Fragmentos é uma série de contos curtos envolvendo alguns seres celestiais e suas relações com os humanos e entre eles. Com vários momentos de uma beleza que beira à poesia, Moramise nos apresenta seus personagens que serão recorrentes em suas histórias.

Sinopse:
Fragmentos é o projeto de quadrinhos com narrativas curtas que invocam momentos que constroem os personagens de Monaramis.
Essa revista tem as primeiras histórias de Zagreus, uma gentil entidade com muita aptidão para alquimia, mas pouca noção de humanidade, desenhadas esparsamente em 2017/2018.
Conheci o trabalho de Monaramise através do financiamento coletivo recorrente feito com o Felipe Castilho. Lá a gente via uma singela narrativa sobre um lobo guará que dava apenas um tease sobre o que viria depois. Aquela arte me encantou pela sua beleza que lembrava uma ilustração de conto de fadas. Após procurar mais ilustrações do artista, acabei me deparando com alguns outros de seus trabalhos. Estes envolvem anjos e demônios. E isso combina bastante com a sua arte aliado ao clima de suas histórias.
Bem, não posso falar muito sobre a narrativa de Fragmentos. Isso porque Fragmentos é formado sobre uma série de histórias curtas de uma ou duas páginas mostrando cenas de Zagreus, Sen e outros personagens. As histórias envolvem questões envolvendo a eternidade, o amor. Algumas cenas envolvendo uma relação de amor não percebida pelo parceiro chegam a ser clichê, mas a forma como são apresentas as tornam doces e singelas. Cheguei a me emocionar nas últimas histórias porque a gente fica tentando pensar como seria se fôssemos eternos. É aquele velho dilema de como seres que transcendem a existência humana percebem o tempo, o amor e a mortalidade.

Não tem como não mencionar a arte distinta de Monaramise. Ela tem um estilo meio aquarelado e as cores empregadas refletem o tom da narrativa. Geralmente temos o emprego do laranja, do vermelho e do bege. Essas cores ressaltam a frente da cena, tirando um pouco o foco do fundo. Ou seja, a narrativa se torna mais intimista porque o nosso olhar fica preso ao que acontece aos personagens. Ao mesmo tempo, temos uma preocupação forte com as expressões e o olhar. Não sei porque mas as imagens dos personagens me lembraram esculturas barrocas. São expressões que denotam um profundo amor ou uma intensa melancolia. E essa associação se torna ainda mais intrigante quando pensamos que os desenhos de Monaramise nos mostram seres celestes conversando, amando ou refletindo.
O único problema se relaciona com o roteiro. Como se tratam de várias histórias independentes, o leitor acaba tendo um pouco de dificuldade para compreender como elas se ligam. Se se ligam. Precisei ler algumas vezes alguns dos contos para entender qual era a mensagem que estava sendo passada. É também preciso parar um pouco e deixar que o tema apresentado possa se fixar na sua mente para que ele surta efeito. Para quem deseja uma leitura linear e imediata, talvez essa não seja a sua pedida. Eu vou sempre recomendar muito porque a arte é linda. Mas, realmente é preciso pensar em como transformar a história desses personagens em algo coeso. Aliás, não sei nem se é esse o objetivo do artista, porque ele pode estar usando o design de personagens apenas para passar mensagens ou situações curtas. Também é algo totalmente possível e interessante. Se eu fosse comparar muito a grosso modo, seriam como tirinhas, mas muito mais elaboradas.
Fragmentos pode ser uma boa porta de entrada para aquilo que Moramise é capaz de entregar. Uma arte bela, personagens que são, no mínimo, intrigantes (e que eu gostaria de conhecer mais) e uma forma bem diferente de apresentar essa relação entre seres transcendentais e seres humanos. Aproveitem e conheçam mais do trabalho do artista porque uma coisa remete automaticamente à outra.

Ficha Técnica:
Nome: Fragmentos
Autor: Monaramise
Editora: Auto-publicado
Número de Páginas: 24
Ano de Publicação: 2019
Avaliação:

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