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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Dharma" de Carolina Alves Magaldi

Jade se encontra em um grupo cujo objetivo é deter os desequilíbrios energéticos do planeta. Sua missão é vital para os destinos das pessoas. Mas, ela precisa superar suas inseguranças e dúvidas e se tornar a líder necessária para que seu grupo prospere.


Sinopse:


Tudo que vai, volta. No fluxo de energia que regula a vida, o karma deixa ondas de causas e consequências. Cabe aos catalistas, jovens treinados na Dharma, garantir que essa energia continue fluindo. Tendo herdado um desafio monumental das consequências do Grande Desequilíbrio, Jade vai precisar aprender a liderar sua própria célula, tal como Bit, em uma missão que irá mudar a vida de todos.






A ideia de um equilíbrio no mundo e de que somos afetados por energias negativas que podem causar desastres é um tema abordado por diversas religiões e formas de pensamento. No Oriente, visualizar o mundo como um caldeirão destas energias é o que torna suas filosofias tão instigantes para nós. Diante de um mundo que caminha para o caos como será possível retornar a um suposto equilíbrio? Em sua narrativa, Carolina Alves Magaldi traz uma protagonista lutando contra instintos negativos e de dúvida enquanto busca forças para entender questões tão simples quanto a insegurança e a dúvida. Junto de seus companheiros, ela buscará a união para deter aquilo que só pode ser sentido.


A Dharma é uma organização antiga que luta contra o desequilíbrio do mundo. Seus membros, os catalistas, são sensitivos capazes de perceber as mudanças de ondas e ritmos no universo. Cabe aos catalistas unir forças para deter as ameaças que se espalham pelo mundo, contendo miasmas entre outras expansões nocivas de energia. Jade é uma catalista talentosa que rapidamente subiu nos rankings de sua organização e agora lidera uma equipe de mais duas pessoas que servem como discípulos e apoio para ela. Uma incumbência que a deixa preocupada já que ela não imagina a si mesma como uma líder. Seu passado então é eivado de mistérios e sua mestra Penélope é alguém que fala com ela a base de enigmas, algo que a deixa frustrada em algumas ocasiões. Bit é a única pessoa com a qual ela realmente consegue conversar e a entende no sentido em que ela precisa. À medida em que os eventos estranhos começam a se multiplicar, Jade vai precisar encontrar forças em seu interior para superar suas dúvidas e encarar de frente o que se aproxima.


O tema trazido por Carolina é bastante instigante. A filosofia hindu traz uma série de questões que se associam ao que está em nossos interiores. A busca pela paz interna e pela capacidade de seguir em frente é fonte de inúmeros trabalhos de motivação e de valorização da autoestima. Gostei que a autora trouxe um tema bastante diferente enquanto inseriu algumas camadas de fantasia no meio para dar um recheio inusitado. Se eu pudesse colocar o romance em alguma prateleira (e não gosto muito de rotular livros), poria Dharma em uma ficção especulativa. Apesar dos seus elementos do fantástico, não é bem isso que vai fazer a trama girar. A autora usa a filosofia e a fantasia para contar a história de uma jovem que precisa lidar com seus problemas internos e buscar a força dentro de si para alcançar o equilíbrio. Ou seja, o aspecto maravilhoso/fantástico não é o objetivo em si, mas um meio para falar do objetivo.


A narrativa tem o tamanho de uma novella, mas consegue ser um material razoável e que dará boas horas de leitura. A edição está agradável aos olhos, e a capa é bastante condizente com a proposta do livro. O que ele pretende trazer. Os capítulos são de tamanho médio e se o leitor quiser ler em sequência é possível fazer uma leitura bem rápido. Embora eu não recomende isso por motivos que destaco a seguir. A edição está bacana e detectei bem poucos problemas de revisão. Eles estão lá, mas não chegaram a me incomodar muito. Dentro da média de todo e qualquer livro. No que diz respeito ao tamanho do livro em proporção à narrativa, achei de bom tamanho e a autora conseguiu entregar o que ela gostaria na obra. Aliás, é bem fechadinha, deixando bem pouca margem para uma continuação. Acho até melhor assim porque dá uma sensação de um ciclo encerrado. É possível escrever outros romances nesse universo que a autora criou, mas a história deste grupo específico de personagens ficou bem fechada.


