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Resenha: "Minha Coisa Favorita é Monstro" de Emil Ferris

Karen Reyes é uma menina que adora filmes de terror e desenhar. Vivendo nas ruas tumultuadas de uma Chicago nos anos 1960, ela vai testemunhar um assassinato. A partir de então sua vida vai ser uma montanha russa de emoções.

Sinopse:


Com o tumultuado cenário político da Chicago dos anos 1960 como pano de fundo, Minha coisa favorita é monstro é narrado por Karen Reyes, uma garota de dez anos completamente alucinada por histórias de terror. No seu diário, todo feito em esferográfica, ela se desenha como uma jovem lobismoça e leva o leitor a uma incrível jornada pela iconografia dos filmes B de horror e das revistinhas de monstro.

Quando Karen tenta desvendar o assassinato de sua bela e enigmática vizinha do andar de cima ― Anka Silverberg, uma sobrevivente do Holocausto ― assistimos ao desenrolar de histórias fascinantes de um elenco bizarro e sombrio de personagens: seu irmão Dezê, convocado a servir nas forças armadas e assombrado por um segredo do passado; o marido de Anka, Sam Silverberg, também conhecido como o jazzman “Hotstep”; o mafioso Sr. Gronan; a drag queen Franklin; e Sr. Chugg, o ventríloquo.

Num estilo caleidoscópico e de virtuosismo estonteante, Minha coisa favorita é monstro é uma obra magistral e de originalidade ímpar.




Emil Ferris e Karen Reyes


A autora e artista desta HQ possui uma história muito especial. Emil Ferris atuou como desenhista industrial por muitos anos e a gente já se deparou com muitas de suas ilustrações nas bandejas do McDonald's. A virada na sua carreira começou de uma forma trágica: em 2007, ela foi picada por um mosquito e contraiu uma doença chamada Febre do Nilo. Ficando três semanas em coma, ela foi um dos raros casos desta doença em que a pessoa acaba ficando com paralisia nos membros. O trabalho com a HQ foi parte de sua terapia e a dificuldade dela para desenhar é muito grande até os dias de hoje. Só isso já demonstra o valor deste quadrinho que recebeu elogios até do grande Art Spiegelmann, autor de Maus.


Mas, se não fosse só essa incrível jornada da autora, o quadrinho em si é muito experimental. Ele é completamente feito com caneta Bic e canetinha. O leitor tem aquele estranhamento inicial, mas em pouco tempo a sensação é de incredulidade. É o quanto a Emil conseguiu retirar de instrumentos tão simples. Não só isso: ela abusa dos quadros e ilustrações e, acreditem, tem até mesmo splash pages. Imaginem: folha de caderno, caneta e canetinha. E a autora conseguiu produzir algo absurdo. A concepção veio da própria protagonista que é uma garota pobre que vive em uma Chicago em anos de muita criminalidade, violência e preconceito. O quadrinho seria uma emulação do diário da Karen, com seus pensamentos e reflexões sobre o mundo que a cerca.

"Eu vou achar um monstro, vou deixar ele me morder e trago ele aqui pra morder você e o Dezê e a gente vai viver juntos... Eu prometo."

Ainda no quesito arte é deslumbrante quando a Emil desenha a caneta Bic algumas obras de arte famosas. Tem Seurat, Delacroix, Velasquez e muitos outros. Novamente fiquei com aquela expressão de "é possível fazer isso com uma caneta?". Os cenários atendem aos desejos da artista: ora são super detalhados mostrando vários personagens ou situações na página; ora são estilizados tentando passar um sentimento. Os personagens conseguem também ser muito expressivos e transmiti-los para nós. Pouco a pouco vamos nos acostumando com as características de cada um e passamos a entender quando ele ou ela entra ou sai de cena. Inclusive tem um personagem lá pelo terço final que a gente imagina ser um personagem real, mas logo entendemos que não. Ou seja, a arte serve também para ajudar a movimentar a narrativa.


Uma família e seus obstáculos


Grande parte da narrativa se passa com a família da Karen e sua vivência no cotidiano. Eles moram em uma vizinhança pobre e possuem poucos recursos. Uma vida difícil, mas obrigou a todos serem muito unidos. A relação entre o Dezê e a Karen é muito bonita. Dezê é alguém que também tem uma veia artística e um espírito crítico. As conversas entre os irmãos são muito profundas: seja uma questão sobre a violência, sobre preconceito, sobre a sexualidade. Acompanhamos as relações no prédio onde eles vivem, no bairro e até um pouco da realidade da escola de Karen. Algo que fica claro logo de partida é que Karen se desenha como monstro. Isso reflete o quanto a sua auto-estima é baixa, sendo que ela sofre bullying na escola.


Um dos acontecimentos que afeta a família a longo prazo é a descoberta que a mãe de Karen está em estado terminal. Isso afeta toda a dinâmica da família. Vemos que a revelação é um choque para os dois filhos, mas no começo isto não impacta de forma decisiva os sentimentos de todos. Pouco a pouco isso vai afetando a todos. Os sentimentos de desespero e impotência vão marcando principalmente Dezê que age quase como uma figura paterna para todos. Essa impotência vai marcando os personagens: em Karen isso é mais sutil e a vemos em busca de si mesma em um mundo que não a aceita; já em Dezê esse sentimento é mais primal, e vamos vendo as mudanças em sua forma de agir.

