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Resenha: "Che" de Hector Oesterheld, Alberto Breccia e Enrique Breccia

Numa das obras mais seminais dos quadrinhos latino-americanos, Oesterheld nos mostra a trajetória de um homem que abraçou uma causa maior do que ele mesmo e se tornou uma lenda. Uma vida de sacrifícios, de violência e de abnegação na poderosa pena de um poeta dos quadrinhos.


Sinopse:


Este livro é uma lenda. Publicada na Argentina em 1968, a primeira biografia em quadrinhos do revolucionário Che Guevara vende 60 mil exemplares em poucas semanas e logo desperta a atenção dos militares que se sucedem no comando do país. Em 1973, Che é proibido. As cópias restantes são destruídas e as pranchas originais, queimadas. Os autores, três mestres dos quadrinhos mundiais, acabam na mira dos reacionários. Ameaças sem consequências até que, em 1977, o nome do roteirista Héctor Oesterheld, devido ao seu comprometimento político, acaba na longa e sangrenta lista de desaparecidos da ditadura argentina. O livro se torna, assim, um verdadeiro objeto de culto – amaldiçoado, precioso e inalcançável – até reaparecer na Espanha, 20 anos depois. Hoje, Che retorna em uma edição que injeta sangue novo na veia revolucionária desta obra: uma joia em que os diários de Guevara e as palavras de Oesterheld se fundem à arte dos Breccia e ecoam como um pungente grito de guerra. A edição tem acabamento de luxo, com formato grande, capa dura com verniz localizado, 96 páginas em preto e branco, impressas em papel offset de alta gramatura, além de um marcador de páginas exclusivo. O livro conta ainda com uma apresentação exclusiva assinada por Guilherme Boulos, professor, coordenador do MTST e da Frente Povo Sem Medo.





Mais do que como crítico, como professor de História, sei o quanto Ernesto Che Guevara pode ser uma figura que divide opiniões. Mártir, guerrilheiro, idealista, assassino, revolucionário. Um homem que acende nossas paixões, seja amando-o ou odiando-o. Já li algumas matérias sobre o personagem, li duas biografias e artigos sobre o seu papel na Revolução Cubana. Talvez poucas delas tenham conseguido captar o que Oesterheld conseguiu em sua HQ. Che continua vivo e ele deve ser debatido porque ele deixou de ser um homem para se tornar uma ideia. E é isso o que tanto apavora aqueles que oprimem o povo. Independente do que o homem Che possa ter feito em sua vida, e isso sim podemos discutir, argumentar e criticar, mas o seu legado é um legado de luta por direitos, de se levantar contra a opressão. Nessa HQ, o autor vai narrando o quanto o homem progressivamente vai deixando para trás a sua vida e dedicando-se a uma luta que ele sabe ser perdida, mas julga necessária. Oesterheld conclama a todos os leitores que se dispam de seus medos e preconceitos e se tornem agentes da luta contra os poderosos. Afinal, o próprio Oesterheld foi uma vítima dos mesmos pelos exatos mesmos motivos. A pergunta é: terá Oesterheld também sido inspirado pela vida de um homem que deixou de ser um homem para ser uma ideia?


Antes de passar para o roteiro deste que é um dos trabalhos mais brilhantes do quadrinista argentino, não podemos deixar de fora os dois artistas que estão nessa HQ, que não deixam também de serem brilhantes: Alberto e Enrique Breccia. Mais de 80% da HQ é desenhada por Breccia que está no fino de sua arte e a parte final da vida de Che, na Bolívia, fica a cargo de seu filho Enrique. Se o roteiro merece todos os elogios, a arte de Alberto (vou chamá-lo de Alberto com todo o respeito para diferenciá-lo de seu filho, já que ficaria estranho e confuso chamar ambos de Breccia) encanta com o seu domínio absoluto do preto e branco. Talvez seja algo até poético que Alberto domine por completo nessa HQ os elementos de luz e sombras. Em alguns momentos o branco domina todo o quadro, com sutis silhuetas nos mostrando os personagens. Alberto emprega grandes quadros, ora horizontais, ora verticais onde as cenas ganham poder. É maravilhoso ver a imagem de dois guerrilheiros cubanos com Che ao fundo segurando seus longos rifles em plena Sierra Maestra. As sombras das folhas e da relva se confundem com as silhuetas dos homens de armas construindo uma imagem quase abstrata. A típica boina de Che resplandece como algo saído de alguma lenda latina nos mostrando a presença daquele que viria a ser um importante comandante. Em determinados momentos as cenas parecem sujas e desenhadas a carvão; a crueza da vida de pessoas sob o jugo da opressão.


