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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Mundo dos Labirintos" de Alan Grant e Arthur Ransom

Após ser condenado ao enforcamento, Adam Cadman acaba sendo transportado para outro mundo durante a sua execução. Um mundo onde os labirintos tem poder e ele é O Encapuzado, uma criatura lendária enviada para lá para ajudar os rebeldes a se livrar dos opressores. Só tem um problema: Adam é um assassino.


Aviso: essa série é parte integrante das revistas Heavy Metal Primeira Temporada, publicadas pela editora Mythos. Nós estamos analisando história por história das cinco edições. Caso vocês desejem ler sobre outras das séries na revista, cliquem nos links abaixo:


Guerreiros ABC

Contos de Telguth

Mundo dos Labirintos




Essa é uma história com um protagonista completamente reprovável. Imaginem um assassino se tornando o herói de uma revolução em outro mundo repleto de mistérios. Esse é o tema da história criada por Alan Grant. Adam Cadman é um homem que assassinou o seu próprio irmão. Ele foi condenado pela justiça de nosso mundo à morte. Depois de séculos tendo abandonado a prática, nosso mundo volta a realizar punições por enforcamento. E Adam vai ao cadafalso onde vemos a execução acontecendo. Só que o personagem acaba tendo uma morte lenta e dolorosa já que seu pescoço não quebra. Durante os longos minutos de sua execução, enquanto ele agoniza pendurado pelo pescoço, Adam desperta em um mundo que se parece com o de uma civilização asteca com pirâmides e altares por toda a parte. O capuz, com o qual seu rosto é coberto para que as pessoas não vejam o sofrimento do condenado, continua preso em seu pescoço junto da corda. E ele parece não sair. Algumas pessoas que passavam pelo lugar parecem reconhecê-lo e se referir a ele como o Encapuzado. Segundo as lendas, esta é uma figura que surge para ajudar o desfavorecidos a se livrar de seus opressores. Só tem um problema: Adam não tem a menor vontade de ajudar ninguém além de a si mesmo.


Alan Grant consegue criar uma história misteriosa e com segredos sendo revelados um após o outro. Quando o leitor pensa que sabe mais a respeito desse mundo, algo novo surge e nos derruba de nossas certezas. O enredo não é sensacional, e algumas saídas usadas pelo roteirista são convenientes demais para o meu gosto. Tem alguns deus ex machina que me incomodaram também como o personagem sempre possuir as ferramentas certas para escapar de determinadas situações. Nas cinco edições dessa primeira temporada da revista Heavy Metal temos dois arcos de histórias, uma chamada O Enforcado que mostra como o personagem chegou a esse mundo e acaba liderando um grupo de rebeldes e a segunda se chama O Sombrio em que Adam se envolve com um inimigo chamado O Sombrio que possui poderes além da compreensão. As histórias tem tons bastante diferentes sendo que a primeira é mais focada no protagonista enquanto que a segunda desenvolve mais o mundo estranho onde Adam foi enviado. E os mistérios por trás dos labirintos.


A arte de Arthur Ramsay é bastante tradicional se focando nas inspirações tiradas de mundos de fantasia ao lado de elementos de culturas ameríndias. As duas inspirações se mesclam em algo bem diferente. O artista usa uma palheta bem focada no azul e no verde. É uma arte que parece saída dos anos 80, mas os modelos de personagens são bastante parecidos. Gosto dos detalhes que o artista usa na arquitetura do mundo e nos labirintos que ele cria. O tema do labirinto está presente em toda parte seja de forma clara ou em objetos espalhados pelo cenário. Os labirintos que ele cria são os mais diferentes possíveis. Os momentos de ação são um pouco estranhos e truncados. A gente não consegue saber mais ou menos a sequência em que as ações estão se sucedendo. Seja durante cenas de luta (para mim, as piores) ou de perseguição.


