Louis-Francis está recebendo seus familiares para poderem assistir a mais uma Copa do Mundo. Eles estão torcendo pelos bleus e estão decidindo se assistem aos jogos em português ou em francês. Enquanto isso, sua neta Camila precisa de uns conselhos sobre o amor. E é aí que ele volta a 1958, quando encontrou uma pessoa muito especial.
Sinopse:
1958: a Copa do Mundo de Futebol está para começar na Suécia. A seleção francesa conta com duas armas ótimas para conseguir, enfim, um título: Just Fontaine, um jogador excepcional, e Louis-Francis de Marseille, um misto de massagista, conselheiro espiritual e espião de times alheios. O que os franceses não sabem é que Louis-Francis não é exatamente quem (ou melhor, o que) ele diz que é — e quando ele trombar com Maria Severina, a misteriosa cozinheira da seleção brasileira, a vida dos dois mudará de maneira irreversível.
Nesta história curta, Anna Martino nos leva para conhecer a família de Louis-Francis enquanto eles se preparam para assistir a mais uma Copa do Mundo. Como bons descendentes de franceses, eles querem ver os bleus ganharem um título. Entre as discussões comuns do dia-a-dia, Louis-Henry percebe que sua neta Camila tem um dos seus dilemas em relação à sua namorada. É aí que ele compartilha a sua história durante a copa de 58. Voltando a 1958 vemos como um Louis-Henry mais novo, um ser sobrenatural que possui poderes de parar o tempo se torna o massagista de homens fabulosos como Just-Fontaine. Com os seus poderes especiais, ele tenta ajudar os garotos a superarem uma realidade francesa que os oprime. Mas, Louis-Henry vai se deparar com a seleção brasileira e jogadores que marcaram história como Garrincha, Pelé e Vavá. E uma certa senhora que parece ter o dom de enxergá-lo mesmo quando ele está usando suas habilidades.
Um dos pontos altos na escrita da Anna Martino, seja nesse ou em qualquer outra história escrita por ela, é a habilidade que ela possui de ter uma boa noção de contexto e de como este se liga aos seus personagens. Vou destacar aqui o quanto ela pesquisou sobre o contexto de época, mas ela continua realizando ótimos estudos de personagem. Se "congelarmos o tempo", para usar um trocadilho saído da habilidade do protagonista, vamos perceber que a história é sobre Louis-Henry e sua relação com Maria, alguém que o trata por quem ele é, sem preconceitos. Esse é o recheio. Um personagem que possuía uma existência simples e aceitava sua posição que havia se tornado cômoda. Quando surge alguém que mostra a ele o quanto o mundo é vasto, sua percepção e aceitação cai por terra. É como se ele nadasse satisfeito em um lago que ele havia descoberto cada canto dele... até se deparar com o oceano. Tem uma ótima metáfora sobre o quanto a visão do protagonista é limitada, quando Maria menciona a ele que as estrelas em seu país eram diferentes das dele. O protagonista sequer achava isso possível.
A história traz um contexto impecável. Anna Martino realmente pesquisou sobre a época, um pós Segunda Guerra Mundial onde o evento da Copa do Mundo começava a ganhar ares de maior importância. Estamos vendo o acontecimento a partir da perspectiva francesa que teve uma seleção formada principalmente por imigrantes vindos de suas ex-colônias. Just-Fontaine era um argelino com o seu país vivendo todo o processo de descolonização. Vale destacar que os preconceitos vividos por eles ainda ocorrem nos dias de hoje quase pelos mesmos motivos. Jogar a Copa e vencê-la era um tipo de validação para estes garotos. Na contextualização feita pela autora, vemos o quanto os jogos eram diferentes dos atuais, que são quase como um teatro dos sonhos diante da quase várzea da época. Nada de substituições, regras ainda meio esquisitas. Como historiador, só consigo ficar feliz com a preocupação que a autora teve em trazer um registro histórico confiável do período, mesmo ela escrevendo uma fantasia. Os elementos fantásticos em nada interferem nos acontecimentos, sendo que os personagens são seres que vivem nas franjas da História com h maiúsculo. O mundo ainda estava aprendendo a conhecer Garrincha e Pelé, duas lendas do futebol. Naquele momento era apenas o jovem de pernas tortas e o rapazinho franzino que tinha fome de bola.
A maneira como Louis-Henry acaba lentamente se apaixonando por Maria é conduzida de forma sutil pela autora. Resta saber se o que está se desenvolvendo é algo que vai redundar em alguma coisa. Talvez a maior questão aqui é entender se essa paixão se deve a um sentimento legítimo do personagem por ela ou se é mais por que ela demonstrou empatia por ele. Aceitando-o como ele é. As situações descritas na história são extremamente divertidas e Anna escreve com muita leveza. Mesmo tendo alguns problemas que ficam marcados como a proibição da presença de mulheres na concentração dos jogadores, o que tornava Maria alguém que poderia ser expulsa a qualquer momento dali. Ou o fato de os jogadores de ambos os times viverem com muito menos glamour e riqueza que os jogadores de tempos atuais. São homens que tem fome de sucesso, caso contrário retornam aos seus países de origem para viverem vidas complicadas. Tudo isso está presente na narrativa. Gostei demais da história, sendo aquele tipo de aventura que pode ser uma boa pedida para uma leitura de fim de tarde.
Ficha Técnica:
Nome: Futebol. Magia e um punhado de sal
Autora: Anna Martino
Editora: publicada pela Mafagafo
Número de Páginas: não informado
Ano de Publicação: 2020
Avaliação:
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