temos o personagem do Errante que aparece em alguns trechos referindo a si mesmo como Este. Isto porque ele não possui um nome. Lentamente, a autora vai integrando-o à mitologia de sua história até ele se tornar peça central para alguns núcleos de personagens. Ele é um personagem capaz de andar livremente pela névoa. Mas, ele é uma tabula rasa, uma página em branco que desconhece as emoções. O passado do personagem não é revelado, apenas ele está ali. Pode ser uma entidade, ou apenas alguém que nasceu e se criou no meio dessa insanidade. Uma das personagens tenta ensinar a ele como o rosto dos humanos se modifica a partir das emoções. Ele só não compreende o que é o medo. Por outro lado, temos a jovem Lúcia/Brenda que sofre de transtorno de múltiplas personalidades. Ela tenta lidar com essa situação de pressão ao assumir uma personalidade capaz de manter a sanidade. Mas, aos poucos ela vai perdendo o senso de si e ela se deixa levar pela ebriedade. Um acidente acontece com ela enquanto ela vagava pela névoa e ela perde os pés. A partir daí, a personagem cai ladeira abaixo e precisa encontrar forças em si para conseguir se manter viva. O desespero que ela passa é palpável. No começo a narrativa é contada por Brenda e depois passa para Lúcia. E isso é feita quando a autora altera a forma como a narrativa é apresentada.


Nihil é um ótimo terror psicológico. Apesar de não ter nenhum monstro ou demônio maligno, não é um livro para os fracos de coração. Suas histórias são angustiantes e ficamos conhecendo alguns lados desses personagens que não gostaríamos de conhecer. A maneira como a autora brinca com diferentes formas de escrita me agradou muito e considero uma das melhores literaturas nacionais que fui capaz de pôr as mãos nesse ano. Já estou curioso querendo mais materiais legais e diferenciados da autora. Vale muito a pena!











Ficha Técnica:


Nome: Nihil

Autora: Carolina Mancini

Editora: Independente

Número de Páginas: 200

Ano de Publicação: 2021


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Theme Footer (footer.php) 5. Search for 6. Paste code before 7. save Pode-me avisar assim que estiver online para eu ver se funciona correctamente? Obrigado! Pedro Serrão escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:42: Combinado! Forte abraço! Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:41: Tranquilo. Fico no aguardo aqui até porque tenho que repassar para a designer do site poder inserir o que você pediu. Mas, a gente bateu ideias aqui e concordamos. Em qui, 13 de out de 2022 13:38, Pedro Serrão escreveu: Tudo bem! Vou agora pedir o código e aprovação nas marcas. Assim que tiver envio para você com os passos a seguir, ok? Obrigado! Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:36: Boa tarde, Pedro Vimos os dois modelos que você mandou e o do cubo parece ser bem legal. Não é tão invasivo e chega até a ter um visual bacana. Acho que a gente pode trabalhar com ele. O que você acha? Em qui, 13 de out de 2022 13:18, Pedro Serrão escreveu: Opa Paulo Obrigado pela rápida resposta! Eu tenho um Interstitial que penso que é o que está falando (por favor desligue o adblock para conseguir ver): https://demopublish.com/interstitial/ https://demopublish.com/mobilepreview/m_interstitial.html Também temos outros formatos disponíveis em: https://overads.com/#adformats Com qual dos formatos pensaria ser possível avançar? Posso pagar o mesmo que ofereci anteriormente seja qual for o formato No aguardo, Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:15: Boa tarde, Pedro Gostei bastante da proposta e estava consultando a designer do site para ver a viabilidade do anúncio e como ele se encaixa dentro do público alvo. Para não ficar algo estranho dentro do design, o que você acha de o anúncio ser uma janela pop up logo que o visitante abrir o site? O servidor onde o site fica oferece uma espécie de tela de boas vindas. A gente pode testar para ver se fica bom. 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