Adam Cadman tenta sair da situação em que se encontrava e vê nessa ida ao outro mundo algum tipo de segunda chance. E ele não quer desperdiçar com bobagens e só quer ser deixado em paz. Mas, infelizmente, a todo o momento ele é puxado para ajudar os habitantes deste mundo. O roteiro usa um mecanismo que não me agrada que é o de o personagem sentir as dores no pescoço do enforcamento toda vez que não toma alguma ação heroica. Para mim, parece aquela solução de jogo de RPG em que o mestre obriga os personagens a seguirem o seu enredo. Embora a situação física no mundo real seja uma corda usada volta e meia pelo roteiro, acho que seria possível empregar outras soluções. O personagem vai se redimindo mais porque ele não tem opção do que propriamente por uma escolha própria. Mais lá pela segunda história, vemos uma mudança em sua índole, só que a minha suspensão de descrença já não aceitava mais.


O protagonista começa como um ser desprezível que escolhe as saídas mais fáceis para os seus problemas. Devido às peculiaridades de sua condição, ele acaba sendo guiado por um mundo dominado por homens cruéis chamados de senhores dos labirintos. Ao conhecer a jovem Riadne, Adam se envolve com um grupo de rebeldes. Na primeira história, eles se unem para destronar um governante cruel que ocupa o lugar do imperador, que foi enviado a uma espécie de labirinto sagrado de onde nunca retornou. As pessoas estão cansadas de serem exploradas com mão de ferro e a liberdade é tudo o que desejam. Já na segunda história, Adam precisa lidar com as consequências da rebelião que ele estimulou. Sua missão agora é lidar com a ideia de que ele é o símbolo de um movimento, algo que ele não sente ser merecedor. Descobrimos que ele matou seu próprio irmão e por isso é que foi condenado à morte. É aí que o personagem vai precisar descobrir a sua fortitude interior para se tornar aquilo que este mundo precisa.


O mistério por trás dos labirintos não vai ser exatamente resolvido nestas histórias. Sabemos que os labirintos fazem parte de um tipo de religião neste mundo. E que eles fornecem estranhos poderes àqueles que dominam os seus segredos. Por exemplo, temos o Sombrio, um homem com poderes de manipulação da realidade que advém de algum tipo de criatura que está presa no labirinto sob o seu domínio. Mas, estas construções também são demonstrações de status e de pertencimento a algum lugar, como nos deixa crer o amuleto usado por Riadne. Seu amuleto representa o lugar em que ela nasceu. Só que Adam parece ter se envolvido com eles mais do que imagina. Seu cérebro parece ter sido modificado pelo contato com os labirintos e está o mantendo vivo. Resta saber se eles são construções que possuem algum tipo de consciência ou se existe um poder maior por trás da vinda de Adam e dos poderes mágicos que existem por lá.


Mundo dos Labirintos é misteriosa, é instigante. Vai prender o leitor pela sua absoluta estranheza e um personagem principal reprovável. Imaginem um assassino confesso como um personagem idolatrado como o símbolo máximo de um movimento revolucionário. A narrativa não é tão boa assim e achei algumas soluções usadas pelo autor simples demais. O uso frequente do deus ex machina também me incomoda. A arte é funcional e remete a algo mais clássico dos anos 80. Ela fornece todo o ar de mistério necessário, além das influências arquitetônicas pedidas pelo autor. Mas, as cenas de ação falham em fornecer a compreensão necessária pelo leitor.












Ficha Técnica:


Nome: Mundo dos Labirintos

Autor: Alan Grant

Artista: Arthur Ramsay

Compõe as edições 1 a 4 da primeira temporada da revista Heavy Metal

Editora: Mythos

Tradutores: Érico Assis, Octávio Aragão, Antônio Tadeu e Hélcio de Carvalho

Número de Páginas: 100 cada edição

Ano de Publicação: 2018 a 2019


Link de compra: https://amzn.to/2ULxTuN (vol. 1)




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