Nesta segunda parte, temos alguns ótimos contos. Desde autores consagrados como Roberto de Sousa Causo que nos traz um conto sobre garimpeiros em um asteroide explorados por uma corporação até um domador de nebulosas.
Na segunda parte desta resenha, vamos falar dos seguintes contos:
6 - "Elhya", de Otávio Definski
7 - "O Domador de Nebulosas", de Caliel Alves
8 - "A Aurora no Fim do Universo", de Tassi Viebrantz
9 - "Garimpeiros", de Roberto Causo
10 - "Becky Star e Ronnie na Zona Morta", de Duda Falcão
6 - "Elhya"
Ficha Técnica
Autor: Otávio Definski Avaliação:
Otávio cria uma história bem curiosa a partir de uma proposta simples: Elhya faz parte de um grupo de caçadores de recompensa. Ela é boa no que faz e como recompensa por sua próxima missão (isso ela sendo concluída) um posto como comandante de um grupo de caçadores de elite no planeta para onde ela está indo. Óbvio que a missão não vai ser assim tão fácil quanto ela espera que seja. Uma premissa fácil de entender, mas é nos pequenos detalhes que o autor vai te pegar.
Por exemplo: a personagem é trans. Ela sofre com o preconceito dos seus pares que não entende a distinção entre o gênero em si e se sentir diferente. O autor aborda o tema em poucas linhas, mas dá uma baita profundidade para a personagem. Também ficamos sabendo rapidamente que o planeta Terra foi completamente destruída por nós mesmos. Mas, tudo isso o autor faz de maneira sutil com informações jogadas aqui e ali. Muitas vezes os autores se preocupam em abordar temas em capítulos e mais capítulos sobre algo sem relevância para a narrativa. No gênero conto, a concisão é essencial para que tudo funcione.
O autor não criou um conto brilhante. Mas, ele se destacou para mim pela atenção aos detalhes, pela precisão da escrita. Algo que acaba faltando para alguns autores.
7 - "O Domador de Nebulosas"
Ficha Técnica:
Autor: Caliel Alves Avaliação:
Em O Domador de Nebulosas, temos uma proposta bem ousada: homens que são responsáveis por disparar bombas em nebulosas para ampliar o tempo de existência do universo. Caliel vai explicar isso com mais detalhes no texto, mas achei a proposta bem inovadora e interessante. Ele cria uma dinâmica entre Jack, Bárbara e o capitão que consegue fazer a função do desenvolvimento de personagens. Em determinadas histórias não há a necessidade de empregar um grande número de personagens; o elenco pode ser curto, fazendo com que a narrativa te forneça apenas as possibilidades necessárias para o conto.
Gostei da ideia, da relação entre os personagens, mas não do final. E isso acontece com bastante frequência em alguns contos. A ideia é boa, a execução começa bem, mas acaba derrapando no final de algum jeito. Não sei se o autor ficou preocupado com a quantidade de palavras ou não pensou em como a história terminaria, senti que tudo acontece de uma maneira brusca. O momento final tem o tom de dramaticidade necessário ao ajuste final que o autor queria, mas a forma como este final acontece não dá ao leitor aquela sensação de fechamento.
8 - "A Aurora no Fim do Universo"
Ficha Técnica:
Autora: Tassi Viebrantz Avaliação:
Sempre discutimos o que existe no fim do universo. Todo o tipo de teorias já foram criadas a esse respeito: múltiplos universos, elementos estranhos, vidas em outro sentido do que significa uma vida. Aqui Tassi nos mostra a Aurora da Íris e a Aurora Obscura, duas teorias curiosas sobre o que existe lá. Luz e escuridão. Um personagem se sentindo culpado pela perda de seu amor. Nesse mundo é possível trocar de corpos. Nosso protagonista trocou de corpo com seu amado Giovanni no momento em que seu corpo físico estava morrendo. Agora ele habita o corpo da pessoa que ele mais amava. Todos os dias ele precisa olhar no espelho e olhar o rosto, o sorriso e os olhos de alguém que já se foi. Ele é chamado para investigar algo no laboratório de Giovanni que parece ter a ver com sua morte. E isso vai levá-lo aos confins do tempo e do espaço.