Somos colocados no meio de um momento importante para a protagonista, onde ela é apresentada ao seu novo grupo onde ela atuará como uma líder/supervisora. Normalmente eu diria que acho positivo quando o autor deixa que o leitor faça as deduções e junte as informações por si só. Como se o leitor fizesse parte da construção da narrativa ao lado do autor. Só que em algum momento da história, o autor precisa fornecer os elementos para que o leitor ligue os pontos. Caso contrário isso se torna algo frustrante. Esse aspecto da narrativa me incomodou um pouco porque em vários momentos me encontrava perdido na história. Não entendia aonde a autora queria me levar, ou qual era o objetivo do que estava acontecendo a aqueles personagens. Em um determinado momento, decidi apenas deixar ser guiado. Quando passei da metade da narrativa é que as coisas ficaram mais claras para mim e mesmo assim ainda tive dúvidas aqui ou ali. Vale pontuar que professores como o Luiz Antônio de Assis Brasil apontam que um autor precisa destacar mais ou menos a rota que pretende seguir até uns 30 a 40% do tamanho de sua história. Caso contrário isso provoca um grau de frustração no leitor porque ele se sente em uma estranha viagem onde ele não sabe para onde está indo. É bom dar um grau de suspense e de incerteza, mas é preciso equilibrar mesmo que seja com uma falsa sensação de segurança (digo falsa porque um autor pode empregar uma virada narrativa para mudar o destino final de sua história).


Nossa protagonista é o foco central da história. Vamos acompanhar ao lado dela o seu crescimento como pessoa e de que maneira ela vai chegar à sua forma final. A autora consegue fazer bem a passagem do ponto A para o ponto B, onde A é o começo da jornada e B é a transformação em uma nova pessoa após passar por vários desafios. Todos eles estão relacionados às suas incertezas e inseguranças aos quais ela vai precisar buscar as respostas sozinha. Penélope, mesmo com todos os seus defeitos que veremos na segunda metade da história, é o protótipo do sensei oriental, que apenas mostra o caminho para seu pupilo através de frases incompletas, enigmas profundos ou mistérios que só serão compreendidos no momento certo. Pelo fato da narrativa ser pequena, a autora dedicou mais tempo à sua protagonista embora temos alguns pequenos arcos de evolução de personagens secundários como Bit, Takeshi ou a própria Penélope. Contudo, preciso apontar que o foco mesmo vai ficar em Jade e, para mim, isso deu uma profundidade menor ao que a autora quis trazer. Teria sido possível abordar outros assuntos para estes personagens e dar uma riqueza maior ao resultado final. Quando começamos a analisar as possibilidades e o quanto algumas informações parecem lacunares, isso se torna mais e mais evidente.



A narrativa segue um ritmo bastante uniforme o que me preocupou um pouco. Em escrita criativa, costumamos dizer que o caminhar de uma história é como as batidas do coração. Sempre com altos e baixos, intercalando tranquilidade, equilibrio, tensão e desequilíbrio. Quando esse ritmo é como uma linha horizontal ela até pode servir a uma narrativa mais tranquila, mas retira o aspecto climático do todo. E a gente até tem alguns momentos mais tensos, um lá pela metade e outro mais ao final. Mas, não há, para o leitor, uma sensação de perigo no que está acontecendo. O clímax é um momento calmo e quase contemplativo dentro da proposta. Sei que a linha pensada pela autora é mais a de uma discussão sobre o nosso papel no mundo, mas é preciso tomar cuidado para que o que ela deseja apresentar na narrativa não se torne algo dissertativo ao invés de narrativo. Afinal, a obra é uma ficção e não uma apresentação.


Dharma é uma boa obra especulativa e apresenta alguns conceitos que me agradaram bastante. E é aquele tipo de obra que usa uma série de recursos que não são habituais em uma obra literária de gênero para discutir temas simples como insegurança, dúvida e autoestima. Sinto que a autora poderia ter explorado melhor os personagens, o que teria feito a obra crescer bastante em qualidade final e diversificar os temas abordados e dado uma sensação maior de perigo para deixar o leitor tenso e preocupado com os personagens aos quais ele desenvolveu algum vinculo.












Ficha Técnica:


Nome: Dharma

Autora: Carolina Alves Magaldi

Editora: Paratexto

Número de Páginas: 190

Ano de Publicação: 2023


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*Material recebido em parceria com o autor

















1 Comment


Carlos Gucci
Carlos Gucci
Sep 24

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