Neste segundo volume temos várias histórias que tem como tema viagens espaciais. Nessa primeira parte temos um taxista maluco levando um humano aos confins do universo e um estranho julgamento em um espaçoporto.
Nesta primeira parte falamos dos seguintes contos:
1 - "Um Exílio na Espiral Infinita", de Mélani Sant'Ana
2 - "O Ser Mais Satisfeito do Espaço Sideral", de Tiago Rech
3 - "Julgamento no Espaçoporto Sarajevo", de Tarcísio Lucas Hernandes Pereira
4 - "A Prisioneira", de Rafael Fontoura
5 - "Verde e Vermelho", de Diego Mendonça
1 - "Um Exílio na Espiral Infinita"
Ficha Técnica:
Autora: Mélani Sant'Ana Avaliação:
Às vezes temos boas ideias só não conseguimos encaixá-las em nossas histórias de uma maneira que faça sentido. Isso se chama coerência. Foi um pouco disso que aconteceu com a narrativa da Mélani. Na narrativa ela nos apresenta a doutora Milene que faz parte de uma tripulação que está seguindo a um estranho planeta que possui uma espécie de distorção temporal. Lá o tempo flutua alterando nossa percepção de tempo: um momento no planeta pode significa minutos, horas ou milênios dependendo do instante em que se sai do planeta. O cientista da nave, através de sua nave, consegue encontrar um período de estabilidade de duas semanas onde pesquisas podem ser realizadas. Mas, o capitão Atnas acaba se tornando um obstáculo para a realização das mesmas, mas Milene acaba fazendo suas próprias pesquisas. Isso vai acabar gerando confusão para ela.
Percebi que a autora tinha algumas boas ideias como a noção da distorção temporal e como isso afetava a estrutura do ser humano e o próprio drama vivido pela protagonista. Mas, em nenhum momento eu consegui me importar com ela. A história acabou soando rasa demais e quando acontece o momento climático de virada, ele não provocou a emoção esperada. Em vários momentos na história também me senti perdido e precisei voltar algumas vezes porque algumas situações me pareceram um pouco estranhas e pouco coerentes com o todo. Não me entendam errada: a narrativa é bem escrita, só que as situações parecem truncadas e fora de sincronia.
2 - "O Ser Mais Satisfeito do Espaço Sideral"
Ficha Técnica:
Autor: Tiago Rech Avaliação:
Mais uma vez o Tiago Rech me entregando uma narrativa curta memorável. Essa não é a primeira vez que eu leio uma história dele e como ele consegue escrever uma narrativa com tanta leveza e entretenimento. É um plot tão simples e bobo, mas que deu tão certo nas mãos certas. Às vezes eu digo a quem me procura que não há problema em escrever uma história que seja clichê, ou um tema que seja simples. Basta que o desenvolvimento seja bem feito.
Na história, o personagem é um alienígena que é uma espécie de taxista espacial conta suas peripécias em seu cotidiano. A história escolhida é de quando ele levou um humano até um ponto desconhecido da galáxia. Tudo aconteceu neste dia: explosões, tiros, insanidades. É uma narrativa bem aventuresca com um tom divertido e leve graças à narrativa em primeira pessoa empregada pelo autor. A história acaba passando bem rápido muito por contra do ritmo frenético com o qual as coisas vão se sucedendo uma após a outra. Não há muito tempo para respirar. A escrita precisa do Tiago também ajuda bastante e ele entende bem do timing cômico sabendo quando ser engraçado e quando ser mais dramático.
3 - "Julgamento no Espaçoporto Sarajevo"
Ficha Técnica:
Autor: Tarcísio Lucas Hernandes Pereira Avaliação:
Usar a ficção científica para extrapolar possibilidades é algo que já é feito há décadas. Autores como Philip K. Dick e Ray Bradbury usaram essa fórmula à exaustão. E sempre rendem boas histórias. É mais ou menos isso o que Tarcísio tenta fazer aqui. Sua escrita é bem corretinha, não deixando nada a desejar, mas também não surpreende. Senti falta de um pouco de ousadia, de testar um algo mais nessa fórmula até porque a temática que ele abordou eu já vi sendo realizada em outras histórias de outras formas até mais criativas.
