Em sua festa de doze anos, nosso personagem esperava um game de última geração com muita morte e sangue. No entanto, a caixa com o símbolo do cavalo marinho não lhe é animador. Aturar uma festa com vários convidados chatos então... Mas, ele terá uma surpresa desagradável.
Sinopse:
Um game, um cavalo marinho, labirintos intermináveis e mundos paralelos. Cuidado com suas escolhas. Elas podem mudar drasticamente o mundo à sua volta.
Como criar uma história sobre uma família disfuncional e pais se separando e colocar temas de mecânica quântica no mesmo caldeirão? Fácil. Usando a arte da prestidigitação. Alguns autores são mestres na arte de enganar leitores. É como aquela brincadeira de adivinhar onde está a bolinha. A pessoa que colhe as apostas coloca três copinhos coloca uma bolinha e pede para você adivinhar onde ela está. Na primeira vez, normalmente você acerta. Talvez você acerte até duas. Mas, dali em diante, pode esquecer. Lucio Manfredi é esse cara. Ele fica te mostrando a bolinha e você fica procurando algum tique para tentar acertar em que copinho ela está.
Mas por que eu fiz todo esse preâmbulo? Simples. Essa não é uma história de ficção científica. Sequer é de terror. Tem elementos de um e de outro. Na verdade o que temos aqui é uma história sobre um menino cuja família é claramente disfuncional. Percebemos isso na sua narração. Feita em primeira pessoa, o personagem é mal educado, ofensivo, abusado e pouco tolerante com as pessoas ao redor. Ele pega o presente que lhe foi dado quase como se fosse um favor. Tudo o que ele quer é passar um tempo sozinho com seus games. Pelo menos é isso o que ele diz. O que dá para tirarmos do não dito? O pai do garoto é um homem ausente de casa, a mãe é uma pessoa que não conseguiu exercer autoridade ou se fazer como uma figura materna compreendida pelo menino.
Ao longo da narrativa a gente vê o quanto o narrador grita por atenção. Ele deseja ter a figura paterna próxima dele. Um amigo. A presença dessa pessoa em sua vida pode abrir portas para outras questões mal resolvidas dele. Como os seus problemas de respeitabilidade e de abuso. Todos decorrem de ausências, de lacunas que precisam ser preenchidas. A escrita do Manfredi é ótima nesse sentido porque ela te faz ir por um sentido, quando na verdade você deveria pensar por outro. Ele balança o cavalo marinho na sua frente e a gente morde a isca quando na verdade o conteúdo é diferente. E isso dá ainda mais valor à narrativa. A construção de personagens é perfeita e combina muito bem com uma série de famílias disfuncionais de classe média que a gente vê nos dias de hoje. É exatamente essa a dinâmica. Nas palavras secas e ofensivas de um moleque descarado, a gente consegue ver um mundo de aparências e falsidades.
Tá... mas e o terror e a ficção científica? Ah... esse você vai ter que ler para descobrir onde está. Porque eles são as bolinhas que você quer encontrar.
Ficha Técnica:
Nome: Hipocampo
Autor: Lúcio Manfredi
Editora: Draco
Número de Páginas: 14
Ano de Publicação: 2013
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