Adorei o tema, a proposta e o tom dramático que a autora fornece à narrativa. Aliás uma ótima narrativa LGBT bem sutil, sem apelações e que singra um caminho tão doce. A escrita dela conseguiu me encantar por toda a narrativa e ela consegue alternar entre momentos mais reflexivos e os diálogos entre os personagens. Gostei também do encadeamento de palavras, permitindo que a gente lesse sem interrupções. O elemento conceitual também é verossímil dentro da proposta física criada pela autora. Pode até ser bizarra, mas ela faz ter sentido na história, o que é fundamental para que esse tipo de narrativa funcione. Para mim, um dos melhores contos do coletânea.
9 - "Garimpeiros"
Ficha Técnica:
Autor: Roberto Causo Avaliação:
Preciso admitir um mea culpa aqui. Já li alguns romances e contos do Causo e ainda não tinha entendido a habilidade do autor. Sabia do quanto ele representava para o meio de ficção científica. Mas, não tinha conseguido simpatizar com os textos dele. Achava-os estranhos, duros, difíceis de digerir. Ainda não tinha conseguido entender a essência do que ele queria dizer na sua escrita. Aonde ele queria chegar. Faltava aquela faísca, aquele insight que me abrisse as portas para as demais leituras. E eu me sentia culpado por isso. Até evitava ler textos do autor porque achava que o problema estava comigo. Mas, pronto. Assunto resolvido. Achei o conto! Consegui entender. Garimpeiros me permitiu entender a escrita do Causo. E até me fiz uma autorreflexão sobre outros textos que já li dele como Selva Brasil que pretendo reler em outro momento.
Temos a história de um grupo de resgate que recebe um ansível vindo de um asteroide de mineração. Mineiros estão sendo explorados por uma empresa inescrupulosa e trabalham sem os equipamentos apropriados. Isso tem causado acidentes constantes e fatais entre eles. A empresa busca manter os fatos na surdina, seja subornando os supervisores, seja sumindo com as provas. A equipe de resgate quer tirar a equipe de mineiros que se revoltou dali antes da chegada dos membros da empresa. O que temos no conto é uma mistura de sabotagem com disputa política em uma narrativa tensa o tempo inteiro. O protagonista precisa lidar com uma situação volátil em que um dos mineiros gravou dados comprometedores, mas algo está errado.
A situação toda lembra o caso dos mineiros presos na mina de carvão no Chile. O quanto disso pode pegar mal para uma empresa e toda a questão de precisar lidar com um grupo que você não sabe se pode confiar. Além disso o protagonista é um oficial em treinamento que precisa confiar em seus instintos. Gostei demais de como o Causo lidou com várias situações o tempo todo, não fazendo o leitor prever sua próxima ação. Para mim, um conto perfeito com um perfeito equilíbrio de boa escrita, personagens tridimensionais e uma narrativa intrigante.
10 - "Becky Star e Ronnie na Zona Morta"
Ficha Técnica:
Autor: Duda Falcão Avaliação:
E cá temos Duda criando mais um personagem para que possamos acompanhar. Dessa vez em um ambiente de space opera. Becky Star é uma exploradora que acaba indo parar em um planeta onde o maquinário de sua nave não funciona corretamente. Ela e Ronnie seguem para explorar o planeta e buscar entender o que tem nele como exploradores.
Esse conto é usado para construir os personagens de Becky Star, de Ronnie e indiretamente do pai de Becky. O que me parece é que Duda está preparando outras histórias da personagem em histórias futuras. É um conto bem simples e direto sobre exploração planetária e aventura, que absorve bem o espírito das histórias pulp. Acho que a história sofreu um pouco por ser uma espécie de apresentação, mas eu gostei da escrita. O Duda tem hoje uma das escritas que mais me agradam dentro da literatura fantástica nacional. Só queria ter visto um pouquinho mais.
Ficha Técnica:
Nome: Multiverso Pulp vol. 2 - Space Opera
Organizado por Duda Falcão
Editora: Avec Editora
Número de Páginas: 151
Ano de Publicação: 2020
Link de compra:
*Material enviado em parceria com a Avec Editora
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