Poderia ficar horas falando da arte de Alberto, mas precisamos também falar de Enrique, seu filho que demonstra já aqui um enorme potencial como desenhista em seu primeiro trabalho. Esse Enrique tem traços daquele Enrique de trabalhos maiores como Alvar Mayor ao lado de seu companheiro Carlos Trillho ou de El Suenero, É aquela arte que passeia pelo sólido ou pelo surrealista na mesma toada. Algumas de suas cenas são macabras como os soldados gargalhando após a captura de Che na Bolívia. Seus rostos achatados e deformados são como uma chacota à luta revolucionária. A sequência de tiros em Yuro chega a ser poética em sua violência: o preto das sombras da selva se confunde com o sangue que espirra dos corpos de Che e de seus companheiros. Se a arte de Alberto brinca com presenças/ausências, a de Enrique é uma moldagem das sombras do cenário.


Antes de iniciarem a história sugiro lerem os dois prefácios escritor por Guilherme Boulos, para a edição brasileira, e a de Enrique Breccia, presente na original. Boulos vai citar a importância da luta e da carreira de Che para a recomposição de forças na América Latina. A necessidade de se levantar diante de uma desigualdade social que cresce ano após ano. Che convivia com a fome, com a miséria. Ele visitou os cantões mais explorados do hemisfério sul como a Guatemala, o Equador, a Venezuela. Vamos colocar isso em perspectiva sobre como era isso no começo do século XX quando nações como essas, assim como Cuba, eram consideradas "repúblicas de bananas". Tudo o que importava era que grandes empresas como a United Fruit Company conseguissem o seu lucro todos os anos com mão-de-obra barata, sem investir no país e mantendo a população na mais absoluta pobreza. Seus administradores viviam vidas abastadas em mansões semelhantes a grandes senhores de engenho em que seus funcionários eram quase escravos. A maior parte da população era analfabeta e não havia a menor perspectiva de ascensão social. Boulos nos traz a imagem de um Che que está presente no coração de cada um daqueles que lutam por dias melhores, que alimentam a esperança de justiça social, de educação para todos. Algo que Oesterheld traz nas linhas de sua HQ através de um roteiro que apresenta um homem que parte em uma missão pela América Latina. Alguém que deixa uma vida como médico que poderia ter sido pacata e sem perigos e troca por um fuzil e um conjunto de ideias.


Se comentei sobre o prefácio de Boulos, por que não falar do escrito por um dos artistas desta HQ, Enrique Breccia? Em seu texto ele fala brevemente de como foi a recepção deste trabalho na Argentina. Ele desmistifica uma ideia que havia se tornado comum de que Oesterheld teria sido perseguido pela ditadura argentina por ter escrito histórias como O Eternauta e Che. Para Enrique, nada disso. Assim como o personagem que ele escreve, Oesterheld era um homem que não poderia assistir calado aquilo que acontecia a seu povo. Assim como Che, ele parte para as linhas de frente, para combater militares que perderam a razão e passaram a atacar o povo ao qual eles deveriam servir. Oesterheld foi morto não porque ele escreveu quadrinhos maravilhosos e sensíveis que versavam sobre justiça social, mas porque ele se colocou como uma voz ativa e direta na luta pela democracia. Essa verve da justiça social está espalhada por toda a HQ onde o autor nos mostra a lama e o sangue por trás da luta guerrilheira. Como foi em Cuba quando os revolucionários conseguiram derrotar os yankees na baía dos Porcos, mas uma vitória que veio acompanhada de um bloqueio continental que dura até os dias de hoje e deixa a ilha em uma situação de carestia. E que mesmo assim se tornou referência em saúde, educação... os herdeiros de Che e Fidel nos mostram que com sangue, suor e lágrimas é possível brilhar na tarde mais escura.