Dezê é um personagem muito, mas muito complexo. E Emil Ferris vai retirando cada uma de suas camadas, como se fosse uma cebola até chegar ao final avassalador. Vamos vendo no início um personagem que é uma espécie de Don Juan e mulherengo. Se envolve com as mulheres sem muito esforço e não se apega a nenhuma delas. Alguns dos casos amorosos são cômicos. A partir de um determinado momento, Karen nos mostra o irmão mais velho. Aquele que ela confia, que apresenta o mundo a ela, que mostra a importância da arte. Essa relação de parceria é importante para ela já que seu irmão é uma pessoa a quem ela pode se mostrar sem inibições. Temos também o Dezê que se envolveu com Anka e essa relação passa por um aspecto carnal e amoroso. A perda de Anka também afeta Dezê, embora isso não fique bem claro para nós. Mais para o final temos o lado obscuro do personagem quando o seu desespero e sua violência transparecem diante de uma situação que ele não sabe como lidar.


Karen em busca de si


Um dos motores narrativos é o gosto da protagonista por filmes de terror. Sempre lembrando que os gostos de Karen refletem bastante a época em que ela vive: a década de 60. Portanto, os filmes se assemelham mais aos pulps do que aos filmes que ficarão famosos nas décadas seguintes. Então ela tem uma visão romantizada de um Drácula que lembra muito Béla Lugosi, ou de um lobisomem que gosta de uivar para a lua e estar com a sua matilha. Chega a ser inocente o fato de ela buscar se transformar em monstro apenas para deixar sua família imortal e viver com eles para sempre. Inocente e bonito. Claro que esse amor pelo terror vai afetar a maneira como ela enxerga o mundo. Algumas pessoas são desenhadas como monstros enquanto outros são pessoas idealizadas, como Anka que parece uma pin-up de cinema.

"[...] Enquanto eu pendurava minha capa de detetive com os outros casacos, lembrei que esperei a Missy dormir. Eu disse: "Você é linda", e aí... Eu acho que era sério, porque era ela dormindo, não acordada..."

Outra descoberta sobre si que a personagem faz é seu amor por mulheres. Ela se descobre apaixonada por Missy, sua colega de escola com quem ela compartilha seus gostos. Mas, ela vai resistindo a isso ao longo da narrativa porque não consegue entender seus próprios sentimentos. Somente quando ela perde o contato com Missy é que ela vai sentindo a perda de uma parte de si mesma. Isso "ativa" a sua percepção até que ela vai aceitar seus sentimentos muito tempo depois. Dezê expressa o seu sentimento de apreensão frente às dificuldades que sua pequena irmã vai passar com o preconceito das pessoas. Estamos falando de uma outra época, com outra mentalidade.

O mistério da morte de Anka vai se revelar depois em uma baita narrativa sobre a origem da personagem. Até fica aqui o meu alerta de gatilho porque envolve sexo, prostituição e pedofilia. A gente vê o que acontecia em uma Berlim prestes a entrar na Segunda Guerra Mundial. Anka sofria com o abandono e desde cedo habitava uma casa de prostituição. Ela teve uma criação difícil, embora sua preceptora fosse uma mulher culta que ensinou muito a ela. Vai ser graças a essa inteligência formada desde cedo que ela vai conseguir se livrar de algumas situações muito difíceis. Os momentos em que ela vai passar com Schultz são tenebrosos e a Emil nem precisa ser tão clara para entendermos o que está acontecendo. Depois vamos ver o que acontece a judeus e judias durante a perseguição dos nazistas.


O leitor ainda não consegue entender o que aconteceu exatamente. Isso porque a narrativa da Emil é bem compassada e progressiva. É aquele tipo de narrativa que você só vai entender muito à frente quando juntar todas as peças. Até mesmo porque a HQ conta com muitos subplots que ajudam a desenvolver todo o círculo de personagens ao redor de Karen. Quando chegarmos por volta da página 300 já estaremos íntimos de todos os personagens. E é aí que a autora apronta alguma. Essa profundidade e precisão narrativa (ela sabe de onde partiu e aonde quer chegar) é brilhante.


Certamente eu estou diante de um dos meus quadrinhos favoritos do ano. Não se deixem afastar pelo preço de capa. É um trabalho primoroso que levou anos para ficar pronto. Até acho o preço justificado por todo o sistema de impressão (que parece fac símile) e o cuidado em manter o máximo possível a arte da Emil. Talvez em outra época não seria possível fazer justiça a esse estilo de vanguarda da artista. O final me deixou maluco porque terminou com uma revelação incrível. Em setembro sai a continuação nos EUA e já quero que a Companhia das Letras traga o quanto antes para nós.


Ficha Técnica:


Nome: Minha Coisa Favorita é Monstro

Autora: Emil Ferrir

Editora: Companhia das Letras

Gênero: Drama/Romance

Tradutor: Érico Assis

Número de Páginas: 416

Ano de Publicação: 2019


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*Material enviado em parceria com a Companhia das Letras





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