Temos um homem honrado, experiente e que já participou de inúmeras batalhas que é levado a um conselho ao chegar a um espaçoporto. Ele estranha a ida até o lugar ainda mais tendo sido apreendido o que gera até um certo constrangimento para ele. Parece que ele foi acusado de algo que ele não sabe o que é.
O tema do ser julgado por aquilo que ainda não foi realizado é algo que Philip K. Dick explorou muito bem em Minority Report. Por essa razão o conto de Tarcísio acabou não me chamando a atenção. Quando a gente avalia contos ou aconselha novos autores, tenho por hábito dizer que não há problemas em usar fórmulas já existentes. Desde que você crie algo seu em cima do que já existe. Se eu só repito uma fórmula, por melhor que ela seja, é só uma repaginação. Pode ser até um elemento novo.
4 - "A Prisioneira"
Ficha Técnica:
Autor: Rafael Fontoura Avaliação:
Esse é o primeiro de alguns contos de assalto que temos nessa coletânea. Temos uma mulher que é capturada por conta de seus talentos como técnica em conserto de máquinas. Duke vê a grana chegando ao colocá-la para trabalhar com o material que ele consegue de seus roubos. Ele também lida com apostas em uma espécie de arena de gladiadores. Mas, a esperteza de nossa prisioneira pode ser demais para nosso chefão do crime.
Um conto simples e eficaz sobre uma mulher inteligente enganando um chefão do crime. Eu até gostei da maneira como ele apresenta a dinâmica do Duke e até dos Irmãos Tragédia, aquele típico nome de capanga de bandido. Só achei que o autor deu um belo de um deus ex machina nas mãos da protagonista com ela possuindo as peças perfeitas para resolver seus problemas. A escrita também está bastante adequada, mas novamente não me surpreendeu e nem me deixou irritado. Cumpriu o seu papel para o objetivo que o autor quis. Acho que o autor deveria trabalhar melhor na parte da ambientação que ficou um pouco falha e a percepção nas cenas de ação que parecem um pouco confusas.
5 - "Verde e Vermelho"
Ficha Técnica:
Autor: Diego Mendonça Avaliação:
Uma boa ideia para um conto é criar duas histórias distintas que em algum momento se chocam para criar um clímax emocionante e produzir as cenas finais da narrativa. Parece ser uma fórmula simples, mas não é. Para ela funcionar adequadamente você precisa equilibrar bem os dois arcos narrativos tornando-os igualmente interessantes ao leitor. Tal não foi o que aconteceu aqui. A ideia foi boa, mas a execução nem tanto. Na primeira narrativa temos um grupo de ladrões tentando realizar um assalto a uma espécie de nave contendo grandes figurões. Todos são muito experientes e possuem uma boa sincronia, mas de repente acontece uma explosão. Na segunda narrativa, temos um alienígena em busca de uma gema vermelha que complementa a sua gema verde, dando ao usuário poderes incomensuráveis. Ela parece ter caído nas mãos de pessoas que não merecem seus poderes. Ele está seguindo até lá para retificar esse erro.
O que acontece é que a segunda narrativa acaba sendo mais interessante do que a primeira. Para que a primeira funcionasse bem, ela precisaria de mais espaço para formar os laços que ligam os membros do grupo. Para que fôssemos capazes de sentir empatia pelos personagens. Só que isso não foi possível dadas as restrições do tamanho de um conto. Por outro lado, a mitologia por trás das gemas perseguidas pelo alienígena produzem um tom de tensão e suspense que nos prendem por mais tempo na história. Até o tom da narrativa é diferente: na primeira narrativa o autor emprega mais diálogos; na segunda, mais descrições. Esse desequilíbrio ficou claro no momento em que as histórias se cruzam e o final sofre com essa diferença de tom.
Ficha Técnica:
Nome: Multiverso Pulp vol. 2 - Ópera Espacial
Organizado por Duda Falcão
Editora: Avec Editora
Número de Páginas: 151
Ano de Publicação: 2020
Link de compra:
*Material enviado em parceria com a Avec Editora
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