O roteiro de Oesterheld é carregado de poesia. De um lirismo belo e sujo que não teme passar do ponto quando precisa ou ser apaixonado quando a cena requer. As frases são melodiosas e muitas vezes são apenas descrições de sensações. Nem sempre são orações completas, mas percepções do que acontece ao redor ou dos temores dos personagens presentes em cena. Oesteheld brinca com a voz narrativa, ora parecendo ser o próprio Che que nos narra a história, ora parecendo que uma testemunha nos relata os principais momentos de sua vida. Outros momentos, os recordatórios e os balões de diálogo são completamente desnecessários, e o roteirista sai de cena e abre as cortinas para que pai e filho Breccia possam brilhar em cena. Pode ser um momento fugaz ou diversas páginas em que a emoção transborda dos quadros. Podem ser quadros que nos mostram o horror de uma luta desesperada em que o leitor vira o rosto triste ou uma cena melancólica como a de Che refletindo que precisa deixar a família para seguir sua luta em outros lugares.


Aproveitando esse gancho da última frase, Oesterheld humaniza a figura de Che. Ele é um rapaz vindo da Argentina que poderia ter feito diversas escolhas diferentes e ter seguido outros rumos em sua vida. Um homem que foi escravo de sua luta, precisando fazer sacrifícios que para nós seriam impossíveis de serem realizados. Suas escolhas moldaram sua vida. Che era um homem comum, e como tal acertou e errou. No fundo o que Oesterheld queria nos passar era essa visão mais pés no chão sobre a vida do guerrilheiro. Na guerra, sujamos nossas mãos. A luta na selva transformou o outrora médico em um comandante que inspirava milhões. Che foi, é e continuará sendo julgado por suas ações durante os anos de guerrilha, mas isso não tira de perspectiva a essência da mensagem que ele queria deixar a todos aqueles que sofrem com injustiças por todo o mundo. Assim como Karl Marx conclamava em seu icônico Manifesto Comunista, "Trabalhadores do mundo, uni-vos." Somente quando o povo se une é que as mudanças podem ser realizadas. Oesterheld nos mostra um homem destemido, que percebia a gravidade de suas ações, mas entendia que alguma coisa precisava ser feita para que a liberdade pudesse ser realmente alcançada.


É nesses tempos sombrios quando os homens de negócios, os empresários inescrupulosos, os militares autoritários e os homens cruéis desejam obter seus quinhões, é que as palavras de luta social e de defesa da democracia de Che devem ganhar mais espaço. Se um autoritarismo travestido de conservadorismo não estivesse por aí seja no passado ou nos dias de hoje, não haveria a necessidade de homens como ele. A guerrilha só se torna necessária quando homens de bem passam a vender os seus companheiros por uma bolacha. Como a senhora que vende informações de Che na Sierra Maestra por um pouco de dinheiro para colocar à mesa. Quando corações sombrios se espelham na exploração e na extorsão dos ingênuos e inocentes. Essa é uma obra que precisa ser lida e relida diversas vezes para que sua mensagem seja concretada em nossos corações. E viva Che e Oesterheld hoje e sempre!



Ficha Técnica:


Nome: Che

Autor: Hector Oesterheld

Artistas: Alberto Breccia e Enrique Breccia

Editora: Comix Zone

Gênero: Biografia

Tradutora: Jana Bianchi

Número de Páginas: 96

Ano de Publicação: 2021


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